Disco: “Eagulls”, Eagulls

/ Por: Cleber Facchi 13/03/2014

Eagulls
Post-Punk/Garage Rock/Alternative
http://www.eagulls.co.uk/

Por: Cleber Facchi

Eaguls

A sujeira impera na obra do Eagulls. Seguindo a tradição de percorrer a herança sonora britânica do Punk/Pós-Punk dos anos 1970, o quinteto de Leeds, Inglaterra alcança o primeiro trabalho de estúdio em um sentido de construção da própria estética. Ainda que cada faixa do recém-lançado álbum pareça escorada nas emanações mais sombrias e agressivas de grupos como The Fall e The Clash (do primeiro disco), a manipulação inteligente dos ruídos ecoa uma obra que mesmo nostálgica, não exclui a própria autenticidade do grupo.

Em um cenário habitado por artistas como Iceage, Holograms e tantos nomes de relevância do novo panorama europeu, o grupo – Mark Goldsworthy, Henry Ruddel, Liam Matthews, Tom Kelly e George Mitchell – atravessa o disco em um exercício de testar as próprias possibilidades. São guitarras ascendentes que se enfileiram em uma sequência enérgica de ruídos e gritos, massa densa que percorre o álbum desde a inaugural Nerve Endings, até a firmeza sombria de Soulless Youth, canção que fecha de forma segura as imposições autorais do álbum.

Lembrando (em diversos aspectos) uma versão menos comercial do trabalho lançado pelo The Vaccines em What Did You Expect from The Vaccines?, de 2011, o debut de 10 faixas é um álbum que substitui a urgência pop dos arranjos e vozes por um resultado denso. Sem que exista as necessidade em parecer acessível ao ouvinte médio, cada composição do álbum se orienta dentro de uma atmosfera de pleno ruído, como se barrar o espectador fosse uma constante ao longo da obra. Dessa forma, distante e hermético, o disco se revela como um explícito “desafio” no interior de cada faixa.

Pensado como um agregado único de experiências líricas e instrumentais, o álbum faz de cada composição um complemento imediato para a música seguinte. Da forma como os ruídos se comunicam ao exercício provocativo dos vocais, elementos do Garage Rock se confundem com as massas intransponíveis do Shoegaze. Um alinhamento que escapa as limitações do Punk convencional, para autorizar a chegada em diferentes terrenos, gêneros e, naturalmente, possibilidades ao grupo britânico.

Ainda que o enclausuramento de grande das faixas pareça cercar a banda em um ambiente “específico”, destinado a um público particular, ao longo de todo o álbum diversas “lacunas” autorizam a passagem do ouvinte menos habituado. Enquanto Hollow Visions usa da forte relação entre voz e guitarra de forma a escalar os mais de três minutos da canção, Opaque traz na crueza dos acordes um efeito dançante. Todavia, é na formatação melódica de Possessed que o disco fisga. São colisões que escapam dos anos 1970, flertam com a década seguinte, até estacionar no rock alternativo de 1990.

Incapaz de esboçar a mesma jovialidade e urgência de obras como You’re Nothing (2013) do Iceage, ou mesmo a curta discografia do Male Bonding, a estreia do Eagulls se revela como um objeto de aquecimento. Experiência limitada, o disco acumula vozes, ruídos e batidas em uma tentativa de extração, como se do meio da massa suja do álbum o quinteto buscasse um invento particular. Uma tentativa que até se concretiza, mas ainda está longe de revelar seu melhor resultado.

 

Eagulls

Eagulls (2014, Partisian)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Iceage, Holograms e Parquet Courts
Ouça: Possessed e Hollow Visions

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.