Disco: “Eu Preciso De Um Liquidificador”, Graveola

/ Por: Cleber Facchi 13/10/2011

Graveola e o Lixo Polifônico
Indie/Experimental/Alternative
http://graveola.tumblr.com/

 

Por: Cleber Facchi

Estranho quem têm observado o trabalho da banda mineira Graveola e O Lixo Polifônico como algo novo, quiçá inédito dentro do cenário musical brasileiro. Embora pareça como uma alternativa recente aos atentos seguidores da música independente nacional, a banda de Belo Horizonte, Minas Gerais já vem de uma longa data de apresentações ao vivo, pequenas e grandes gravações em estúdio. Entretanto, estranho não observar o grande salto criativo que a banda (estranho catalogá-los assim) dá em seu mais novo trabalho, Eu Preciso De Um Liquidificador (2011, Independente), um projeto que esbanja beleza, experimentos e uma formatação musical rara e habilmente desenvolvida.

Os mais apressados não tardaram em jogar o grupo – praticamente uma imensa família de músicos vindos de distintas vertentes musicais – no mesmo balaio em que artistas tocados pela “febre Los Hermanos” foram ao longo de uma década sendo empilhados. Os cruzamentos entre samba, rock e alguns toques de ritmo latino provavelmente foram os grandes responsáveis por isso, entretanto, o bloco da Graveola não está sozinho, muitas mais referências habitam as suculentas texturas musicais promovidas pelos mineiros, algo que o novo álbum apenas reforça.

Quem observar atentamente a afinação musical neo-hippie que se estende por todo o trabalho do grupo – assim como seu vasto número de integrantes – verá que muito do que delimita os compostos da banda vão além, muito além da geração 2000. Por mais que o indie rock suingado e carregado de referências latinas ainda esteja lá, é nas inspirações poéticas e sonoras que entrecortam tanto a Tropicália como os Novos Baianos de sua melhor fase que o coletivo mineiro encontra seu elemento de acerto.

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Se grandioso é o número de mentes que trabalham por trás de cada uma das canções que brotam ao longo do disco, ainda mais diversificado é o conjunto de ritmos, sons e incontáveis referências que borbulham enquanto se desenvolve o álbum. Sejam as pequenas transições pelo Jazz e a Bossa Nova em Canção para um Cão qualquer e Inverno, o samba em Desenha (lembrando muito os Novos Baianos do disco Acabou Chorare) ou mesmo todo o clima caliente de Desmatelado, tudo se representa de maneira vasta, como um grande passeio por diferentes épocas, estilos e preferências musicais.

Típico registro que deve agradar em cheio aos arcaicos apreciadores da velha MPB, em todas as 14 faixas do álbum é possível encontrar um profundo toque de música brasileira, algo que se anuncia tanto de forma branda e quase imperceptível (O Cão e a Ciência), como de maneira escancarada e adornada em notas verdes e amarelas (Desdenha). Aos pouco instruídos nesse tipo de som, a trinca de abertura do disco proporciona o momento mais “rock” do trabalho, com o grupo moldando boas guitarras e versos que se sustentam em um pop agradável e nunca descartável.

Talvez aos despreparados o vasto jogo de sons que explodem ao longo do disco causem certa dose de desconforto, com o ouvinte desnorteado mediante o plural número de opostos ritmos e tendências que vão se acumulando dentro de cada faixa. Entretanto, esta é a lógica do disco, que cresce justamente através deste amplo conjunto de referências, quebrando assim o título da obra, afinal, a Graveola não precisa de um liquidificador como estampa na capa do álbum, já que a mistura que talvez eles ainda já está pronta desde e a primeira canção do disco.

 

Eu Preciso De Um Liquidificador (2011, Independente)

 

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Marcelo Jeneci, Wado e Tulipa Ruiz
Ouça: Blues Via Satálite e Inverno

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.