Disco: “Estação EP”, Projeto Sonho

/ Por: Cleber Facchi 14/01/2012

Projeto Sonho
Brazilian/Post-Rock/Instrumental
http://www.facebook.com/pages/Projeto-Sonho/119493844836577

Por: Cleber Facchi

 

Talvez pela completa ausência de vocais e a busca por um som inteiramente experimental não seja difícil nos depararmos com projetos voltados ao rock instrumental que trafeguem por vias demasiadamente frígidas e incapazes de se aproximar do ouvinte de forma calorosa e natural. É como se a soma de guitarras etéreas (ou em vezes raivosas) estabelecesse uma barreira imaginária entre o ouvinte e a banda, cercando os componentes do grupo em um ambiente hermético e particular. Sensação somente rompida por parcos grupos nacionais, bandas como a paranaense ruído/mm, a pernambucana A Banda de Jospeh Tourton e mais recentemente pelo quinteto alagoano Projeto Sonho.

Trazendo como idéia central o ciclo da formação da vida, a banda criada em meados de 2008 na cidade de Maceió faz do primeiro EP um registro completo, uma verdadeira analogia da criação e encerramento da existência. Denominado Estação (Popfuzz/Sinewave), o álbum passeia ao longo de cinco faixas por uma concisão de elementos que mais do que retratar a criação da vida, instituem uma forte aproximação com o ouvinte, fazendo com que mesmo sem diálogos o grupo estabeleça uma sintonia psíquica, transformando acordes, efeitos percussivos e ruídos em volumosas palavras.

Com uma tendência musical visivelmente voltada ao pós-rock em seus contornos mais místicos, o registro inicia em meio a curta explosão cósmica de Tormenta, abrindo caminho para a sequência de composições guiadas integralmente pelo uso das guitarras (três no total) que findam nos acordes levemente ensolarados da doce Aurora. Entretanto, antes de completado o ciclo, a banda nos arrasta por entre um mundo de formas repletas de texturas, sons que dialogam entre si e a constante idéia de formação da vida, elemento que provavelmente explique a capacidade do grupo em proporcionar um registro inteiramente próximo do ouvinte.

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Climático, o trabalho lembra em diversos momentos o Explosions In The Sky do álbum The Earth Is Not a Cold Dead Place, onde densas e alongadas melodias se estendem por todo o disco, repassando a todo o momento uma constante sensação de melancolia e embriaguez. De fato, a construção de paisagens musicais tristes explica em diversos momentos o tom envolvente da obra, algo que a dolorosa A espera do triste fim, terceira faixa do disco traduz no uso de solos sorumbáticos que se contrapõem em meio a bases instrumentais intencionalmente obscuras e uma bateria sempre decrescente.

A projeção constante de camadas – fruto do bem explorado uso de três guitarras – é outro elemento fundamental para o grupo, que tanto funde os instrumentos como os separa, repassando constantemente a sensação de grandiosidade, algo que mesmo as mais singelas criações dentro do EP acabam evidenciando. Outro verdadeiro acerto está na posição das faixas, como se todas fossem instaladas em uma espiral crescente, como a música anterior desse sustento à canção seguinte, justificando assim o fechamento semi-épico que Aurora (com seus mais de sete minutos) estabelece.

Obviamente não há nada de inédito na maneira como a banda arquiteta o trabalho, entretanto, o tom quase confessional do disco e a verve de projeções macambúzias, sempre expostas de maneira honesta e direta proporcionam um enquadramento único ao quinteto. Doloroso e fazendo disso uma premissa básica para todas as canções, Estação revela uma sucessão de cores, formas e distintas convergências musicais que apenas engrandecem o trabalho. Se o EP retrata inteiramente o processo de florescimento da vida (e da morte) em tom criacionista, então o Projeto Sonho se assume como verdadeiro deus para suas criações, formas sonoras que ganham vida e tendem naturalmente a louvar.

Estação EP (2012, Popfuzz/Sinewave)

Nota: 7.8
para quem gosta de: ruído/mm, Kalouv e Explosions In The Sky
Ouça: A Espera do Triste Fim

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.