Disco: “Dreams Come True”, CANT

/ Por: Cleber Facchi 16/09/2011

CANT
Experimental/Indie/Electronic
http://www.facebook.com/pages/CANT/208677485812387

Por: Cleber Facchi

Pouquíssimos músicos ou produtores voltados ao cenário alternativo norte-americano tiveram uma produção musical tão grandiosa e repleta de discos tão bem conceituados quanto o jovem Chris Taylor ao longo dos últimos cinco anos. Desde que passou a integrar o Grizzly Bear em idos de 2004, que o músico nascido em Seattle vem desenvolvendo uma sequência de obras simplesmente formidáveis. É possível encontrar desde registros conceituais ao lado de sua banda – como Yellow House de 2006 e Veckatimest de 2009 – até álbuns em que se posiciona como um grande artesão, traduzindo suas produções de forma sempre monumental, algo bem exemplificado através de discos como Big Echo do The Morning Benders ou o climático Forget do Twin Shadow.

Talvez seja justamente por nos depararmos com trabalhos de tão vasta beleza e dotados de uma linguagem musical potencialmente forte, que ao nos encontrarmos com Dreams Come True (2011, Warp/Terrible), primeiro registro de Taylor em carreira solo, acabamos assustados com a brusca alteração musical que se apodera do álbum. Nada ali parece se aproximar de qualquer projeto que o músico já tenha se aventurado previamente, sejam os entrelaces acústicos de sua banda ou mesmo suas sempre coesas atuações como produtor. Tudo ali reflete novidade, complexidade, além de uma boa dose de esquizofrenia.

Por mais que nas poucas entrevistas em que comentava sua estreia Taylor revelasse muito pouco do que acabaríamos encontrando na totalidade de sua obra, talvez de maneira involuntária uma boa parcela do público (inclusive este que vos escreve) esperava por algo aos moldes do que o músico vinha desenvolvendo com o Grizzly Bear, principalmente que o mesmo desse continuidade ao elogiado Veckatimest, tratando da música experimental de forma menos complexa e se possível dotada de contornos próximos de algo mais comercial. Entretanto é um completo oposto que acaba se revelando no “debut” do músico, que aqui se apresenta oculto pelo nome de CANT.

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Mergulhado em um som hermético, instável e quase intragável em alguns momentos, Taylor assume a tarefa de produzir um registro tecnicamente limitado ou totalmente específico, em que mesmo as vozes ou a instrumentação que o cerca parecem se manifestar de forma a jamais confortar o ouvinte, reproduzindo um disco que nasce e morre dentro de seus próprios limites. Logo nas primeiras faixas – mais especificamente em Too Late Too Far e Belive – o ouvinte busca de alguma forma se situar, encontrar um apoio, uma mínima referência que explique os rumos escolhidos pelo músico para gestar tão complexa obra, uma busca que se estende até os últimos segundos do álbum.

Observando o disco como um trabalho inteiramente mutável e que altera sua lógica completamente a cada segundo, torna-se de alguma forma um pouco mais “fácil” compreender Dreams Come True, que cercado de elementos eletrônicos trafega tanto pela música ambiental como o experimentalismo climático que Avey Tare já havia provado em 2010 ao lançar o obscuro Down There. Entretanto, mesmo que a proposta do álbum seja a de confundir o ouvinte, sugando-o para junto de um emaranhado de texturas chapadas e sintetizadores cacofônicos, a experiência proporcionada por Taylor é simplesmente falha. Não são poucos os que já experimentaram da mesma estratégia, de forma, obviamente, melhor desenvolvida, fazendo com que o músico surja como um amador em terra de gigantes.

Estranhamente os melhores momentos do álbum são justamente aqueles em que o músico se afasta dos experimentos musicais e parte para o explorar de um som mais ameno e menos complexo. The Edge, por exemplo, se anuncia como uma quase balada experimental-pop, mantendo uma naturalidade e beleza que em raros momentos se revela no interior do disco. Se a intenção de Chris Taylor era produzir um trabalho que confundisse a mente do ouvinte, ele obviamente conseguiu, porém não espere encontrar nada além disso.

Dreams Come True (2011, Warp/Terrible)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Animal Collective, Purity Ring e Avey Tare
Ouca: The Edge

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.