Disco: “Dynamics”, Holy Ghost!

/ Por: Cleber Facchi 12/09/2013

Holy Ghost
Electronic/Dance/Alternative
https://www.facebook.com/HolyGhostNYC

Holy Ghost

Nick Millhiser e Alex Frankel são os melhores filhos que James Murphy poderia ter. Desde o fim do LCD Soundsystem, em 2011, poucos tem sustentado de forma tão assertiva a mesma proposta do produtor nova-iorquino quanto os responsáveis pelo Holy Ghost. Disco-Punk, Dance, Electro, Nu-Disco ou Synthpop, não importa o rótulo, ir de encontro ao trabalho da dupla é como passear de forma nostálgica por uma playlist marcada por clássicos de diferentes décadas. Pop em essência, o projeto carrega na diversidade de colagens um princípio de funcionamento, marca que serviu de base para o disco de 2011 e volta a se repetir no convidativo Dynamics (2013, DFA).

Visivelmente menos acessível (ou talvez nada óbvio) em relação ao álbum passado, o novo registro se esquiva da explosão de cores proposta em Wait And See, Hold On e demais composições do trabalho. Um efeito claro de busca aprimoramento de identidade capaz de impulsionar grande parte das canções. Com um espaço maior para os vocais – preferência que afasta a dupla dos loops líricos, revelando letras um pouco mais extensas -, o disco talvez custe a impressionar durante as primeiras audições, mas é na completa imersão do ouvinte que ele realmente conquista.

Enquanto o álbum de 2011 era tratado de forma bastante clara em cima de argumentos sonoros rápidos, vozes encaixadas nas melodias e um efeito quase imediato, em Dynamics a dupla parece inclinada a brincar com o espectador. São pequenas tapeçarias musicais desenvolvidas com parcimônia, canções afastadas com cuidado das pistas e até mesmo a busca de músicas tratadas de forma ambiental. Mesmo os principais hits da obra, caso de Dumb Disco Ideas (sátira ao novo álbum do Daft Punk) e Don’t Look Down parecem longe de satisfazer o ouvinte imediatamente, armazenando sintetizadores, vozes e batidas em um efeito denso, quase arrastado.

Quem espera por uma continuação do disco passado, não tenha dúvida, vai se decepcionar. Cada espaço do presente álbum substitui a explosão pelo controle, revelando uma nova proposta no método de composição dupla. Não são poucas as vezes em que Dynamics esbarra em conceitos muito similares aos do Hot Chip em One Life Stand (2010). Entretanto, enquanto o grupo britânico usa dos vocais como um salto para os arranjos sintéticos não convencionais, para a dupla nova-iorquina o resultado é de oposição. Mesmo que as vozes assumam um papel significativo, o longo detalhamento instrumental arrasta o ouvinte por uma série de experiências musicais, introspectivas, efeito evidente em It Must Be The Weather e In The Red.

Claro que a busca por um resultado menos expansivo e controlado não priva o duo de produzir boas faixas ou composições possivelmente abertas ao grande público. Okay, na abertura do trabalho, representa parte expressiva do que foi “abandonado” no último disco. São as mesmas intervenções tomadas pelo synthpop, vocais melódicos e uma série de colagens pegajosas. Bridge and Tunnel e o toque de Cut Copy é outra que representa bem o lado menos recluso da dupla. Focada nas pistas, a canção espalha vocais e sons em um mesmo arranjo, revelando um dos pontos de maior leveza da obra.

Apresentado como um possível competidor na sequência de grandes obras da cena eletrônica em 2013 – incluindo Disclosure e Daft Punk -, Dynamics talvez siga a pista do Classixx em Hanging Gardens: um trabalho que até convence, mas está longe de maiores posições. Ao se esquivar de parte do efeito comercial deixado pelo disco anterior, o Holy Ghost pode até ter encontrado novidade dentro da própria obra, mas cria um registro que exige tempo a ser apreciada, algo que os velhos seguidores talvez não queiram fornecer.

Dynamics (2013, DFA)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Classixx, Disclosure e Cut Copy
Ouça: Dumb Disco Ideas, Don’t Look Down e Bridge and Tunnel

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/playlists/10148179″ params=”” width=” 100%” height=”450″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.