Disco: “Excavation”, The Haxan Cloak

/ Por: Cleber Facchi 12/03/2013

The Haxan Cloak
Experimental/Drone/Dark Ambient
http://haxancloak.tumblr.com/

 

The Haxan Cloak

Bobby Krlic é habitante de um universo sombrio e inteiramente consumido pelas trevas. Partidário do uso de experimentações soturnas e bases eletrônicas trabalhadas de maneira próximo do aterrorizante, o produtor (ou seria entidade sobrenatural?) que se apresenta como The Haxan Cloak transforma Excavation (2013, Tri Angle) não apenas em uma extensão do que vem produzindo desde o fim da última década, mas em um refúgio natural para o medo e todos os elementos que o envolvem. Sem jamais se afastar do que parece ser a trilha sonora para um passeio noturno por uma floresta, ou uma visita à uma casa mal assombrada, o britânico transforma o segundo registro da carreira em uma colagem de ruídos que se não forem capazes de assustar, ao menos hipnotizam o espectador.

Assumindo um meio termo natural entre os ruídos claustrofóbicos do Sun O))) (principalmente no que foi alcançado dentro dos inventos extensos de Monoliths & Dimensions, 2009) e boa parte do que ecoa na cada vez menor safra da Witch House norte-americana, Krlic lida com as texturas sempre em busca de um composto uniforme. Cada fração do trabalho, seja ela posicionada no começo ou fim da obra, parece pensada como um todo. Ainda que cada composição assuma uma particularidade distinta dentro do trabalho do produtor, todos os inventos alcançados no decorrer da obra partem de uma estrutura única: um imenso ruído acinzentado que se desmancha de forma comportada durante toda a extensão do trabalho.

Próximo das mesmas sobreposições climáticas que acompanham o trabalho de Holy Other (Held) e Balam Acab (Wander / Wonder), o britânico se afasta dos mesmos experimentos eletrônicos assumidos pelos parceiros de selo (o Tri Angle Records) para se concentrar no acumulo de bases minimalistas obscuras e sempre atmosféricas. É como se tudo aquilo o que foi alcançado por Tim Hecker no decorrer de Ravedeath, 1972 (2011) fosse interpretado de forma sutilmente depressiva e delineada pelo experimental, um resultado que por vezes parte de um possível ritual macabro, vide os pequenos encaixes de vozes que o produtor cuidadosamente incorpora durante toda a construção do disco.

Tomado pela necessidade de reproduzir um som ainda mais hermético, Krlic parece abandonar de forma sutil parte dos inventos que havia construído durante o lançamento do autointitulado primeiro disco do The Haxan Cloak, há dois anos. Enquanto o trabalho de estreia parecia focado em ressaltar as nuances marcadas que proliferavam pela obra – vide a inclusão dos vocais na semi-épica The Fall ou a maneira como a percussão é abordada de forma espalhafatosa durante a construção de The Growing -, em Excavation temos uma completa oposição desse efeito. Ao escavar os ruídos construídos em 2011, o produtor acaba se deparando com uma massa homogênea, talvez uma imensa e quase intransponível rocha de sons que beiram a estabilidade.

Salvo as parcas batidas que se acomodam de maneira aleatória durante a extensão de todo o disco, Krlic trata do álbum como um material compacto, um aglomerado de sedimentos sonoros que concentram boa parte do que foi construído na música de vanguarda desde a segunda metade da década passada até o presente momento. Do clima sufocante que se instala na obra de Krzysztof Penderecki aos inventos orquestrados na fase mais inventiva de John Cage, da massa sombria que circula pelo trabalho do Swans na década de 1980 ao Drone que se proliferou nos anos 1990, tudo parece interpretado dentro de um angustiante e bem planejado cenário próprio.

Não há em Excavation qualquer abertura ou possibilidade maior de aproximação com o grande público. Tudo é pensado de forma bastante complexa, mesmo àqueles já acostumados aos mesmos planos sombrios incorporados pelo britânico no decorrer da obra. É como se o conteúdo que banha o disco não fosse planejado dentro de um estúdio, mas dolorosamente arrancado de uma escavação no próprio cérebro de Bobby Krlic. Dessa forma, assim como no trabalho de Prurient e, em menor escala, na estreia de Andy Stott, o novo álbum de The Haxan Cloak ergue inúmeras barreiras para quem pretende se aventurar pela trama sombria que o disco propõe, tornando posteriormente a saída desse mesmo universo ainda mais difícil, quiçá impossível.

The Haxan Cloak    

Excavation (2013, Tri Angle)


Nota: 8.2
Para quem gosta de: Holy Other, Tim Hecker e Balam Acab
Ouça: o disco todo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.