Disco: “Evil Friends”, Portugal.The Man

/ Por: Cleber Facchi 05/06/2013

Portugal. The Man
Indie/Alternative/Indie Pop
http://www.portugaltheman.com/

Por: Cleber Facchi

Portugal. The Man

A última década teve no abandono de qualquer propósito e possível linearidade instrumental a inspiração para abastecer o trabalho do (hoje) quinteto Portugal. The Man. Transitando pelas experimentações em uma medida vasta e carregada de referências, a banda fez de toda a discografia um catálogo voluntário para o experimento. São obras capazes de brincar com a psicodelia pop em The Satanic Satanist (2009), o Art Rock em Censored Colors (2008) e até pequenas maquinações eletrônicas em American Ghetto (2010). Trabalhos que nunca ocultaram as limitações do grupo, naturalmente muito querido de um público específico, porém incapaz de se relacionar com outros projetos de mesmo gênero e grandeza nunca similar.

Ao alcançar Evil Friends (2013, Atlantic), sétimo registro de inéditas, o grupo de Portland, Oregan apela ao exercício covarde de subtrair a experiência em prol de um emaranhado de canções pop. Do momento em que tem início com Plastic Soldiers, até a paleta de cores revelada na faixa de encerramento, intitulada Smile, cada etapa do trabalho é pontuada por refrões carregados de vozes felizes, alinhamento instrumental preciso e um completo desapego de tudo o que a banda conquistou ao longo dos anos. Uma “evolução” tão forçada, que cheira a brinquedo novo retirado da embalagem. Um som plástico, colorido e naturalmente descartável.

É o melhor disco da banda”, dirão os ouvintes que descobriram o trabalho do grupo há alguns meses, junto do single Purple Yellow Red and Blue. Entretanto, parece estranho entender como evolução um álbum que praticamente renega uma sequência de obras bem estabelecidas em prol de um som simplesmente “mais fácil” e comercial. Aproveitando da onda indie-fofo-coxinha reforçada com Torches (2011) do Foster The People, cada partícula do registro parece servir como trilha sonora involuntária para que garotos de camisa xadrez, bigodes postiços e filtro de Instagram possam dançar balançando os braços e dizendo: “Nossa, como eu amo essa música!”.

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Evil Friends é um disco que se sustenta em completude na farsa do “bom produtor“. Escolhido por razões óbvias, Danger Mouse passa boa parte do disco orquestrando a banda não em uma medida que se relaciona com os trabalhos anteriores, mas como uma cópia de seus próprios inventos ou mesmo de outros artistas que já produziu. Enquanto Creep In a T-shirt poderia ser encontrada sem dificuldades nos trabalhos do Gnarls Barkley – substituindo os vocais de John Baldwin Gourley pelos de Cee Lo Green, claro -, a faixa título parece crescer como uma sobra do que o produtor encontrou com James Mercer (The Shins) no Broken Bells. Até algumas guitarras que sobraram de El Camino (2011) da dupla The Black Keys aparecem vez ou outra. Não estranhe se na capa do disco físico um adesivo com o nome de Danger Mouse surgir maior do que o próprio nome da banda.

Em um ano em que o Vampire Weekend brinca com o pop sem poupar genialidade com Modern Vampires Of City e o Disclosure tinge com nostalgia as canções impressas em Settle, esperto é quem usa de colagens e pequenas cópias para se sustentar. Você pode até dizer que o novo álbum do Portugal. The Man é grudento e difícil de ser evitado, o que ele realmente é, porém, nunca criativo. Enquanto o single chiclete Purple Yellow Red and Blue se vale dos mesmos exageros sonoros e dançantes de Call It What You Want ou qualquer outra música do Foster The People, Hip Hop Kids e Atomic Man borbulham como sobras do que o MGMT deixou em Oracular Spetecular (2007).

Com um apoio ainda maior da Atlantic Records, que em 2011 já havia dado uma boa mostra do que seria capaz de fazer com o som da banda em In the Mountain in the Cloud, ao lançar Evil Friends a banda deixa de lado os lampejos de criatividade em prol da vulgaridade pop. Sim, o grupo deve vender alguns bons exemplares – virtuais e físicos – do novo disco, entretanto, tão logo deve cair nos braços do grande público, em poucas semanas deve ser substituída por um produtor tão banal e descartável quanto o resultado que manifesta no novo álbum.

Evil Friends

Evil Friends (2013, Atlantic)

Nota: 5.0
Para quem gosta de: Foster The People, MGMT e Danger Mouse
Ouça: Atomic Man

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.