Disco: “Digital Lows”, Cities Aviv

/ Por: Cleber Facchi 20/09/2011

Cities Aviv
Hip-Hop/Experimental/Rap
http://www.myspace.com/citiesaviv

Por: Gabriel Picanço

Por mais controversa que seja a atividade de rotular artistas, às vezes, tal tarefa é valida para posicioná-los em uma linha do tempo e dar a devida importância aos nomes que ficaram perdidos. Vamos considerar que existiram, durante a história da música, diversas funções nas “linhas de produção” que construíram os diferentes estilos: Os criadores seminais, responsáveis pela gênese, são cultuados por quem entende, mas nem sempre são os mais lembrados; Os lapidadores das fórmulas estéticas elevaram ao máximo a proposta de cada vertente, e de quebra fizeram algum sucesso; Os contestadores revolucionários subvertem a ordem, propõem o novo, criando algo diferente ao fundir elementos e referências.

Ainda há os aproveitadores, usurpadores e figurões que são responsáveis por episódios tristes que não merecem ser lembrados ou citados. Já Cities Aviv, projeto do jovem rapper Gavin Mayes de Memphis, Tennessee, pertence à nobre classe dos experimentadores. Um grupo largo e importante de “nerds” que testam limites e possibilidades ao máximo, mas dificilmente tem grande reconhecimento. Não que a música desses artistas seja difícil, apenas pede de quem ouve um pouco de paciência e compreensão da proposta.

Em seu primeiro álbum, Digital Lows, Cities Aviv é muito bem sucedido na sua investida em oposição aos clichês e lugares-comuns que dominam o hip-hop norte-americano. É claro que o rapper não está sozinho. De certo modo, Tyler, The Creator e sua trupe Odd Future, com as temáticas controversas nas letras e estilo de produção novo, também desconstroem o estilo em busca de algo novo.

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Assim como fizeram MF DOOM e Madlib no clássico absoluto do hip-hop underground Madvillain, de 2004, Digital Lows é repleto de samples com tratamentos não-usuais e batidas ainda menos comuns. Por exemplo, quando se acha que depois de U Can’t Touch This, de MC Hammer e Kingdom Come, do Jay-Z não dava para se fazer mais nada com o hit Super Freak, de Rick James, a faixa Tongue Kisser prova que, sim, sempre há espaço para subverter mais um pouquinho.

Outro ótimo trabalho de reaproveitamento aparece em Die Young, que ressuscita e devolve certa jovialidade à People Are People, do Depache Mode, com seus sintetizadores ruidosos vindos de algum lugar do passado. Mas o grande destaque do álbum é a curiosa versão que o artista faz de Float On, do Modest Mouse. Em Digital Lows, Gavin Mayes pega emprestado a melodia, o nome e o refrão da canção alegre do grupo de indie rock e a transforma em uma dolorosa e sublime faixa. Fica difícil acreditar que não seja algo original e mais difícil ainda dizer qual é a melhor.

Nas músicas, Cities Aviv opta por falar de temas mais ocultos e pessoais. As letras tratam de assuntos como “a voz em sua cabeça o quando você não consegue dormir”, na  faixa com o sugestivo nome de A Beautiful Hell. O tinhoso também está presente em Doom x Gloom e Sixsixsixes. Por mais que isso possa parecer muito perturbador (e ser, em alguns momentos), não se trata de um álbum ocultista, fique tranquilo. O que fala mais alto no trabalho é o fato de todas as músicas serem agradáveis e com novidades de qualidade. Digital Lows é um registro de um jovem e talentoso experimentador, e merece ser ouvido.

 

Digital Lows (2011, Fat Sandwich)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Clams Casino, Shabazz Palaces e Death Grips
Ouça: Die Young e Float On

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.