Disco: “Euphoric Heartbreak”, Glasvegas

/ Por: Cleber Facchi 23/03/2011

Glasvegas
Scottish/Shoegaze/Indie
http://www.myspace.com/glasvegas

Por: Cleber Facchi

Depois de uma longa espera de três anos (pareceu muito mais) finalmente somos agraciados com o segundo disco de estúdio da banda escocesa Glasvegas. Quem se encantou com a estreia do grupo em 2008, através do disco homônimo que contava com belas composições como Flowers & Football Tops, Geraldine e Daddy’s Gone, sem dúvida alguma terá nesta sequência mais alguns minutos de guitarras submersas em distorções melancólicas e vocais abafados que bebem diretamente dos conterrâneos do The Jesus and The Mary Chain. Com vocês: Euphoric Heartbreak.

Mesmo caminhando dentro do mesmo terreno percorrido no disco de estreia, o novo disco (que tem sua grafia também organizada como EUPHORIC /// HEARTBREAK \) dos escoceses mostra um amadurecimento perceptível passada uma boa audição. Se antes a forma suja com que as guitarras eram tratadas demonstrava a banda em um estágio mais primitivo e bem mais jovial, com essa sequência o quarteto encabeçado por James Allan (e seguido por Rab Allan, Paul Donoghue e Jonna Löfgren) nos mostra um tipo de som muito mais direcional, bem acabado e adulto.

Seja pelas letras introspectivas (quase inaudíveis por conta do som e do sotaque do vocalista) ou por sua sonoridade, o Glasvegas parece bem mais com um experiente quarteto do que com um grupo de jovens na casa dos 20 anos. A velha fórmula do post-punk sujo que compreende grande parte das bandas britânicas soa através do grupo de Glasgow de maneira sempre fresca e inédita. Quase como se fosse a banda criadora desse estilo, e não seus antepassados. Mesmo quem está acostumado com a presença constante de grupos que passeiam por esse estilo (número que cresce diariamente) tem neste registro a possibilidade de encontrar um som agradável e realmente interessante.

Para o primeiro disco, a banda dividiu as gravações entre um estúdio no Brooklyn e em sua terra natal, já com esse novo álbum a escolha do local de gravação parece a mais incoerente possível. Todo o disco foi registrado na casa de praia do vocalista James Allen em Santa Mônica, na Califórnia. Entretanto, o que poderia se transformar em um álbum soando aos frescores ensolarados do local de gravação parece bem mais coerente com o clima úmido e enevoado da cidade natal do quarteto. Acima de tudo, o disco parece funcionar de maneira solta (porém consciente), como se a banda de fato estivesse em casa.

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O álbum funciona não apenas como um belo registro de poluições sonoras controladas voltadas a um nicho específico, mas conta também com uma carga de faixas fáceis, perfeitos arrasa-quarteirões. O primeiro deles é You, canção que se desdobra em distorções produzindo um som uniforme, mas que antes de tudo é pop, fácil e pegajoso, indubitavelmente um dos próximos singles do atual trabalho. A segunda (e já conhecida) é Euphoria, Take My Hand, outra pérola do shoegaze rock comandada por uma belíssima orquestração de guitarras e sons obscuros.

Enquanto alguns artistas que atuam dentro do mesmo gênero e tentam se aventurar pela utilização de sons eletrônicos acabam em muitos casos (vide o último disco do White Lies) fazendo tudo de maneira muito precária ou amadora demais, o Glasvegas brinca com os aspectos sintéticos da música eletrônica de maneira esporádica e bem resolvida dentro do disco. Um claro exemplo é Shine Like Stars, pontuada por uma bateria eletrônica envolvente e pequenos enxertos de artifícios virtuais. O bem resultado se dá pelas doses controladas desse tipo de som, evitando que o grupo produza um som incoerente demais.

Assim como no primeiro disco, a banda dá a Euphoric Heartbreak um caráter de unidade, como se todas as composições do trabalho fluíssem sequencialmente. Como no debut, a faixa seguinte parece coerentemente encaixada com a canção que a antecede, contudo, o álbum não precisa ser necessariamente dentro desse contexto único. Faixas como Stronger Than Dirt, Lots Sometimes e todas as demais canções podem ser apreciadas individualmente sem parecerem comprometidas pelo condicionamento do disco.

Os escoceses podem até parecer donos de um mesmo tipo de som explorado em seu projeto de estreia, porém a todo o momento o buscar de novas instrumentações acaba se revelando dentro desse disco. Há desde experimentalismos e um som mais ambiental na faixa de abertura Pain Pain, Never Again, e mesmo as já mencionadas aventuras pela eletrônica. Até a mãe de Allen acaba figurando pelo disco na primeira e na última canção do trabalho (Change), emprestando seus vocais de maneira cuidadosa. A beleza com que a banda conduz o novo registro de forma firme e amadurecida encanta durante todo tempo, um verdadeiro exemplo do bom emprego de guitarras embrutecidas e sons distorcidos conduzidos de maneira orquestral.

Euphoric Heartbreak (2011)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: The Big Pink, White Lies e Chapel Club
Ouça: Euphoria, Take My Hand

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.