Disco: “Ersatz G.B.”, The Fall

/ Por: Cleber Facchi 10/11/2011

The Fall
British/Alternative Rock/Post-Punk
http://www.myspace.com/fallthe

Por: Cleber Facchi

 

Perdoem os fanáticos pelo trabalho dos grandes dinossauros do rock ainda em atividade ou memoráveis veteranos do rock alternativo que insistem em se manter de pé: nenhuma banda ativa com mais de 30 anos de carreira consegue igualar o vigor e o fôlego exaltado pelo britânico Mark E. Smith e seus parceiros do The Fall. Na ativa desde 1976, a banda de Manchester segue firme na produção de seus discos, mantendo um fluxo produtivo constante, além de trabalhos sempre intensos e capazes de bater de frente com qualquer dito prodígio do novo rock.

Contrários à regra que lentamente vai diminuindo o fôlego de artistas inicialmente marcados pelo jogo de versos memoráveis e guitarradas sempre radiantes, o grupo britânico (hoje) formado por Mark E. Smith, Elena Poulou, Dave Spurr, Pete Greenway e Keiron Melling segue fazendo uso de uma constante soma de guitarras enfurecidas e versos nada óbvios ou descartáveis. Utilizando da maturidade a seu favor, o quinteto lançou ao longo da última década um conjunto de sete registros, álbuns que conseguiram manter uma linearidade musical convincente e tão ou mais intensa quanto em suas obras iniciais.

Melhor exemplo da boa forma da banda está no ainda recente Your Future Our Clutter, trabalho apresentado em abril de 2010 e registro que posicionou com destaque o quinteto em algumas das principais publicações musicais do planeta. É justamente dentro dessa somatória de acertos que os ingleses chegam agora Ersatz G.B. (2011, Cherry Red), vigésimo nono registro em estúdio do grupo e trabalho que mais uma vez reforça a boa forma dos britânicos e principalmente de Mark Smith, criador do The Fall e único membro da formação original da banda.

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Feito um garoto de 20 e poucos anos, Smith passeia descompromissado pelo disco, despejando versos carregados de ironia e pequenos retratos de um universo excêntrico que há tempos parece o acompanhar. Instrumentalmente o inglês de 54 anos deixa todas suas tarefas para os companheiros de banda, assumindo de forma quase solitária a totalidade dos versos e os vocais que delimitam o trabalho, fazendo dessa mínima tarefa um exercício sempre bem explorado e convincente, com o britânico transparecendo a imagem de um indivíduo que realmente se importa e sente-se motivado pelo que faz.

Por mais que Smith seja a grande estrela da banda e aparentemente a voz final de todas as decisões, a presença dos demais integrantes do quinteto em nenhum momento pode ser observada como a de uma mera banda de apoio ou um conjunto de indivíduos que seguem de forma imutável as opiniões de seu líder. Muito do que garante a boa forma do The Fall está na participação ativa dos demais componentes da banda, músicos que interferem ativamente na produção e construção do álbum, seja ao se dividir na construção das letras de todas as 10 faixas do disco, cantando (como em Happi Song) ou orquestrando de forma primorosa cada uma das músicas do trabalho.

Embora Ersatz G.B. não comporte a mesma sucessão de acertos encontrada no registro anterior – de fato uma das grandes obras de toda a discografia da banda de Manchester -, o álbum se movimenta satisfatoriamente, estabelecendo uma série de faixas memoráveis como Monocard e Greenway. Mais do que um bem desenvolto registro, o álbum se apresenta (mesmo que involuntariamente) como um belo exemplo de como uma banda pode alcançar a maioridade sem que para isso precise decepcionar seu público ou se entregar à produção de sons cada vez mais enfadonhos ou pouco convincentes. Vida longa e próspera ao The Fall.

Ersatz G.B. (2011, Cherry Red)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Wire, Pre Ubu e Magazine
Ouça: Greenway e Happi Song

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.