Disco: “Early Fragments”, Fear Of Men

/ Por: Cleber Facchi 11/03/2013

Fear Of Men
Indie/Shoegaze/Dream Pop
http://fearofmen.bandcamp.com/
https://www.facebook.com/fearofmen

 

Por: Fernanda Blammer

O que mais surpreende dentro de Early Fragments (2013, Kanine) e de todo curto catálogo de canções produzidas pelo Fear of Men está na forma como as melodias são exploradas de maneira inventiva, mesmo dentro de uma medida totalmente simplista. Por vezes é como se o trabalho da dupla Beach House em Bloom (2012) fosse despido de toda a variedade de sintetizadores e efeitos complementares que se escondem ao fundo das composições. Um My Bloody Valentine sem toda a carga extra de ruídos ou talvez o The Pains Of Being Pure at Heart (do álbum Belong) sem a energia pós-adolescente que alimenta o grupo. Trata-se de um trabalho que lida com o menor número de elementos possíveis, fazendo com que a estreia do quarteto britânico se transforme em um acerto justamente por conta disso.

De razões sempre intimistas, o disco parece servir como abrigo para que os vocais de Jessica Weiss se derramem em meio as guitarras delicadas e o clima sombrio alcançado pelo parceiro Daniel Falvey. Algo como uma versão moderna do mesmo resultado incorporado por Nico no clássico registro de estreia do The Velvet Underground. Afogado em dores, o álbum consegue exaurir os sentimentos mais dolorosos de Weiss, que a partir de Mosaic mergulha em uma seleção de temas amargos, pequenos fragmentos de um passado recente e que ainda assombra a mente da vocalista.

Assumindo uma forte relação com a nova onda de artistas interessados em incorporar o clima artesanal de gravações caseiras, a banda mantém o aspecto Lo-Fi sob controle, pasteurizando pequenas massas de guitarras em um composto quase comercial. Pela forma como os sons vão se acomodando no decorrer da obra (e principalmente por conta do contraste entre voz e guitarras), por diversas vezes a banda parece se aproximar do mesmo ambiente nostálgico e sombrio que banha os trabalhos relacionados ao selo Italians Do It Better. Uma versão menos sintetizada e mais enérgica do que a dupla Glass Candy ou qualquer outro lançamento assinado por Johnny Jewel parece naturalmente inclinado a explorar.


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Mesmo que parte das referências que abastecem a banda no decorrer da obra se escondam em solo norte-americano, como bons ingleses a aproximação com os sons locais se faz de maneira bastante natural. Your Side, por exemplo, parece ser uma versão suave de alguma canção perdida dos Smiths, um single esquecido entre The Queen Is Dead (1986) e Strangeways, Here We Come (1987). Já Green Sea parece se apegar aos mesmos ensinamentos de Kate Bush, transportando a proposta teatral da britânica para uma estrutura mais pop. Sobram ainda passagens pelo trabalho do The Fall (Spirit House), The Jesus and Mary Chain (Mosaic) e outros gigantes da década de 1980.

A partir desse ponto o ouvinte/leitor pode se perguntar: mas onde está a identidade e o ineditismo no trabalho da banda? Livre da necessidade de brincar com os experimentos, Early Fragments acerta por justamente amarrar diferentes referências do passado em um enquadramento novo e homogêneo. São experiências capazes de atravessar a década de 1960, absorver o rock nova-iorquino dos anos 1970 até mergulhar na cena britânica de 1980 em um oceano de sonorizações que alimentam parte essencial de tudo o que a banda desenvolve pelo álbum. São os “fragmentos iniciais”, bases de diferentes períodos de tempo que o quarteto assume logo no título da obra.

Mesmo em um cenário comandado por gigantes, a obra de estreia do Fear Of Men parece longe de baixar a cabeça ou não conquistar um resultado tão atrativo quanto o de outros lançamentos recentes. Claro que ao ser comparado com obras como Something do Chairlift ou Woman do Rhye, trabalhos que buscam dar acabamento renovado a sons do passado, Early Fragments parece longe de alcançar o mesmo desempenho, como se escondesse intencionalmente sua melhor forma. Mantendo na comodidade dos sons uma ferramenta para atrair os espectadores, o grupo faz do primeiro disco um aquecimento e uma natural expectativa para o que pode vir a ser melhor explorado em um futuro próximo.

 

Early Fragments (2013, Kanine)


Nota: 7.7
Para quem gosta de: The Pains Of Being Pure At Heart e Yuck
Ouça: Mosaic e Green Sea

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.