Disco: “Every Open Eye”, CHVRCHES

/ Por: Cleber Facchi 30/09/2015

CHVRCHES
Electronic/Synthpop/Pop
http://chvrch.es/

Não é preciso ir além da capa florida de Every Open Eye (2015, Glassnote / Virgin) para perceber de onde vem a influência do CHVRCHES no segundo álbum de inéditas. Curiosa interpretação da imagem que estampa visualmente o clássico Power, Corruption and Lies (1983), obra-prima do New Order, a foto quadriculada parece ser apenas um pequeno indicativo da base eletrônica, dançante e “empoeirada” que define cada uma das 11 canções finalizadas pelo trio composto por Iain Cook, Martin Doherty e a vocalista Lauren Mayberry.

Versão ainda mais acelerada (e intensa) do mesmo material apresentado pelo grupo no antecessor The Bones of What You Believe, de 2013, com o segundo trabalho de inéditas os membros do CHVRCHES comprovam o que já parecia claro desde o inaugural Recover EP (2013): a surpreendente capacidade de produzir hits. Munidos de um precioso acervo de melodias pegajosas e versos que retratam temas românticos na voz de cada integrante, faixa após faixa, o trio esculpe e encaixa as peças que fazem do disco um precioso catálogo do pop atual.

Da abertura enérgica com Never Ending Circles, passando pela dobradinha Leave a Trace e Keep You on My Side até a avalanche de sintetizadores em Clearest Blue, difícil caminhar pelas faixas de Every Open Eye e não ser arrastado pela colagem de versos e arranjos coloridos que explodem a todo segundo. Em busca de canções mais lentas e sofredoras? Basta uma rápida passagem por músicas como Down Side of Me e High Enough to Carry You Over, essa última assumida pela voz do produtor Martin Doherty.

A principal diferença entre o primeiro e o segundo trabalho do CHVRCHES? A explícita relação entre as faixas. Enquanto The Bones of What You Believe nasceu da colagem de músicas pinçadas de deferentes registros individuais da banda – como o single The Mother We Share e Recover EP -, Every Open Eye soa como um álbum em que as canções parecem pensadas em conjunto, efeito de uma mesma atuação em estúdio. Logo, o aspecto “irregular” que marca o fechamento do disco passado se resolve na formação de uma obra que se projeta em uma única tacada.

Propositada ou não, a melancolia explícita nos versos funciona como componente fundamental para o tom “homogêneo” do registro. Seja na voz doce (e desesperada) de Lauren Mayberry ou no tom sóbrio de Martin Doherty, em Every Open Eye lamentos, medos e confissões parecem fruto de um mesmo personagem sofredor. Um indivíduo que mesmo perturbado por diferentes conflitos amorosos, assume os riscos e passeia pelo ambiente turbulento que sustenta faixas como Keep You On My Side e Make Them Gold.

Mesmo ancorado em diversos elementos do pop britânico dos anos 1980, durante toda a execução de Every Open Eye os integrantes do CHVRCHES não escondem o fascínio pela música incorporada por veteranos e novatos da cena norte-americana. Dos sintetizadores à la LCD Soundsystem em Clearest Blue aos pequenos diálogos com 1989 da cantora Taylor Swift em Bury It e Playing Dead, com o segundo álbum de estúdio o trio inglês abraça diferentes épocas e tendências sem necessariamente perder a própria essência.

Every Open Eye (2015, Glassnote / Virgin)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Passion Pit, Haim e Taylor Swift
Ouça: Clearest Blue, Down Side of Me e Leave a Trace

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.