Disco: “Dive”, Tycho

/ Por: Cleber Facchi 05/10/2011

Tycho
Electronic/IDM/Ambient
http://tychomusic.com/

 

Por: Cleber Facchi

Scott Hansen é o que bem poderia ser caracterizado como um “artista multimídia”. Como se não bastasse ao californiano de São Francisco assumir individualmente a produção de uma pequena grife de roupas (a ISO50), se revezar no desenvolvimento de uma série de projetos gráficos para campanhas publicitárias ou mesmo cartazes de shows e ainda ser fotógrafo nas horas vagas, há um bom tempo Hansen vem dando formas a um projeto de música eletrônica extremamente interessante. Sob o nome de Tycho, o também produtor lança agora sua primeira aventura musical, se cobrindo com uma densa camada de sons sintetizados e projeções instrumentais que beiram o etéreo.

Discípulo da dupla Mike Sandison e Marcus Eoin (do Boards Of Canada), além de toda a profusão de artistas e produtores que em meados dos anos 90 deram formas ao que posteriormente acabou classificado como IDM, Hansen ocupa grande parte de Dive (2011, Independente) seu primeiro grande álbum com emanações instrumentais brandas e elementos sonoros posicionados de maneira sempre natural e suavizada. Funcionando como uma espécie de passeio musical pelo céu em um final de tarde, o disco vai lentamente se derretendo nos ouvidos, com o californiano mantendo um continuo controle, evitando a proliferação de qualquer música que escape dos moldes delicados do trabalho.

Correndo o forte risco de ser caracterizado como um disco de Chillwave – algo que se explica tanto pela capa levemente ensolarada do registro, bem como pela tonalidade hipnagógica que se realça através das composições -, Dive passeia por uma vertente totalmente contrária daquela que explodiu em solo norte-americano nos últimos dois anos. Muito embora as paisagens sonoras ressaltadas até ecoem doses de um Neon Indian menos lo-fi, a busca aqui é outra, com Hansen concentrando seus esforços na promoção de um som estritamente ambiental e delicadamente ponderado, trilhando uma sonoridade muito próxima do que se optou ao final dos anos 90 através de trabalhos focados nas experiências do Downtempo e em toques de Chillout.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=tYIlKkOSW2s?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=RENmgV2q02U?rol=0]

Dive, diferente de outros projetos do gênero, consegue realçar um tipo de sonoridade não introdutória, como se inexplicavelmente você já estivesse inserido dentro do álbum, como se as pequenas ondas instrumentais ressaltadas através do disco fossem lentamente se apoderando do ouvinte sem que ele pudesse perceber. Tanto as batidas – sempre delimitadas de forma pacata – quanto as texturas instrumentais – flertando em alguns momentos com a década de 1980 – vão se apresentando em pequenas doses, cercando o ouvinte lentamente até que ele esteja totalmente imerso dentro da musicalidade exposta pelo trabalho.

Basicamente o álbum se fragmenta em dois eixos, composições que mesmo delimitadas dentro de uma sonoridade bastante específica conseguem agregar um jogo de particularidades que acabam as diferenciando. De um lado do trabalho estão situadas músicas estritamente sintéticas, carregadas pelo uso de sintetizadores presos em um looping confortável, além de batidas desenvolvidas de maneira deliciosamente descompromissadas. Surgem assim pérolas como Ascension e Adrift, faixas carregadas de nostalgia e uma complexidade puramente atmosférica, músicas que expõem a face mais eletrônica do trabalho, sem que para isso precisem abandonar seu estágio letárgico.

Do outro lado do disco estão composições desenvolvidas de maneira mais orgânica, com Tycho se valendo do constante uso de samples acústicos, elementos que vão lentamente se aconchegando dentro das faixas enquanto uma fina camada de ruídos vai preenchendo as composições até seus últimos segundos. Embora próximas, as duas vertentes que dão formas ao trabalho mantém de maneira visível sua distinção, complementando assim o registro em sua ampla constituição. Um disco que automaticamente desliga o ouvinte da “vida real” e recria uma realidade nova e própria.

 

Dive (2011, Independente)

 

Nota: 8.1
Para quem gosta de: Boards Of Canada, Four Tet e Com Truise
Ouça: Ascencion, Hours e Elegy

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.