Resenha: “Engravings”, Forest Swords

/ Por: Cleber Facchi 28/08/2013

Forest Swords
Experimental/Ambient/Psychedelic
https://www.facebook.com/forestswords

Forest Swords

Matthew Barnes é um fanático pelas texturas. Vozes transformadas em instrumentos, guitarras encaixadas como samples e uma coleção de efeitos sonoros (sempre densos) que parecem dançar de forma atmosférica a cada novo registro do produtor pelo Forest Swords. É como se o britânico transformasse a própria música em fuga para um novo universo. Sem romper com o cenário proposto em Dagger Paths (2010), EP que praticamente apresentou o trabalho do artista, Barnes recorre ao mesmo detalhamento rico em possibilidades e tramas instrumentais para apresentar o ambiente de Engravings (2013, Tri Angle Records), extensão sombria dos mesmos inventos e a busca do criador em expandir o próprio território.

Aos desavisados, Barnes mais uma vez não parece interessado em facilitar a audição. Das guitarras voláteis que inauguram a condução de Ljoss, passando pelas batidas instáveis de The Weight Of Gold até o Dub sombrio de Friend, You Will Never Learn, no fechamento da obra, tudo é tratado em um sentido visível de experimento e ruptura de qualquer conforto sonoro. O que inicialmente arquiteta a formação da obra, em segundos arremessa o trabalho para um novo direcionamento, com o produtor alcançando um esforço instrumental ainda mais amplo e por vezes até excêntrico do que o apresentado há três anos. Se a atenção de Matthew é dada às texturas, então Engravings é um trabalho feito inteiramente delas.

Em um sentido de continuação ao registro desenvolvido anteriormente, Barnes faz de cada faixa instalada no registro como um agregado de pequenas informações que aos poucos revelam o todo. Basta focar na engenharia complexa de Onward, quarta faixa do disco, para entender isso. Inicialmente desenvolvida em cima de um loop seco de ruídos, a canção lentamente é acrescida de uma camada sublime de guitarras e sintetizadores, instrumentos que alternam a crueza inicial com uma sensibilidade rara – mesmo dentro dos anteriores projetos do músico. Outras como Gathering e Anneka’s Battle partilham do mesmo efeito, como se o britânico primeiro barrasse a audição, para só depois presentear o espectador.

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Observado de forma atenta, Engravings surge uma exata representação dos mesmos inventos praticados há três anos. A mesma estrutura atmosférica, os mesmos overdubs abafados e a tapeçaria excêntrica que parece desenrolada com parcimônia. Todavia, longe de cair em redundância e estabelecendo um sentido de novidade, Barnes traz na presença ampliada dos instrumentos um ponto de transformação e distinção ao registro. Apenas o passeio pelas guitarras nada econômicas de The Weight Of Gold já servem para justificar isso. Soando como um encontro entre Peaking Lights e The Haxan Cloak, a composição traz o britânico em um percurso inventivo pelas bases, expandindo um solo que atua em oposição aos sons testados até então pelo artista.

Mesmo o percurso de lento afastamento não inviabiliza a chance de Barnes em resgatar aspectos bastante específicos dos singles e projetos anteriores. É o caso dos sons que respiram em An Hour, uma das composições mais detalhistas do registro, mas que lentamente mergulha na atomsfera intransponível de ruídos e texturas acumuladas previamente pelo artista. Thor’s Stone, por sua vez, atua em um efeito de oposição. Inicialmente hermética, a canção traz nos samples de vozes um exercício de crescimento, como se por alguns segundos as tramas noturnas de Forest Swords esbarrassem em um colorido matinal.

Consumido pelo detalhe – ainda que o aglomerado de sons e tramas instrumentais ecoem em oposição -, Engravings é uma obra que acerta justamente por romper com a homogeneidade. Cada música se sustenta como um objeto específico, orientado de acordo com as exigências de seu criador. Em uma dança lenta que mistura psicodelia (The Weight Of Gold), marcas regionais (Irby Tremor) e a leveza do dub (Anneka’s Battle) em um mesmo ambiente, Barnes escapa com acerto da timidez, levando com ele qualquer um que se atreva a visitar o estranho cenário apresentado no disco.

 

Engravings (2013, Tri Angle Records)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: The Haxan Cloak, Fuck Buttons e Peaking Lights
Ouça: Thor’s Stone, The Weight Of Gold e An Hour

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.