Disco: “Eles São Assim e Assim Por Diante”, Bidê ou Balde

/ Por: Cleber Facchi 18/12/2012

Bidê ou Balde
Brazilian/Indie/Pop
http://www.bideoubalde.com.br/

Por: Cleber Facchi

Bidê ou Balde

Há pouco mais de oito anos, durante o processo de divulgação do disco É Preciso Dar Vazão Aos Sentimentos, Carlinhos Carneiro, vocalista e líder da Bidê ou Balde deu uma curta entrevista à extinta revista da MTV tratando sobre a transformação do grupo naquele instante. Segundo Carneiro, a banda ampliava a relação com a música pop em busca de um destaque tão grande quanto o do KLB – banda de grande repercussão naquele instante. Embora o desejo (irônico) do grupo gaúcho não tenha se concretizado, ouvir o recente Eles São Assim e Assim Por Diante (2012, Independente) apenas reforça o quanto essa “necessidade” se mantém em alta.

Da faixa de abertura, +Q1 Amigo, passando pela já conhecida Me Deixa Desafinar, ao ponto de encerramento do álbum, Eles São Assim, tudo esbarra de forma consciente na desenvoltura e nas facilidades típicas da música pop. O que antes era esquizofrenia e experimentação – bem representada na obra-prima da banda, Outubro ou Nada (2002) – agora se revela de maneira simplista em uma solução de músicas descompromissadas, radiofônicas e, sim, representações da música pop convencional. Esqueça a relação com o trabalho de bandas como Blur, Weezer e Flaming Lips, ao alcançar o quarto registro da carreira a proposta é outra.

Enquanto o lançamento de Adeus, Segunda-Feira Triste EP em 2011 dava indícios de que a banda ingressaria em um trabalho mais acelerado que o disco de 2004, uma rápida audição do novo álbum revela que essa proposta está longe de se concretizar. Com as guitarras em baixa, versos menos exaltados e até uma dose de referências acústicas – talvez herança do que fora conquistado no Acústico MTV Bandas Gaúchas -, o novo álbum do (agora) quarteto pode decepcionar quem busca pela mesma grandiosidade colorida de outrora. Mesmo que a leveza e os versos fáceis ainda existam, o álbum segue em marcha lenta e sem grandes transformações até os últimos instantes.

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Além das reformulações instrumentais, percebidas sem dificuldades com o passar da obra, Eles São Assim… traz nas líricas a maior transformação do grupo, sendo o provável ponto de desnível em relação aos discos passados. Falta malícia e a mesma metralhadora de versos que encontrávamos em músicas como Hollywood #52, resultado que logo de cara presenteia o público com a tolinha +Q1 Amigo – música que funcionaria bem em um disco de música gospel para crianças. Você até se pergunta: “estaria eu sofrendo pela expectativa?”, afinal, depois de oito anos de espera diversos cenários e resultados diferentes para um novo disco da banda foram criados. Não, o novo disco da Bidê é de fato morno e facilmente o registro mais fraco da trajetória da banda.

Dos poucos momentos que o disco engrena, como na sintetizada Coisinhas Nojentas De Amor, falta ao grupo o mesmo bom humor e a intensidade de outrora. A banda até consegue entusiasmar o público ao criar um cenário pseudo-conceitual com os três atos em alemão – Prolog, Intervall e Epilog -, revivendo as conexões com a banda de Wayne Coyne (também em Sturm Und Tal) e até esbarrando em David Bowie, na excelente Eu Quero Morar Em Marte. Entretanto, nada consegue reerguer o álbum depois de faixas vergonhosas como a clichê João da Silva. O melhor exemplo da incapacidade da banda em garantir um bom disco está na versão reformulada (e totalmente sem sentido) do hit Mesmo Que Mude, agora acompanhada da sanfona de Renato Borghetti.

Eles São Assim e Assim Por Diante é como a banda já anunciava uma verdadeira aproximação com a música pop. Contudo, se voltarmos nosso ouvidos para os primeiros discos da banda é possível perceber que tal relação sempre existiu, a diferença está na banalização sonolenta aplicada agora, um verdadeiro contraste em relação ao som jovial e sempre inventivo de outrora. A Bidê ou Balde pode até ter amadurecido – como algumas das composições recentes bem evidenciam -, mas com isso a banda perdeu o bom humor, a ironia e boa parte do que ela cultivou desde o começo da carreira.

Bidê ou Balde

Eles São Assim e Assim Por Diante (2012, Independente)

Nota: 5.8
Para quem gosta de: Wander Wildner, Pública e Nevilton
Ouça: Coisinhas Nojentas De Amor e Eu Quero Morar Em Marte

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.