Disco: “Exercises EP”, CFCF

/ Por: Cleber Facchi 20/06/2012

CFCF
Canadian/Electronic/Ambient
https://www.facebook.com/cfcfmusic/

Por: Cleber Facchi

A música eletrônica parece fluir de maneira distinta nas mãos do produtor Mike Silver. De uma carreira inicialmente calcada em cima de referências mais dançantes e comerciais, o canadense de Montreal foi aos poucos se entregando a pequenas experiências com sons mais introspectivos e levemente experimentais. Uma preferência já visível no registro de estreia do músico – Continent, de 2009 -, mas que se tornou de fato evidente a partir das incontáveis colaborações do artista com remixes para outros nomes da música alternativa, pequenos estudos e reformulações que se revelam com beleza no interior do mais novo lançamento do artista.

Como o próprio nome do registro já aponta, Exercises EP (2012, Paper Bag/Dummy) funciona como uma série de pequenos experimentos e testes musicais elaborados pelo produtor. Espécie de preparação para um álbum maior e que deve estar por vir, o pequeno disco concentra em um agrupado de canções velhas e novas referências, elementos que se fundem de maneira cuidadosa e polida com o passar das faixas, que parecem aos poucos se conectar para gerar um produto maior e mais complexo. Mantendo como regra única o tom brando, as faixas se agrupam de maneira a resultar em um composto tocante, que mesmo longe de grandes inovações consegue prender o ouvinte tamanha sutileza.

De maneira geral, todas as oito composições do disco parecem fluir em duas vias distintas, mas que se completam ao final. Enquanto ao fundo uma base singular assume referências típicas das testadas por Tim Hecker em seus mais recentes lançamentos, como Ravedeath, 1972 (2011) e An Imaginary Country (2009), passeando pela superfície das composições uma atmosférica camada de teclados garantem destaque e complemento ao registro. Ora consumido por uma fluidez totalmente eletrônica e que por vezes remete ao Kraftwerk em momentos menos comerciais, ora mergulhado nos minimalismos de Alva Noto & Ryuichi Sakamto, o disco mantém no autocontrole a resposta para o grande acerto das composições.

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Sempre comportadas, as canções seguem deslizando de forma precisa no interior do registro. A fluidez da notas, sons e ruídos fazem com que uma a uma as faixas se edificam, atingem um ápice instrumental, até se desfazer de maneira tão sutil quanto iniciaram. Em Exercise 7 (Loss), por exemplo, o que inicialmente era um adorável agrupado de harmonias simplistas, logo conta com o complemento de bases em looping, resultando em uma composição que mesmo delicada e frágil alcança contornos e formas mais elaboradas. A mesma “regra” acaba por preencher todas as demais canções, que até o encerramento do trabalho mantém nesse padrão a engrenagem que movimenta o álbum.

Única composição do disco entregue aos vocais, Exercise 5 (September) talvez seja a faixa que mais se aproxima dos anteriores lançamentos do canadense. Lembrando um pouco as ambientações testadas por Jamie XX no single Far Nearer, a canção passeia por uma sonoridade mais dançante, mas que mantém constante a proposta do mesmo som intimista que tanto define as demais composições. Todavia, de todas as principais referências que ocupam o álbum, sem dúvidas a principal delas está na relação do disco com os experimentos desenvolvidos por Daniel Lopatin no Oneohtrix Point Never. É como se Silver encontrasse um caminho menos esquizofrênico do que o produtor construiu ao longo da dupla de discos Returnal (2010) e Replica (2011).

Mais distinto trabalho lançado pelo CFCF até agora, Exercises EP parece encaminhar o norte-americano para um mundo de ambientações que mesmo pouco grandiosas conseguem encantar o ouvinte por meio da delicadeza e do primor das formas. Mesmo que ainda falte ao trabalho de  Mike Silver a mesma abrangência que ocupa outros grandes lançamentos do gênero, o disco e a soma de acertos que se escondem dentro dele já indicam uma nova frente de possibilidades, basta apenas ao produtor saber como utilizá-las.

Exercises EP (2012, Paper Bag/Dummy)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Air France, Oneohtrix Point Never e Emeralds
Ouça: Exercise 3 (Buildings) e Exercise 7 (Loss)

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.