Disco: “Edifício Bambi”, Hidrocor

/ Por: Cleber Facchi 15/03/2012

Hidrocor
Brazilian/Indie/Lo-Fi
http://bandahidrocor.com.br/

Por: Cleber Facchi

 

Marcelo Perdido e Rodrigo Caldas tiveram muito tempo para arquitetar, construir e finalizar todas as paredes da melancólica estrutura que dá vida ao primeiro álbum da Hidrocor, o aconchegante Edifício Bambi (2012, Capitão Monga). Espécie de enorme abrigo sentimental para as letras machucadas e românticas do duo, o colorido prédio solidifica toda a maestria da dupla em compor retratos musicais sinceros, faixas indispostas de grandes atributos instrumentais, mas recheadas de letras reconfortantes. Versos encantadores e sensações que, embora simples, retratam com fidelidade os encontros e desencontros de qualquer casal ou mesmo os medos e celebrações que se apoderam da mente de qualquer indivíduo.

Construído ao longo de anos, o acolhedor projeto traz de volta velhas conhecidas da dupla, composições que surgiram pela rede em contornos inteiramente caseiros e simplistas, mas que agora ganham novo e delicado acabamento. Estão lá pérolas como a apaixonante Listras e Xadrez (com seus tecladinhos vintage), Tchu Tchu Tchu com o lirismo pueril e encantador de outrora, além da dicotomia leve de Urso Bipolar. Músicas que fazem com que a cada quarto ou sala que adentramos no decorrer do registro haja sempre a sensação de acolhimento, como se cada canto do ambiente fosse construído em cima de um esboço há tempos conhecido do ouvinte.

Se ao tatearmos paredes há tempos conhecidas a sensação de proximidade com o disco se intensifica, quando mergulhamos no escuro dos novos cômodos a voz peculiar de Perdido é elemento fundamental para a descoberta de todas as novas nuances que se materializam na obra. Começa com o indie pop de Você Só Pode Estar Brincando (que muito lembra os primeiros discos do Grandaddy), passa pelo tom country leve de Descolorido, mergulha no esforço encantador de Ma Cherie, até finalizar com tom esperançoso de Vou Voltar, composições que em pouco tempo de execução se tornam tão ou mais próximas do espectador quanto as já antigas criações da dupla.

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Longe de promover um achado marcado pelo tom complexo, Perdido e Caldas se concentram na execução de um álbum direto e próximo do ouvinte. Dentro desse tom acolhedor – não pense que você encontrará rimas tolas ou banais -, a dupla alicerça composições marcadas por um lirismo honesto e envolvente, sendo Ma Cherrie (E o que atrapalha é/ Ter toda essa pretensão/ De querer ser super legal/ De querer ser um croissant/ Quando você é um pão de sal) e Miojo (Se o macarrão é instantâneo/ Por que não é o amor?) dois exemplos fortes da sapiência da banda em explorar elementos e versos de forma simples, porém totalmente íntimos do espectador.

Mesmo orientado pela figura dos dois integrantes da banda, em alguns momentos o colorido edifício abre suas portas para que essenciais colaboradores imprimam suas marcas. Sempre inventivo, Tatá Aeroplano aparece rapidamente em Urso Bipolar, perfumando a canção com os vocais flutuantes que tanto caracterizam o trabalho do músico ao lado da Cérebro Eletrônico. Partidária de uma sonoridade muito próxima da explorada pela banda, a pernambucana Lulina desfila romântica em Miojo, utilizando da voz doce como uma espécie de contraponto aos vocais de Perdido, que ao se encontrarem acabam resultando em um molho essencial para a comportada canção.

Mesmo dono de atributos incríveis, Edifício Bambi dificilmente tocará nas rádios, circulará com destaque na televisão ou mesmo contará com um apoio mínimo do grande público. Comportado, o trabalho parece a entrada para um prédio mágico, um espaço onde apenas uma parcela de indivíduos românticos (e também sofredores) podem se encontrar. Uma pena, pois cada enorme sala ou mínimo cômodo que se edifica ao longo do disco abre espaço para um número ilimitado de convidados, pessoas que só precisam se deixar guiar pelos brandos acordes que passeiam e dançam no decorrer do álbum. Um público que só precisa deixar o sentimento que se concentra em cada uma das faixas do disco fluir.

Edifício Bambi (2012, Capitão Monga)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Lulina, My Midi Valentine e Lestics
Ouça: Listras e Xadrez, Miojo e Fim

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.