Disco: “Eu Vou Fazer Uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito!”, Johnny Hooker

/ Por: Cleber Facchi 26/08/2015

Johnny Hooker
Rock/Alternative/Glam Rock
https://www.facebook.com/Johnny-Hooker/

Exagerado, dramático e cretino. É difícil passar pelo trabalho de Johnny Hooker e sair ileso ao final de qualquer canção. Movido pela catarse, o cantor e compositor pernambucano resume no primeiro álbum de estúdio uma coleção de estilhaços amorosos. Versos que refletem a alma atormentada do artista, provocam arrepios, se afogam em lágrimas e ainda transportam o ouvinte para dentro desse mesmo cenário. Enxugue o rosto, retoque a maquiagem e seja bem vindo ao universo perturbado de Eu Vou Fazer Uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito! (2015, Independente).

Imensa colcha de retalhos líricos e instrumentais, o trabalho que vai da música brega (Alma Sebosa) ao samba de gafieira (Volta) e frevo (Chega de Lágrima) sobrevive como um reflexo da versatilidade de Hooker. Nascido de diferentes composições polidas pelo artista ao longo dos anos – caso de Volta, parte da trilha sonora do filme Tatuagem (2013) -, o álbum lentamente se espalha como um gigantesco labirinto de personagens reais, confissões e relatos alcoolizadas de qualquer indivíduo boêmio.

Você não me procura nem mais, pra saber se eu existo / Não responde meus recados, me trata feito lixo”, desaba o cantor em Alma Sebosa, faixa que reserva uma interpretação digna dos trabalhos de gigantes como Alcione e Ellen Oléria. Em Amor Marginal, o completo desespero do artista: “Minha flor não me machuques / Minha dor não me abuses assim / Não tire magoas / Não tire magoa de mim”. A mesma canção fica ainda mais completa com a chegada da dramática Segunda Chance: “Me profanou, me incendiou, pediu a Deus com toda força que o meu corpo fosse teu / Me consolou, justificou, disse: sou teu”.

Mesmo afundado em sofrimento, importante observar que Vou Fazer Uma Macumba… está longe de parecer um álbum orquestrado apenas pela melancolia. Como pequenos respiros instrumentais, durante toda a obra Hooker espalha diversas faixas marcadas pela completa libertação. Da resposta sóbria em Alma Sebosa – “Acha que a sua indiferença vai acabar comigo? Eu sobrevivo, eu sobrevivo” – ao ritmo carnavalesco de Desbunde Geral – “Levantando poeira no maior festival / O futuro é agora e a vida não freia / Tenha fé n’amor, creia na vida futura”, não são poucos os momentos do trabalho em que o cantor “desperta”, alterando completamente a proposta do disco.

É justamente essa constante ruptura da obra que impede Hooker de reproduzir um trabalho demasiado sofredor, amargo em excesso. É fácil lembrar de artistas como Cássia Eller e Cazuza, não apenas pelo timbre e característico esforço vocal de Hooker, mas principalmente pela forma debochada como o cantor interpreta os próprios sentimentos. Nada é tão triste que não possa ser resolvido com a chegada de um novo amor ou noite de bebedeira, conceito que marcada todo o eixo central do disco e explode na enérgica Chega de Lágrimas – “Chega de lágrimas / Eu vou meter, meter meter, meter”.

Com diferentes passagens pelo cinema e televisão, Hooker transporta um pouco dessa “dramaticidade” das telas para o interior de cada faixa do disco. Difícil não pensar em músicas como Segunda Chance, Volta e Alma Sebosa como pequenos números musicais em um filme dirigido pelo próprio cantor. Uma exagerada comédia romântica, em essência desvendada apenas pelo artista, porém, inevitavelmente íntima de qualquer ouvinte.  

Eu Vou Fazer Uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito! (2015, Independente)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Thiago Pethit, Filipe Catto e Leo Cavalcantti
Ouça: Volta, Alma Sebosa e Chega de Lágrima

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.