Disco: “Factory Floor”, Factory Floor

/ Por: Cleber Facchi 12/11/2013

Factory Floor
British/Electronic/Post-Industrial
https://www.facebook.com/factoryfloor

Por: Fernanda Blammer

Factory Floor

Desde as primeiras composições, ainda na década passada, o caminho mais fácil nunca foi a escolha do trio britânico Factory Floor. Herdeiros de todas as referências que marcaram os primórdios da House Music nos anos 1980, e as transformações da música Industrial no mesmo período, o coletivo assumido por Gabriel Gurnsey, Dominic Butler e Nik Colk encontra no primeiro registro em estúdio uma obra de completa desarticulação da própria essência. Em um sentido de ruptura brusca, cada música instalada no autointitulado debut reforça a proposta da “banda” em seguir por um cenário isolado, mesmo onde muito já foi feito.

Sem aberturas para os usuais ouvintes de música eletrônica, o registro de oito extensas composições – duas delas são interlúdios -, encontra nas batidas um princípio básico, porém, eficiente de transformação para o gênero. São loops imensos ou mesmo sequências de até oito minutos em que sintetizadores e vozes são condensados em um único espaço conceitual. Não existem hits, vozes plásticas são praticamente descartadas, mas ainda assim, atravessar os mais de 50 minutos da obra se revela como uma experiência impossível de ser evitada. Sem saber o que está acontecendo, o ouvinte que mergulha em Turn It Up, faixa de abertura do álbum, só consegue regressar quando Breathe In finaliza o disco. Ou talvez nem assim.

Próximo da eletrônica sustentada pelo New Order pós-Brotherhood (1986), o trio se perde a todo instante em meio a um jogo instável de beats e vozes robóticas que demoram a se comportar. É como se todo o cenário pré-Acid House inglês fosse ressuscitado em faixas como Fall Back e Here Again, resgatando de forma atenta toda a composição musical que definiu o mesmo período. O próprio título do projeto, Factory Floor, parece fluir como uma clara homenagem ao selo Factory Records, casa de grupos como Happy Mondays, dos já mencionados integrantes do New Order e, claro, boa parte dos responsáveis pela explosão da eletrônica britânica nos anos 1990.

A intimidade com o passado, entretanto, está longe de ser encarada como o único ponto de sustento do registro. Mesmo que a base do trio esteja voltada ao final dos anos 1980, a cada faixa a relação de experimento com o presente se faz ativa e essencial para a movimentação do disco. Em Two Different Ways, por exemplo, a proposta menos sombria dos sintetizadores aproxima o trio de todo o catálogo de artistas da DFA Records. São arranjos quase coloridos que passeiam pela mesma estética do Holy Ghost! e LCD Soundsystem, porém, sem o mesmo desprendimento pop. Por toda a obra há uma espécie de “bloqueio”, como se ao alcançar o grande público, o trio regressasse ao estágio inicial de experimento.

Mesmo o parcial afastamento em relação a construção de um som comercial de forma alguma priva a tríade de um resultado acessível em determinados pontos da obra. Além da já mencionada Two Different Ways, outras como Fall Back e o groove ponderado de Work Out autorizam o trio a fugir dos próprios limites. Todavia, mesmo nos instantes mais “leves” do álbum, há sempre uma passagem para a construção de um cenário de mudança. Enquanto Fall Back aos poucos se preenche de ruídos em uma composição típica do Industrial, Work Out carrega nas bases e vocais uma relação explícita com o Dub, prova de que nada permanece estável nas mãos do grupo.

Construído de forma a ser visitado diversas vezes, a estreia do Factory Floor esconde em cada faixa um agrupado de essências que custam a se acomodar. Da forma como os vocais passeiam irrestritos ao tratamento mutável que define os sintetizadores (principalmente em Here Again), tudo circula em um turbilhão sintético de composição instável. Assim como o ouvinte começa e termina sem saber exatamente qual a direção assumida pelo trio, o debut, mesmo com todas as pontas amarradas, abre espaço para um jogo de possibilidades ainda maiores dentro da estética do trio. Uma sensação evidente de que o condensado de experiências em Breathe In servem apenas como aviso para o que deve surgir em breve nas mãos e nos passos do Factory Floor.

 

Factory Floor

Factory Floor (2013, DFA)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: New Order, James Holden e LCD Soundsystem
Ouça: Fall Back, Here Again e Two Different Ways

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.