Disco: “Então Morramos”, Simonami

/ Por: Cleber Facchi 29/10/2013

Simonami
Brazilian/Indie Pop/Alternative
http://simonami.art.br/

Por: Cleber Facchi

Simonami

É curiosa a sensação de ser parte de uma obra, sem realmente fazer parte dela. Agrupado de reminiscências melancólicas e doses controladas de nostalgia, Então Morramos (2013, Independente), registro de estreia do grupo curitibano Simonami é um disco raro, capaz de falar diretamente com o ouvinte sem parecer intencionado a isso. De leveza evidente, o trabalho esforça no resgate de pequenas memórias  dos integrantes – ou do próprio ouvinte – um princípio natural para a construção das faixas. Um atento jogo sorumbático de olhar para o passado, brincar de forma tímida com as líricas e aconchegar o espectador a cada nova canção.

Ponto de encontro para as ideias e confissões do sexteto paranaense – formado por Lio, Fer, Lay, Shan, Jean e Luís -, o trabalho assume no detalhamento melancólico e semi-artesanal a base para que todo um pequeno universo de referências seja lentamente construído. São pouco mais de 30 minutos em que sonhos, percepções e sentimentos dançam em um acervo ponderado de violões, parca percussão e vocais amplos. Colecionando experiências, o trabalho parece crescer em uma medida particular, como se a cada nova canção, o ouvinte fosse sugado com leveza para o cenário triste que o coletivo arquiteta.

Construído de forma a ser visitado diversas vezes, o disco oculta na tapeçaria simples uma sequência de arranjos que talvez custem a fluir em totalidade para o ouvinte afobado. Trata-se de uma obra a ser absorvida com nítida parcimônia, autorizando, dessa forma, que as pequenas recordações entregues pela lírica da banda sejam materializadas visualmente, no inconsciente do espectador. Projetadas em nuances tímidas (principalmente de vozes), o trabalho dança com suavidade em uma medida particular de tempo, um exercício que lentamente substitui as barreiras naturais a que está submetido, por um trançado confortável e de beleza intimista.

Ninguém como você soube me vigiar/ Enquanto eu roubava bolsinhas da minha vó/ Pra jogar fliperama”. Os versos delicados que brindam Fantasma, quinta canção do álbum, representam com detalhe tudo o que caracteriza o disco. Movido em essência pela nostalgia e um olhar carinhoso em relação à infância, Então Morramos é um trabalho que coleciona um bloco imenso de marcas específicas do passado. Um exercício atento que esbarra na lírica pueril de Coisas da Escolinha, brinca com as palavras no esconde-esconde de Janela, até se perder no jogo de instrumentos que mais parecem a entrada para um cenário de enquadramento onírico.

Entre versos em português e castelhano (Soledad, Sin Premura), o trabalho esconde na fragilidade dos temas um sentimento presente de efemeridade. É como se todo o disco estivesse a ponto de se desfazer nos ouvidos do espectador, o que faz de cada acorde, ruído ou sutil emanação vocal um ponto de sustento para o ouvinte. Parte desse resultado vem do controle visível de Vinícius Nisi (A Banda Mais Bonita da Cidade/Lemoskine), produtor do disco e responsável em manter todos os elementos condensados em um só ponto. Gravado ao vivo, com todos os membros em estúdio, o trabalho reforça o tratamento orgânico, raspando na estética lo-fi, sem necessariamente se perder nas reverberações sujas.

Embora marcado pelo cuidado dos arranjos, Então Morramos não priva o coletivo de pequenos tropeços. Resultado evidente disso está no eixo final da obra, em que canções essencialmente caseiras, como Ampulheta, parecem destoar da limpidez que orienta o restante do disco. Mesmo a simplicidade, tão significativa para a construção de músicas como Fantasma, por vezes limita a atuação da banda, que reforça o quanto busca ser grande em músicas como Janela e Nós-Um. Entretanto, o preciosismo que movimenta os versos e sons contorna com maturidade os erros, fazendo da estreia do grupo uma obra a ser revisitada e o princípio de um projeto que mesmo preso melancolicamente ao passado, parece já ter encontrado um caminho seguro para o futuro.

 

Simonami

Então Morramos (2013, Independente)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Ana Larousse, Phill Veras e Cícero
Ouça: Janela, Fantasma e Nós-Um

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.