Disco: “Endless Flowers”, Crocodiles

/ Por: Cleber Facchi 13/06/2012

Crocodiles
Garage Rock/Noise Rock/Shoegaze
https://www.facebook.com/killcrocodiles

Por: Fernanda Blammer

Crocodiles

Montada em meados de 2008 na cidade de San Diego, Califórnia a dupla de garage rock Crocodiles faz parte da mesma leva de distorções e ruídos que revelou artistas como No Age, Women, Crystal Stilts, Abe Vigoda e tantos outros entusiastas de guitarras poluídas e vozes pouco plásticas. Em pouco menos de quatro anos de atuação, o projeto encabeçado por Charles Rowell e Brandon Welchez já rodou boa parte dos Estados Unidos, chamou a atenção de centenas de publicações mundo afora, além de ter cativado uma frente única de ouvintes, espectadores ativos que devem encontrar em Endless Flowers, terceiro trabalho da banda, um deslize em relação aos anteriores discos do duo.

Sem contar com o apoio do britânico James Ford (Simian Mobile Disco) – que assumiu a produção do trabalho anterior Sleep Forever, de 2010 -, Rowell e Welchez assumem eles próprios a condução do novo registro, que passeia ao longo de 10 faixas por uma sonoridade tomada por novas cargas de distorção, ruídos e transformações sonoras jamais límpidas ou próximas de algo comercial. Ao mesmo tempo em que a direção particular dos parceiros possibilita que eles ingressem em um terreno livre de quaisquer amarras, o descontrole e o excesso de liberdade acaba fazendo com que o disco se perca, incorporando uma série de elementos incompatíveis com as primeiras propostas da dupla.

Como se buscassem agarrar todas as possibilidades em um turbilhão de sonoridades e referências, a dupla aponta para todas as direções, fazendo brotar desde composições tomadas por um toque pop e esquizofrênico (No Black Clouds for Dee Dee e Bubblegum Trash), até faixas que descem aos mais profundos acúmulos de distorção (Dark Alleys). A proposta acaba por estabelecer um lançamento naturalmente diversificado, rico em apostas e corajoso em termos de experimentação. Todavia, a necessidade em provar de um incontável número de referências faz com que o trabalho da dupla se perca, transformando o atual projeto em um registro que soa como uma rápida coletânea de hits que não deram certo.

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De certa forma o caráter “desnorteado” do registro acaba aproximando a banda do que já fora testado no inicial Summer of Hate (2009). Contudo, enquanto ao longo do primeiro álbum, e de canções como Soft Skull (In My Room) e Refuse Angels, a dupla surgia camuflada por guitarras sempre firmes e ruidosas, aqui eles perdem a mão em diversos momentos, fazendo com que o registro soe tão raso que parece até composto por jovens e inexperientes músicos, algo que o duo já provou não ser há muito tempo.

Talvez um dos grandes problemas do álbum não seja nem a necessidade da banda em provar de novas e descontroladas referências como se fossem duas crianças abrindo os presentes na manhã de natal. Um dos grandes problemas da dupla é a falta de seriedade e o excessiva despretensão que banha o registro, atitude que parecia até abandonada no trabalho anterior, mas que volta em excesso agora, com os californianos lançando composições capengas, fazendo com que em diversos momentos do disco ele ecoe quase como uma obrigação, com a banda compondo de maneira forçada e nada inventiva.

Durante toda a execução do trabalho fica difícil saber o que a banda pretende alcançar com o disco, que longe dos mesmos acertos e maturações que preenchem o lançamento de outros grupos que surgiram na mesma época parece inclinado ao erro – talvez aí resida a verdadeira proposta da banda em seu recente disco. Desgovernado, Endless Flowers transforma o Crocodiles novamente em uma dupla de adolescentes, todavia, longe de revelar um trabalho jovial e empolgado, o álbum acaba soando de forma desesperada, com a dupla se entregando abertamente aos excessos e errando feio. A mão segura de um bom produtor ainda é essencial para a dupla, pena que eles ainda não tenham percebido isso.

Endless Flowers (2012, Frenchkiss/Sounterrain Transmissions)

Nota: 5.5
Para quem gosta de: Crystal Stilts, Women e Bass Drum of Death
Ouça: Hung Up on a Flower

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.