Disco: “DJ-Kicks: Moodymann”, Moodymann

/ Por: Cleber Facchi 08/03/2016

Moodymann
Experimental/Electronic/Soul
https://www.facebook.com/moodymann313/

 

Em 2015, a série DJ-Kicks completou duas décadas de atuação – em média, dois novos trabalhos são entregues anualmente ao público. Para celebrar a data, o selo !K7 Records, responsável pelo catálogo, decidiu inovar, convidando quatro produtores de diferentes cenas para (re)abastecer o acervo – a russa Nina Kraviz, o britânico Actress, o produtor alemão DJ Koze e o norte-americano Seth Troxler. Uma seleção assertiva que volta a se repetir na colaboração do produtor estadunidense Moodymann.

Mais conhecido pelo vasto catálogo de obras voltadas à cena Techno/Deep House de Detroit, Kenny Dixon Jr., verdadeiro nome do produtor original de Los Angeles, Califórnia, encara o atual registro como uma obra marcada pelo experimento. Ainda que pareça resgatar parte do conceito lírico e instrumental explorado no homônimo álbum de 2014, flertando com elementos do Soul, R&B, Jazz e Hip-Hop, durante os 80 minutos Moodymann se concentra em testar os próprios limites.

São três dezenas de faixas que se fragmentam entre canções originais – como Remain de José González e Come Home do grupo sueco Little Dragon -, faixas reeditadas pelo produtor – caso de Grind do Les Sins e Tea Leaf Dancers do conterrâneo Flying Lotus -, além, claro, da inédita Serve This Royale, delicada composição produzida especialmente para o disco. Um delicado jogo de referências e inspirações que atravessa o Soul dos anos 1970, traz de volta o Hip-Hop “jazzístico” dos anos 1990 e acaba em temas experimentais típicos do presente cenário.

Em um delicado e raro exercício de adaptação, mesmo dentro da série DJ-Kicks, Moodymann dança pela obra presenteando o ouvinte com um acervo detalhado de pequenas adaptações. Mais do que amarrar uma faixa na outra, reforçando o caráter homogêneo do disco, faixa após faixa, Dixon Jr. cria uma interpretação autoral de diferentes peças instrumentais. Recortes, encaixes e instantes de plena desconstrução que seduzem o ouvinte logo nos primeiros minutos do álbum, vide a curiosa adaptação de Keepyourbusinesstoyourself, trabalho assinado pelo pouco conhecido Jitwam.

O mais curioso talvez seja perceber a forma como artistas vindos de universos musicais completamente distintos se relacionam no interior da obra. Basta uma análise atenta do encontro entre Shawn Lee, Nino Moschella, o britânico Jai Paul e Flying Lotus ainda na primeira metade do disco. Três composições – Kiss The Sky, BTSTU e Tea Leaf Dancers – que se amarram com plena coerência, sutileza, refletindo a mesma atmosfera nostálgica que move o disco.

Musicalmente curioso, o trabalho de Moodymann traz de volta a mesma composição versátil e complexa de clássicos como Rockers Hi-Fi (1997), Thievery Corporation (1999) e outros produtores de destaque que abasteceram o rico cardápio da série DJ-Kicks nas últimas duas décadas. Ideias e temas instrumentais propositadamente distintos, mas que se amarram do momento em que o disco tem início até o último suspiro dançante de Did You Ever.

 

DJ-Kicks: Moodymann (2016, !K7)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Madlib, Flying Lotus e The Gaslamp Killer
Ouça: Serve This Royale, When My Anger Stars To Cry e Tea Leaf Dancers

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.