Disco: “EXO”, Gatekeeper

/ Por: Cleber Facchi 12/07/2012

Gatekeeper
Electronic/Experimental/Grime
https://www.facebook.com/Gatekeeper

Por: Fernanda Blammer

Não era preciso muito esforço para perceber que cedo ou tarde o dubstep e carga de influências eletrônicas vindas do território britânico logo aportariam em solo norte-americano. Muito embora a estreia da dupla nova-iorquina Sepalcure no último ano se revele como uma espécie de marco ao gênero, não são poucos os artistas estadunidenses que há bastante se revezavam no desenvolvimento constante de experimentos instrumentais que agregam estas e outras referências típicas da sonoridade britânica. Uma proposta que já se revelava com autêntica inovação nos primeiros lançamentos da dupla de Chicago/Nova York Gatekeeper e que se intensifica com a chegada do primeiro registro oficial.

Denominado EXO (2012, HipposinTanks) o trabalho de 12 faixas encara uma série de referências que há décadas definem a produção inglesa, mas que aqui ganham uma dose de renovação e novas possibilidades nas mãos da dupla. Por vezes encarnando os mesmos acertos que definem o atual panorama centrado na IDM, o registro mantém na condução explosiva e pulsante das faixas a matéria prima para a construção de um disco intenso e que se divide a todo o instante entre o dançante e o conceitual. Sem assumir em nenhum momento uma temática específica, o álbum se abre para um universo de testes e renovações que tendem inevitavelmente ao acerto.

Mesmo donos de um som particular, não são poucos os momentos em que a obra Ross e Arkell se aproxima do mesmo desempenho e sonoridade que bem preenche o primeiro álbum do garoto prodígio Rustie. Da sonoridade crescente e pulsante que costura o toque futurista de Dromos aos beats enérgicos que se sobrepõe para a criação de Bog, vários são os instantes em que EXO parece estabelecer uma íntima relação com as métricas eletrônicas de Glass Swords. Todavia, enquanto o britânico percorre um registro essencialmente dançante e que foca exclusivamente nas pistas, o duo norte-americano se inspira para a criação de um registro experimental e que flerta com uma infinidade de novas tendências e possibilidades.

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Por vezes muito próximos das invenções que caracterizam o trabalho de Daniel Lopatin no último álbum como Oneohtrix Point Never, Replica (2011), a dupla encontra ao longo do disco um gancho visivelmente anfetaminado, proposta que contribui para o clima sufocante de músicas como Vengier e principalmente Tree Drum, canção que parece até ser alguma sobre de estúdio do sempre inventivo produtor. A presença de Lopatin, entretanto, se estende para além das projeções solo do artista, resultado instrumental que se anuncia no tom nostálgico da faixa Hydrus, uma música que até parece alguns dos inventos gerados ao lado do colega Joel Ford com o projeto Games ou mesmo dentro do Ford e Lopatin.

Mesmo que uma infinidade de referências se estenda no decorrer do álbum, não são poucas as composições em que a dupla deixa fluir uma musicalidade própria e rara. Logo de cara na intensa Exolift, segunda faixa do disco, a soma de elementos que define a canção acaba por esbarrar em uma série de temáticas sem de fato se influenciar por algo, deixando apenas que as marcas e preferências da dupla aflorem sem qualquer tipo de controle. Em Encarta, música de encerramento do disco, a atuação dos norte-americanos vai ainda mais além, com o duo incorporando uma série de vozes que atendem a um resultado claramente comercial, além de um som que se distancia de qualquer outra faixa do registro.

Por mais que as experiências que delimitam o álbum sejam muito próximas de uma série de lançamentos e outros projetos que já existem, EXO em nenhum momento pode ser definido como um trabalho óbvio ou convencional. Da mesma forma que a dupla manteve a proposta experimental no EP de estreia, Giza, há dois anos, ao lançar o primeiro álbum oficial a temática não apenas se intensifica como alcança novos resultados. O disco é apenas uma primeira etapa de um universo de sons, gêneros e propostas que a dupla acaba de inaugurar. Das trilhas sonoras dos anos 80 aos elementos que definem o pós-dubstep, cada parte do álbum parece abrir as portas de um mundo novo, onde imagens em VHS se misturam a ruídos dançantes e temas nada convencionais.

EXO (2012, HipposinTanks)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Oneohtrix Point Never, Rustie e Lone
Ouça: Hydrus, Bog e Domus

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.