“Doozicabraba e a Revolução Silenciosa EP”, Emicida

/ Por: Cleber Facchi 02/08/2011

Emicida
Brazilian/Hip-Hop/Rap
http://www.myspace.com/emicida
http://www.emicida.com/

Por: Cleber Facchi

Muito embora não seja uma das composições mais populares de rapper norte-americano Mos Def, Victory, faixa lançada quando o mesmo ainda fazia parte do grupo de hip-hop Urban Thermodynamics foi parte essencial para a construção do trabalho de outro rapper. A canção que foi produzida pela dupla nova-iorquina K-Salaam & Beatnick em 1995 teria suas bases reaproveitadas anos mais tarde pelo paulistano Emicida, que não tardou em utilizar da composição para movimentar os versos de Vacilão, música lançada em 2010 através do despojado EP Sua Mina Ouve Meu Rap Também.

Mesmo sem entender uma das palavras despejadas pelo rapper ao longo da faixa, porém entusiasmados com o resultado apresentado através da composição, a dupla – que já produziu o trabalho de gente como Talib Kwelli e Common – não tardou em procurar pelo brasileiro, que em princípio ficou preocupado, com medo de ser processado por ter feito uso da mesma base utilizada por Mos Def, mas logo depois foi presenteado com uma grata surpresa. O interesse dos norte-americanos era outro, afinal, surpresos pelo trabalho de Emicida os nova-iorquinos gostaria de produzir um trabalho do paulistano, feito que se concretiza com o lançamento do EP Doozicabraba e a Revolução Silenciosa.

Lançado através do selo Laboratório Fantasma em parceria com The Creators Project Brasil e a revista Vice, o álbum de apenas nove faixas traz os já tradicionais versos do rapper paulistano, porém acompanhados de uma produção e de uma sonoridade impecável, um resultado completamente límpido e distinto dos dois anteriores álbuns de estúdio do rapper. Se ao lançar Emicídio, seu segundo álbum em 2010, Emicida trazia uma formatação mais coesa ao seu trabalho, com o recente EP essa mesma coesão ganha contornos bem mais definidos e agradáveis aos ouvintes, com o paulistano deixando de lado qualquer gorda em prol de um disco ágil e essencial.

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Quando lançou Pra Quem Já Mordeu Um Cachorro Por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe (2009), sua primeira Mixtape, a ideia apresentada era a de agregar o máximo possível de composições, fazendo do volumoso debut uma espécie de cartão de apresentação do rapper. Em seu recente  trabalho, entretanto, Emicida e a dupla de produtores (que tem seus créditos gravados logo na capa do álbum) lançam apenas o que há de melhor nos versos do rapper, resultando em um disco que ganha começo, meio e fim, traçando uma espécie de laço imaginário entre todas as composições, faixas que acabam desenvolvendo um diálogo próprio.

Embora acabe se perdendo em meio a redundâncias na faixa de abertura (Licença Aqui), que traz um conceito muito similar ao retratado pelos versos de E Agora? – música que abre seu anterior álbum, Emicídio -, o disco vai crescendo lentamente, muito mais pela produção capricha das bases das composições do que por seus versos em si. Acompanhado do parceiro Rael da Rima, o irmão Evandro Fióti e até do veterano MV Bill, o álbum se abre aos poucos através das batidas límpidas e visivelmente dançantes, em que o uso de samplers escolhidos a dedo e tomados de suinge dão formas a músicas como Num É Só Ver e Cacariacô, faixa que puxa o disco para uma temática mais suave por conta das inserções de voz da cantora Fabiana Cozza.

Doozicabraba e a Revolução Silenciosa EP entrega um artista em meio a uma produção completamente distinta daquela apresentada em suas anteriores mixtapes, desenvolvendo composições que soam visivelmente mais límpidas, acessíveis e comerciais, mas que perdem o entrelace de versos preciosos que eram destilados através de antigas canções como I Love Quebrada, Triunfo e Então Toma. A parceria gerada com K-Salaam e Beatnick proporciona um resultado inegavelmente agradável, contudo o álbum parece esquecer em alguns momentos de um elemento essencial, o próprio Emicida.

Doozicabraba e a Revolução Silenciosa EP (2011, Laboratório Fantasma)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Rael da Rima, Kamau e
Ouça: Num é Só Ver

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.