Disco: “Drive”, Cliff Martinez

/ Por: Cleber Facchi 10/12/2011

Cliff Martinez
Electronic/Synthpop/Ambient
http://cliff-martinez.com/

Los Angeles, um motorista e sintetizadores. Com estes três ingredientes o diretor Nicolas Winding Refn e o compositor nova-iorquino Cliff Martinez parecem ter encontrado a medida exata para o casamento entre imagem e som, algo que os mais de 100 minutos apreensivos da película Drive parece traduzir com primazia. Longe de construir uma sonoridade que fosse obrigada a simplesmente acompanhar o filme (o que em muitos casos já seria mais do que suficiente para uma trilha sonora), Martinez transforma o amplo catálogo de sintetizadores que o acompanham em um mecanismo de segunda direção dentro da obra, sendo parte responsável por toda a tensão e o clima sufocante que se instala dentro do filme.

Na história, um dublê de filmes hollywoodianos e motorista de fugas em assaltos (Ryan Gosling) acaba se sentindo compelido a proteger a vizinha Irene (Carey Mulligan) – por quem se apaixona -, quando o marido desta sai da cadeira e é obrigado a quitar uma dívida com a máfia local. Ausente de voz em boa parte da película, Gosling parece contar com o apoio de Martinez para que o ícone central da história seja cuidadosamente esculpido, tendo na trama de sintetizadores sombrios – e muitas vezes tão serenos quanto a figura do motorista – um elemento central para que todo o trabalho acabe se movimentando.

Assim como em A Rede Social, Trent Reznor e o parceiro Atticus Ross pareciam inseridos dentro da trama envolvendo a criação do Facebook, pontuando todas as cenas do filme como se fossem personagens mergulhados no contexto da obra, em Drive essa mesma percepção é estabelecida. Cliff parece caminhar o tempo todo ao lado de Gosling, da cena inicial em que o motorista repassa todo o método como desenvolve seu trabalho ao fecho da obra, que praticamente tem os 10 minutos de encerramento transformados em um imenso videoclipe, com os diálogos praticamente abandonados e apenas a sobreposição de imagens garantindo sequência ao trabalho.

De fato, a presença de Martinez é tão importante dentro da obra que ao cessar os comandos da música que promove os personagens simplesmente param, como se o filme estabelecesse uma pausa para que os atores – e talvez até o próprio diretor – sejam capazes de respirar. Dividido entre o dançante e o climático, o compositor parece mover a obra através de uma obscura dança, como se cada personagem fosse movido por uma sonoridade específica, fazendo com que desse encontro entre diferentes ressonâncias seja estabelecida toda a trama que dá vida ao trabalho.

Observado de maneira distante das telas, Drive (a trilha sonora) acaba estabelecendo outra funcionalidade. Claramente dividido em duas partes, o registro concentra nos minutos iniciais os momentos mais “comerciais” do disco, sendo aberto pelo casamento entre a voz de Lovefoxxx – esqueça a garota espevitada do CSS – e os beats sujos do produtor francês Kavinsky. A beleza maior, entretanto, fica nas mãos (ou na voz) de Katyna Ranieri que através da faixa Oh My Love (do compositor Riz Ortolani ) mergulha o ouvinte em um panorama oposto ao que até então vinha se estabelecendo no interior do trabalho, convertendo sua voz em um misto de melancolia e romantismo.

A partir da sexta faixa, Rubber Head, Martinez mergulha de vez no aspecto climático da obra, momentos essenciais para o filme, porém redundantes dentro do contexto do registro, que parece se perder em pequenas repetições ou faixas excessivamente próximas. Independente dos pequenos deslizes, o álbum parece funcionar de maneira formidável tanto dentro como fora das telas, como se para além de desenvolver uma trilha sonora para o peculiar personagem de Drive, Cliff é ainda capaz de ambientar um plano de fundo com força o suficiente para movimentar o próprio ouvinte.

Drive (2011, Lakeshore)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Kravinsky, Trent Reznor e Atticus Ross
Ouça: Rubber Head

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.