Disco: “Estrela Decadente”, Thiago Pethit

/ Por: Cleber Facchi 27/08/2012

Thiago Pethit
Brazilian/Indie/Singer-Songwriter
http://www.thiagopethit.com/

Por: Fernanda Blammer

Petit, termo francês utilizado para definir coisas pequenas, diminutas ou sutis. Quase um sinônimo para o que o paulistano Thiago Pethit conseguiu desenvolver ao longo do primeiro registro de estúdio, o delicado e bem recebido Berlim, Texas de 2010. Emaranhado sombrio das mais diversas percepções do músico e do seleto grupo de convidados que o acompanharam, o álbum trouxe na síntese de pequenezas musicais a proposta para um disco de anunciações grandiosas, afinal, enquanto se escondia por trás da simplicidade de um violão, pianos soturnos e raros efeitos de percussão, Pethit crescia de maneira formidável em vista do composto sufocante de versos confessionais e honestos que proferia.

Naturalmente distante dessa mesma base de referências pequenas que definiram a execução de todo o primeiro álbum, o paulistano encontra em Estrela Decadente (2012, Independente) uma soma renovada de influências e predisposições que o encaminham para soar grande em todas as extensões da obra. Longe do clima Folk do trabalho passado – praticamente uma extensão do que o músico havia testado com os primeiros EPs e singles -, Pethit e a nova frente de convidados incorporam uma sonoridade que vai muito além da melancolia intimista e acústica do passado. Com os olhos e ouvidos bem atentos à decadência cultural e política da Alemanha dos anos 1930 e a Nova York da década de 1970, o músico cria um curioso paralelo com São Paulo dos dias de hoje, tornando o disco nostálgico e atual em todas as medidas.

Com letras divididas entre inglês e português, Pethit vai do cabaré ao pop em questão de segundos, promovendo um disco esquizofrênico, diversificado e comercial. Produtor responsável pelo trabalho, Kassin deixa marcas visíveis ao longo de todo o álbum, resultado que se evidencia logo na abertura do disco, com Pas de Deux, uma canção que brinca com o pop contemporâneo de artistas como Lady Gaga, o rock de David Bowie (dos anos 70) e traços confessos da nostalgia sonora e conceitual que Pethit procura na década de 1930. Dentro desse composto variado de tendências, o músico e o produtor estimulam o crescimento de um disco que não apenas parece maior do que o trabalho anterior, como aproxima o cantor paulistano de uma tonalidade impossível de ser prevista há dois anos.

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Talvez com exceção de faixas como Perto Do Fim e So Long, New Love, nada do que Thiago Pethit desenvolve ao longo do novo disco se assemelha ao que fora promovido em um passado recente. Quem espera pelos mesmos realces sombrios que tanto marcaram Mapa-Múndi, Forasteiro e outras grandes composições do músico terá de esperar por um próximo álbum ou talvez regressar aos anteriores inventos do paulistano. Longe dos acordes simplistas de outrora, o músico se entrega abertamente ao uso das guitarras, batidas e pianos reformulados, resultado que bem define toda a extensão de Moon, melhor e mais completo exemplo das transformações que definem a atual fase do cantor.

Curioso notar que justamente por conta dessa necessidade de soar maior e aberto a novos públicos que Pethit esbarra em alguns dos momentos mais desconexos e que exageram perceptivelmente com a proposta do álbum. Da letra boba que muito lembra o comercial dos Bichinhos da Paramlat ao instrumental colorido, Dandy Darling traduz todos os erros do músico no decorrer do álbum, que só se salva por abraçar a calmaria logo em seguida com a realização de Perto Do Fim (em parceria com Mallu Magalhães). So Long, New Love é outra canção que também peca, não pelo instrumental, mas pela letra morosa que custa a cativar. Até Surabaya Johnny, com vocais de Cida Moreira, e uma das melhores do disco, tem em seus momentos deveras “teatrais” um reflexo da irregularidade que preenche e prejudica o álbum.

Da mesma forma que o batom borrado na capa do disco – com Pethit surgindo como uma espécie de James Dean Glam Rock -, Estrela Decadente deixa de se transformar em um trabalho completo e perfeito para brincar com os deslizes, formas tortas e percursos que por diversas vezes estão longe de um resultado assertivo. Esse teor de irregularidade praticamente abastece o álbum do começo ao fim, afinal, cada faixa está longe de favorecer a criação da mesma sonoridade homogênea do disco anterior. Thiago Pethit parece procurar por um espaço apenas seu dentro da música nacional, contradizendo o título do disco e brilhando como uma estrela em ascensão, desnorteada, mas ainda assim prestes a chegar em algum lugar.

Estrela Decadente (2012, Independente)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Tiê, Mallu Magalhães e Vanguart
Ouça: Moon, Pas de deux e Perto Do Fim

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.