Disco: “Exmilitary”, Death Grips

/ Por: Cleber Facchi 17/05/2011

Death Grips
Hip-Hop/Experimental/Rap
http://soundcloud.com/deathgrips/

Por: Fernanda Blammer

Death Grips

Ainda no baque de Goblin (2011), novo trabalho do californiano Tyler, The Creator (Odd Future)? Achou que Return To 4Eva do Big K.R.I.T. já havia mostrado muito da nova geração do rap norte-americano? Então se prepare para receber mais um dose de batidas hipnóticas, com versos também cruzando os limites da realidade (e da sanidade), dessa vez em um nível ainda mais histérico, mesclando o tradicional com o experimentalismo em uma simbiose única e violenta. Vocês estão convidados a entrarem no universo de Exmilitary (2011), primeiro álbum do coletivo Death Grips e disparado, um dos melhores álbuns do ano, não apenas dentro do hip-hop.

Embora seja definido como um grupo é a figura do baterista e produtor Zach Hill – que entre diversos trabalhos se destaca através da banda de math rock Hella – o grande nome à frente de todo o projeto. Assim como no novo álbum do líder do OFWGKTA, os versos não são o elemento fundamental do disco, mas sim a climatização construída através das batidas e dos ruídos posteriormente inseridos, algo que parece se opor à própria lógica do Rythm & Poetry, mas que a cada nova audição torna-se mais e mais coerente.

Se em 2010 Kanye West e Big Boi levaram para dentro do hip-hop dois álbuns de puro brilhantismo (respectivamente My Beautiful Dark Twisted Fantasy e Sir Lucious Left Foot The Son Of Chico Dusty), esbanjando toda a pompa e os luxos do gênero atualmente, tanto Goblin, como principalmente Exmilitary surgem como uma espécie de oposto disso. Aqui a polidez dos sons e dos versos torna-se inexistente, com o coletivo comandado por Hill cruzando samplers distintos, de Black Flag à Pink Floyd em uma frequência frenética, onde os versos (ou gritos) surgem como um complemento à isso.

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Se uma palavra fosse necessária para definir o som proposto pelo Death Grips, talvez “cru” fosse a mais coerente. A forma com que os versos se intercalam com as batidas (repletas de experimentalismos e inconstância rítmica) repassam uma percepção de instabilidade a todo o momento. Guillotine, primeiro single do disco e uma das faixas mais intensas do ano é um belo exemplo disso. A forma como os vocais quebram as batidas e as batidas se sobrepõem aos versos, numa espécie de minimalismo caótico, transmitem toda a quase anarquia do trabalho ou talvez a quebra de realidade de seus próprios compositores.

Por mais que o álbum se oponha à temática tradicional do hip-hop contemporâneo (que idealiza um mundo de luxos, mulheres e festas homéricas), transitando por uma via quase excêntrica e em determinados momentos difícil de ser absorvida, torna-se possível encontrar composições mais fáceis e menos densas ao longo do álbum. Lord Of The Game é um bom exemplo disso, resultando em um quase reggaeton, acoplado de um ritmo mais acessível e uma letra fácil, que se pendesse para uma sonoridade um pouco mais dançante poderia facilmente se transformar em um bom hit radiofônico.

Entretanto é por sua estranheza e pela consistência de suas faixas que o álbum deve ser lembrado. Não há dúvidas de que Exmilitary jamais alcançará o mesmo Hype que aquele obtido pelos grandes nomes do rap norte-americano, até pelo fato de que este não é e nem pretende ser o desenvolvimento dado ao disco. Talvez seja patético definir o álbum como um produto “à frente de seu tempo” ou como um princípio de novos tempos dentro do rap mundial, a estreia do Death Grips parece muito mais com um desses trabalhos feitos para poucos, mas que posteriormente resultarão em algo ainda mais impactante.

Exmilitary (2011)

Nota: 8.6
Para quem gosta de: Tyler, The Creator, Flying Lotus e OFWGKTA
Ouça: Guillotine e Culture Of Shock

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.