Disco: “Electronic Dream”, AraabMuzik

/ Por: Cleber Facchi 08/07/2011

AraabMuzik
Instrumental Hip-Hop/Electronic/Hip-Hop
http://www.myspace.com/araabmuzik

Por: Cleber Facchi

De todos os álbuns lançados ao longo do ano poucos conseguiram soar tão distintos e criativos quanto o climático Electronic Dream (2011, Duke), trabalho de estreia de produtor Abraham Orellana de Providence, Rhode Island. Sob a alcunha de AraabMuzik, o rapaz conseguiu unir um verdadeiro apanhado de referências sonoras, condensando desde o experimentalismo e a versatilidade do hip-hop instrumental, com toques nada moderados de música pop, além do que há de mais tradicional e glamuroso no rap norte-americano, isso tudo através de seu primeiro e essencial registro.

You’re now listening to AraabMuzik” anuncia o produtor ao longo de todas as 11 faixas do trabalho, como se tentasse provocar o ouvinte ao mesmo tempo em que desenvolve uma espécie de marca em sua estreia. Embora você realmente esteja ouvindo AraabMuzik não é essa a sensação absorvida ao longo do álbum. A imensa variedade de sons, ritmos, vozes, samplers e distintos elementos dão ao álbum um caráter de coletânea, como se Orellana convergisse décadas de distintas produções musicais em apenas 35 minutos, tempo mais do que suficiente para que o rapaz literalmente nos hipnotize em sua produção.

Talvez por conta da frequente voz sintetizada que anuncia “você não está ouvindo AraabMuzik” – o que acaba se transformando em uma espécie de símbolo do disco -, Orellana parece posicionado dentro de alguma rádio pirata fictícia, modelando sua programação com base em hits do hip-hop e da dance music dos anos 80. A própria sonoridade rebuscada que delimita as faixas do álbum parece captada de maneira artesanal, como se algum fã do suposto programa de rádio resolvesse registrar tudo através de uma fita cassete e só mais tarde convertesse tal apanhado ao formato digital.

Repleto de cortes bruscos e quebras de som que poderiam causar desespero aos ouvintes menos habituados, Electronic Dream parece se orientar por dois tipos de composições, que mesmo distintas parecem próximas dentro da condução final do álbum. O primeiro grupo de canções se orienta por frequências mais fáceis, verdadeiramente radiofônicas, como se dentro do apanhado de canções selecionadas para a condução do suposto programa de rádio o produtor brincasse com sons fáceis para prender os ouvintes. Faixas como Golden Touch ou Let It Go saltam aos ouvidos, soando próximas de alcançarem a efemeridade de alguns trabalhos genuinamente comerciais.

Com os espectadores presos é a partir daí que Orellana mostra de fato em que se baseiam suas composições, mandando uma torrente de sons hipnóticos, batidas assíncronas e uma sequência de sons que se fragmentam entre o dançante e o climático. Free Spirit ilustra com precisão essa vertente do álbum, sobrepondo samplers nostálgicos e batidas que crescem e se retraem a todo o momento, não moldadas para agradar o ouvinte, mas para aprisioná-lo em um jogo de sons carregados de pura precisão. Contudo é ao lançar Underground Stream que o produtor alcança seu ápice, reverberando sons que brincam com a eletrônica convencional, mas que são meticulosamente projetados para soarem sujos e cacofônicos.

Oposto de outros projetos ligados ao Hip-Hop Instrumental, como o que é entregue por Teebs e Flying Lotus, AraabMuzik parece conceber tal condensado de sons de forma distinta, própria. Mesmo acompanhado de uma produção visivelmente precária em relação a outros trabalhos do gênero, Orellana uso esse pequeno empecilho a seu favor, construindo um tipo de som que mesmo levemente sujo ou que não dotado da mesma limpidez de outros projetos acaba se destacando pela produção de faixas tão ou mais bem elaboradas.

Electronic Music (2011, Duke)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Clams Casino, Flying Lotus e Shabazz Palaces
Ouça: Free Spirit e Streetz Tonight

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.