Disco: “Drop”, Thee Oh Sees

/ Por: Cleber Facchi 23/04/2014

Thee Oh Sees
Garage Rock/Psychedelic/Lo-Fi
http://www.theeohsees.com/

John Dwyer não sabe ficar mais do que alguns meses em hiato até investir em algum novo registro em estúdio. Ainda bem. Responsável pelos versos, arranjos (sujos) e grande parte das experiências que definem a sonoridade do Thee Oh Sees, o músico californiano prova que mesmo os anos à frente do projeto e a extensa produção de discos estão longe de afetar o comprometimento criativo do grupo. Maturidade e certa dose de ineditismo que automaticamente são reforçados no lançamento de Drop (2014, Castle Face).

Mais novo invento assinado por Dwyer e seus (hoje) quatro companheiros de banda, o nostálgico e ainda recente disco parece seguir a mesma fórmula proposta pelo músico de São Francisco há mais de uma década. São composições semi-artesanais diluídas entre as experiências lisérgicas do Rock Psicodélico e a linha suja das distorções, típicas do Garage Rock. Músicas conduzidas por uma poesia confessional, romântica por vezes, mas que em nenhum momento oculta a esquizofrenia (ou seriam os exageros?) de seu criador.

Em um sentido de continuidade e ao mesmo tempo ruptura com o trabalho anterior, Floating Coffin (2013), também lançado pelo selo Castle Face, Drop abandona a complexidade das guitarras para investir em uma estrutura “simples”. Espécie de diálogo com os projetos anteriores do grupo, principalmente Carrion Crawler/The Dream (2011), Putrifiers II (2012) e todos os grandes álbuns apresentados pelo selo In The Red, o novo disco quebra o exagero para brincar com uma composição específica, ainda que caótica.

Se por um lado a imposição crua de faixas como Penetrating Eye e Put Some Reverb On My Brother joga o disco para um ambiente típico dos anos 1960, em momentos específicos do álbum é possível tropeçar em canções orquestradas por guitarras de maior “requinte”, típicas dos anos 1970. Basta Savage Victory e o solo atento na segunda metade da faixa para perceber como boa parte das imposições conquistadas de forma quase límpida há poucos meses continuam a reverberam. Um efeito que se repete ainda nos instantes finais do álbum, como na psicodélica Transparent World ou mesmo na essencialmente detalhista The Kings Nose.

Mesmo que seja impossível encontrar no decorrer da obra faixas como a colossal Toe Cutter/Thumb Buster ou mesmo composições dinâmicas aos moldes de I Come From The Mountain, Drop consegue revelar ao público algumas (boas) surpresas. Talvez a mais atenta delas seja a melancólica The Lens. Música de encerramento do disco, a canção envereda para uma atmosfera totalmente branda, como uma balada capaz de herdar todos os contornos amenos dos Beatles e outros veteranos que tanto influenciam a obra da banda.

Longe de regressar ao ambiente caseiro dos primeiros discos, Dwyer orquestra do princípio ao fim um registro que mesmo sujo, ecoa aspectos pontualmente límpidos e aprazíveis ao público médio. A julgar pelo desenvolvimento seguro de músicas como Encrypted Bounce ou mesmo a serena The Lens, Drop talvez seja a obra mais acessível já assinada pelo músico. Um resumo autêntico de toda a discografia do Thee Oh Sees e ao mesmo tempo um passo seguro em relação ao  bem servido cardápio de obras da banda.

 

Thee Oh Sees

Drop (2014, Castle Face)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Ty Segall, Mikal Cronin e Fuzz
Ouça: Savage Victory, Encrypted Bounce e The Lens

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.