Disco: “Endless Now”, Male Bonding

/ Por: Cleber Facchi 23/08/2011

Male Bonding
British/Indie Rock/Punk
http://www.myspace.com/malebonding

 

Por: Cleber Facchi

O que esperar de uma banda que há pouco mais de um ano lançou sua estreia e ainda sem descanso parte para a produção de seu novo álbum? A resposta está com o trio britânico Male Bonding, que logo após ganhar o reconhecimento da crítica por conta de sua mais do que elogiada estreia volta com um novo disco, apresentando uma sonoridade completamente distinta e incrivelmente tão satisfatória quanto a que foi entregue anteriormente. Afrouxando os lanços com a música punk e se aproximando dos anos 90, a banda londrina faz de Endless Now (2011, Sub Pop) menos barulhento, porém ainda assim enérgico e original.

Muito do que traduz aquilo que fora proposto por Kevin Hendrick, Robin Silas Christian e John Arthur Webb em seu primeiro álbum estava estampado na capa do agressivo Nothing Hurts, com uma imagem apresentando uma estranha parede de tijolos, com alguns blocos posicionados de forma disforme logo em frente do mesmo sujo paredão. Embora simplista, a imagem expõe com primor exatamente o que o grupo desenvolve em sua estreia: um som opaco, duro e sujo, em que versos distribuídos de maneira disforme se posicionam logo à frente das bases instrumentais.

Assim como a capa do primeiro álbum parecia dizer tudo sobre o som projetado pelo trio inglês, em Endless Now isso não é diferente. A misteriosa imagem que ilustra o disco, expondo o que parece ser a foto de uma corredeira desfocada funciona como uma grande analogia para as guitarras cada vez mais distantes do punk rock seco do primeiro disco, e agora levemente voltadas ao noise e ao rock alternativo do final dos anos 80. Distinto, imerso em cargas de distorção, mas ainda assim límpido (fruto óbvio das gravações no lendário Dreamland Recording Studio, em Woodstock, Nova York) o álbum é sem dúvidas o início de um novo caminho trilhado pela banda.

John Angelo, que assume a produção do álbum traz para dentro da sonoridade do Male Bonding muito do que fora desenvolvido em outros projetos com os quais esteve envolvido, tirando o que ainda havia das raízes britânicas do grupo e de certo modo os “americanizando”. Trabalhando na produção e mixagem de discos como Beyond e Farm do Dinosaur Jr e Rather Ripped do Sonic Youth, Angelo quebra o ritmo anárquico que fora propagado pelo grupo em sua estreia, o que obviamente acaba excluindo uma das principais características da banda, mas que força o trio a experimentar novos rumos em sua instrumentação.

Embora menos jovial, o que pode resultar em críticas que apontem um “amadurecimento precoce” na carreira do trio, Endless Now investe forte no uso de composições melódicas, que ao vivo devem se transformar em verdadeiras armas nas mãos do grupo. As faixas, que antes não ultrapassavam os dois minutos de duração, agora trazem uma instrumentação bem mais elaborada e extensa, o que não é prejudicial em nenhum momento, afinal, Bones, uma das melhores faixas do álbum ultrapassa fácil os seis minutos, garantindo uma sonoridade assombrosamente adulta e uma letra bem mais detalhada.

O trio ainda aproveita para investir em novos tipos de sons dentro do disco, algo bem representado com The Saddle, praticamente uma balada, em que uma instrumentação integralmente acústica se apodera da faixa, algo impossível de ser previsto quando ouvimos novamente a acidez exaltada pelas guitarras de Nothing Hurts. Praticamente um oposto do que foi entregue na estreia do grupo, Endless Now é o tipo de disco capaz de destruir a carreira de uma banda, assim como ter o poder de eternizá-la, caberá aos ouvintes decidirem o que eles preferem, o velho ou o novo Male Bonding. Na dúvida, fique com o segundo.

 

Endelss Now (2011, Sub Pop)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Cloud Nothings, Bass Drum of Death e Yuck
Ouça: Bones

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.