Ano: 2013

Selo: Young Turks

Gênero: R&B, Eletrônica

Para quem gosta de: Arca, AlunaGeorge

Ouça: How's That, Water Me

8.2
8.2

Disco: “EP2”, FKA Twigs

Ano: 2013

Selo: Young Turks

Gênero: R&B, Eletrônica

Para quem gosta de: Arca, AlunaGeorge

Ouça: How's That, Water Me

/ Por: Cleber Facchi 18/09/2013

FKA Twigs

Quase duas décadas separam a estreia do Portishead, com o álbum Dummy (1994), da sonoridade obscura que lava EP2 (2013, Young Turks), mais novo registro da também britânica FKA Twigs. Se em meados da década de 1990 a provocação e o erotismo expostos por Beth Gibbons se solucionavam no clima jazzístico/letárgico acionado por Geoff Barrow e Adrian Utley, ao brincar com o presente álbum a jovem aprendiz parece ir ainda mais longe. Imagens, vídeos e um efeito naturalmente perturbador desse resultado ultrapassam os limites impostos da música, proposta que soluciona o atual projeto como um registro de grandeza ilimitada, um efeito que inicia nas canções, mas que se esparrama com acerto para outros territórios.

Quem assistiu ao vídeo de Water Me, lançado há algumas semanas, talvez tenha uma noção mais acertada do que caracteriza a obra da cantora/produtora inglesa. Utilizando da música como um princípio, Twigs se converte em um material para a própria obra, emprestando não apenas os vocais envolventes que comporta, mas o corpo, o sofrimento e as emoções. Apresentada de forma misteriosa ao final do último ano, a artista encontra no presente EP um salto criativo para o que parecia sussurrado delicadamente nos versos de Breath. Se há alguns meses a artista era apenas mais uma figura (estranha) dentro da nova safra da eletrônica/R&B britânico, hoje ela prova ser algo a mais nesse universo.

Mergulhada em um cenário propositalmente obscuro e erótico, como algumas composições tendem a se manifestar, Twigs vai desenrolando cada uma das músicas dentro de uma medida de tempo própria para a obra. Anunciada pelo Trip-Hop melancólico de How’s That, faixa de abertura do disco, o trabalho surge acomodado em uma trama ponderada de batidas, sintetizadores opacos e percussão cuidadosamente instável. É como se a artista aos poucos transformasse todo o EP em uma cama de lençóis soturnos, ora preparados de forma a sufocar o espectador, ora inclinados arrastar o ouvinte para um jogo denso de carícias. Um exercício constante de desespero e provocação que se expande com maior sexualidade em Papi Pacify, composição seguinte da obra e um passeio curioso pelo Future R&B.

Instável, EP2 encontra na chegada de Water Me um princípio para a experimentação. Com produção assinada pelo misterioso ARCA – produtor envolvidos na construção de Yeezus, último álbum de Kanye West, além de ser autor da mixtape &&&& -, a canção assume nas batidas arrastados o princípio para um caminho torto que alimenta o restante da obra. Sustentada em cima de uma temática densa e vozes onduladas da própria cantora, a composição suavemente condensa ruídos e vocais em um território inexplorado, distante das passagens pelo R&B para lidar com um cenário consumido em totalidade pela ruptura. É quase possível observar a canção como um objeto isolado dentro da obra, base para o que Twigs pode aprimorar em um futuro próximo.

Intencional, ou não, a presença de ARCA fura a estrutura regular instalada nas duas primeiras músicas, transformando Ultraviolet, canção de encerramento da obra, em um jogo instável de reverberações densas. Partindo do mesmo princípio instalado na faixa de abertura, How’s That, a canção carrega nos vocais (agora) ásperos de Twigs para um resultado semi-caótico, como se os lençóis, outrora impregnados pela erotização, fossem simplesmente rasgados. Pervertendo conceitos que se transformam em música pop nas mãos de AlunaGeorge e Jessy Lanza, a canção arrasta o ouvinte para uma barreira crescente de ruídos, como se a música anunciasse um tipo de futuro, ainda mais instável, para a estética de FKA Twigs.

Intencionalmente distante de seguir qualquer pista anunciada por outro artista próximos, EP2 deixa claro o quanto a proposta da cantora britânica se manifesta em isolamento e precisão. Vozes, sons, versos e todo o arsenal sonoro que definem a obra parecem fugir a todo o instante do convencional. Há um toque nostálgico inegável na formação de algumas canções – herança clara de Tricky, Massive Attack e a já mencionada tríade Portishead -, mas nada que a jovem cantora não seja capaz de romper dentro de uma linguagem cada vez mais instável. Para quem entendia o Trip-Hop como um fruto musical específico dos anos 1990,  Twigs reforça com beleza o quanto ele se faz ativo e atual.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.