Disco: “Diluvia”, Freelance Whales

/ Por: Cleber Facchi 31/10/2012

Freelance Whales
Indie Pop/Folk/Indie
http://www.freelancewhales.com/stream/

Por: Cleber Facchi

O que surgiria de um impacto almofadado entre o Belle and Sebastian do disco If You’re Feeling Sinister (1996) e Bon Iver do álbum apresentado no último ano? Acrescente um pacote extra de açúcar, misture bem e você tem em mãos Diluvia (2012, Mom + Pop/Frenchkiss), mais novo álbum do quinteto nova-iorquino Freelance Whales. Sequência delicada e menos acústica das bases firmadas há dois anos dentro do álbum Weathervanes, com o novo disco a banda formada por Doris Cellar, Chuck Criss, Judah Dadone, Jacob Hyman e Kevin Read vai em busca de um tratado de encaminhamentos sonoros distintos, abastecendo o trabalho com uma sonoridade que mesmo opositiva, mantém filme o propósito doce e a aura sutil que ilumina os trabalhos do grupo.

Espécie de carregamento involuntário de trilhas sonoras pegajosas para a próxima temporada de séries norte-americanas, cada um dos 11 temas distribuídos ao longo do trabalho parecem prontos para arrastar o ouvinte em um dilúvio (como bem avisa o título) de sensações harmoniosas e xilofones. Menos tocado pelo clima brando das manhãs, proposta básica e deliciosamente preguiçosa que regia os conceitos do disco passado, com o novo álbum o quinteto de Queens, Nova York parte em busca do novo sem abandonar os acertos do passado, valorizando o uso dos vocais – pense em uma extensão da faixa Generator First Floor – ao mesmo tempo em que um fundamental elemento toma conta de grande parte das faixas do trabalho: os sintetizadores.

Atmosféricos, dançantes, doces ou amargurados, os teclados decidem quase todos os rumos assumidos no decorrer do novo disco, que inevitavelmente se apega a preceitos muito similares aos produzidos por Justin Vernon no decorrer do último álbum de sua banda, o Bon Iver. Enquanto no decorrer do debut o banjo pontual e a soma de referências acústicas pavimentavam os rumos a serem estabelecidos pelo álbum, com o novo disco as harmonias sintetizadas assumem essa posição. Melhor exemplo disso está na faixa de abertura, Aeolus, uma canção que inicia em meio ao tom climático dos teclados para só depois despejar todo o arsenal de instrumentos que acompanham o álbum.

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Embora mantenha do princípio ao fim a construção de um registro de apostas brandas e proporções sempre condensadas, o uso coeso dos sintetizadores lentamente favorece que uma variedade de novos rumos sejam definidos no decorrer do álbum. Enquanto Dig Into Waves puxa o trabalho dos nova-iorquinos de maneira inevitável para o que promove o Arcade Fire ao final do álbum The Suburbs, Spitting Image arrasta a banda para um cenário inimaginável perto do que tingia as canções do grupo há dois anos. É como se a banda desembocasse no mesmo arco-íris de sons delicados que definem os rumos da produção sueca, lembrando um encontro festivo entre Robyn e I’m From Barcelona.

Já na segunda parte do trabalho, e muito pela força dos vocais, Diluvia aproxima a banda de uma série de outros projetos firmados em solo norte-americanos. Se Winter Seeds puxa o quinteto para o mesmo indie rock sintetizado que encontramos no decorrer de Codes and Keys (2011), último disco do Death Cab For Cuties, a faixa seguinte The Nothing traz o grupo para um ponto de maior distinção, incorporando relação ao trabalho do The Shins. Mesmo os sintetizadores não conseguem afastar a íntima relação com o clima orgânico do trabalho passado, que tem em DNA Bank (com quase oito minutos de duração) sua melhor representante.

Construído com perceptível cuidado – resultado claro logo na abertura do disco -, Diluvia é um trabalho que tinha tudo para desaguar em um oceano de redundâncias se não fosse a capacidade da banda em revelar todo um diversificado catálogo de nuances e percursos sonoros que se expandem faixa após faixa. Impressionante até a última música, comicamente intitulada de Emergence Exit, o disco assim como o trabalho que o precede está longe de se transformar em clássico, formalizar seguidores ou quebrar qualquer paradigma musical, pelo contrário, rompendo com a proposta forte do título o álbum parece um caminho fácil e seguro para emanações sutis que devem apenas acolher o espectador.

Diluvia (2012, Mom+Pop/Frenchkiss)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Local Natives, Belle and Sebastian e Bon Iver
Ouça: Spitting Image, Locked Out e Dig Into Waves

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.