Disco: “Django Django”, Django Django

/ Por: Cleber Facchi 26/04/2012

Django Django
Experimental/Psychedelic/Indie
http://www.djangodjango.co.uk/

Por: Cleber Facchi

Talvez ao acomodado público inglês – há mais de duas décadas habituado com as mesmas formas sonoras relacionadas ao pós-punk e ao britpop – apreciar o primeiro álbum da banda escocesa Django Django seja de fato uma tarefa inusitada e desafiadora. Distante de todas as fórmulas redundantes que se apoderam da sonoridade britânica, o grupo de Edimburgo vai em busca do art-rock e da psicodelia perdida no final da década de 1970, quando o Reino Unido inteiro começou a se encaminhar para o cenário que ainda hoje mantém suas marcas e domínios. Contudo, ao mergulharmos fundo no conjunto de músicas que preenchem a estreia da banda, a suposta novidade que caracteriza o projeto não parece tão revolucionária quanto atestam os defensores locais da banda.

Contrário ao que grande parte dos semanários ingleses ou demais veículos especializados em música têm afirmado, a estreia do quarteto formado por David Maclean, Vincent Neff, Jimmy Dixon e Tommy Grace pouco inova, soando como um reflexo copioso de tudo que a cena nova-iorquina produziu nos últimos tempos. Da psicodelia sintetizada do Animal Collective, passando pelos momentos menos herméticos do Grizzly Bear, todas as 13 faixas do homônimo registro se conectam diretamente ao que há tempos circula pela música norte-americana, uma espécie de resumo artificial de todas as experimentações e supostas novidades planejadas no decorrer dos últimos cinco ou dez anos.

Não há como contestar: perto de toda a soma de artistas similares ou vergonhosamente iguais, ouvir faixas como Hail Bop e Default em um cenário dominado pela mesmice é uma experiência no mínimo curiosa e satisfatória. O problema é que tudo o que a banda desenvolve no interior da obra parece tão atrasado que passadas algumas audições o álbum perde totalmente a validade. Django Django (o disco) lembra muito o que o Yuck fez com o registro de estreia no último ano, um trabalho que praticamente resumia (em uma modalidade comercial) tudo aquilo que uma série de outros artistas americanos já haviam experimentado alguns anos antes. Uma espécie de curso básico ou um fascículo, que ao alcançar a segunda edição (agora comandada pelo quarteto escocês) resume ao público britânico o que está acontecendo na música experimental do cenário recente.

Por mais atrasado que seja o disco, seria um erro desmerecer algumas das composições e o esforço que a banda faz para encontrar uma sonoridade particular ao longo dele. Tanto na divertida Zumm Zumm como na comercial Hail Bop é visível um afastamento do grupo em relação aos sons nova-iorquinos, abandonando inclusive o presente para se apoiar naquilo que The Beach Boys (do clásico Pet Sounds) e os Beatles (pré-Stg. Peppers) desenvolveram. O cheiro de mar e o clima praieiro (que em nada lembra o panorama californiano) garantem destaque ao álbum, que se afasta das excentricidades forçadas para expor um registro cativante e decisivo. É como se ao longo dessas canções e outras como Life’s a Beach a banda mostrasse pela primeira vez sua verdadeira identidade musical.

A necessidade em produzir um trabalho que tenta a todo momento se desprender do pop é justamente o que prejudica o rendimento da obra. Por mais que os experimentos retratados em Skies Over Cairo e Love’s Dart, por exemplo, sejam capazes de encantar melodicamente o ouvinte, dentro do resultado final do trabalho o desempenho dos músicos é falho. Toda a suposta complexidade que o grupo busca se cercar é naturalmente inofensiva se observada do ponto de vista de álbuns como Bitte Orca do Dirty Projectors e Meek Warrior do Akron/Family, registros que de alguma forma partilham das mesmas necessidades e propostas da estreia do Django Django, mas que acabam encontrando naturalmente o caminho que a banda escocesa busca a todo momento e não consegue alcançar.

Mesmo com todos os problemas e irregularidades que definem o disco, a coragem da banda em transitar por uma sonoridade não básica e repetitiva já é claramente um acerto. Entretanto, de nada adianta ao grupo penetrar em um novo e complexo território se não estiver pronta para enfrentar ou se igualar aos grandes do mesmo meio. O Django Django até conta com as armas necessárias para isso, basta saber como utilizá-las.

Django Django (2012, Because Music)

Nota: 6.5
Para quem gosta de: Erros, The Beach Boys e Grizzly Bear
Ouça: Hail Bop

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.