Disco: “Fade”, Yo La Tengo

/ Por: Cleber Facchi 16/01/2013

Yo La Tengo
Indie/Alternative/Indie Rock
http://www.yolatengo.com/

 

Por: Cleber Facchi

Yo La Tengo

Se existe um grupo de bandas marcadas pela impecabilidade da discografia, então o Yo La Tengo se posiciona com honra no topo delas, ao lado de um número reduzidíssimo de outros artistas. Um dos projetos mais antigos e influentes do rock indie norte-americano, o YLT beira os 30 anos de produções ininterruptas, orientando uma sequência de registros que ainda hoje sustentam de maneira fundamental a construção de uma infinidade de novos artistas. Longe de parecer um projeto que se alimenta de velhas produções e acertos do passado, o trio de Hoboken, New Jersey alcança o décimo terceiro registro da carreira provando que a melhor fase da banda se constrói agora.

Sucessor de uma sequência invejável de registros assertivos desde o lançamento de I Can Hear the Heart Beating as One em 1997, Fade (2013, Matador) incorpora ao longo de dez composições mais uma sucessão de elementos que apenas solidificam a marca da banda. Trazendo de volta alguns traços fundamentais que alicerçaram a carreira do grupo – hoje composto por Georgia Hubley, Ira Kaplan e James McNew – no começo da década de 1990, o novo álbum possibilita o aflorar das guitarras, das distorções controladas, e, de forma bastante nítida, a sutileza dos vocais, elemento que desde o álbum And Then Nothing Turned Itself Inside-Out (2000) passa por um processo de constante aprendizado.

Longe de reviver apenas o que há de mais sutil e por vezes caricato na obra do grupo – principalmente passadas as transformações assumidas em 1997 -, com a chegada de Fade a trinca deixa fluir pequenas doses de rebeldia. É como se ao longo do álbum as guitarras (como as que recheiam Paddle Forward e em menor medida Ohm) brincassem de maneira controlada com o bem humorado projeto paralelo do grupo, o Condon Fucks. Espécie de versão contrastada do trio, a banda teve vida em meados de 2008, aparecendo agora como um elemento de complemento à obra, que ainda intercala o que há de mais maduro e característico na essência do Yo La Tengo com uma soma de fundamentais particularidades há tempos ocultas, entre elas os arranjos de cordas.


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Preferência incorporada ao trabalho do trio há bastante tempo, porém dissolvida em doses atmosféricas e pouco expressivas, as cordas finalmente ganha destaque no decorrer da atual obra. Quanto mais o álbum cresce, mais a grandeza sofrida do violoncelo toma conta do disco, se misturando aos encaixes de ruídos minimalistas que se escondem em cada faixa. Na execução de Is That Enough, por exemplo, a busca por uma musicalidade amena acaba por aproximar os norte-americanos da mesma natureza melódica que marca a trajetória do The Magnetic Fields, grupo conterrâneo comandado por Stephin Merritt e que parece ser a principal influência para o trio no decorrer do recente álbum.

Dentro desse universo que resgata velhas preferências, além da maior valorização de alguns elementos há tempos “esquecidos” na obra da banda, é clara a valorização de pequenos ineditismos. Exemplo bem resolvido disso está na construção de Well You Better, faixa que se aproxima (de forma controlada) da música negra recente, suingando nas guitarras bem resolvidas de Kaplan. A própria incorporação de metais em Cornelia and Jane também revela uma significativa carga de transformações no álbum, como se a banda valorizasse a mesma sequência de cores que estimularam o crescimento de Popular Songs em 2009.

Com uma variedade de referências, encaixes sonoros que se aproximam do novo, a banda deixa crescer um trabalho que só parece possível de ser alcançado quando voltamos nossos olhos para a extensa e naturalmente rica discografia do grupo. É como se um mínimo detalhe da produção da década de 1980, as transformações nos anos 90 ou mesmo a maturidade incoporada na produção de 2000 estivesse diluída em doses fundamentais no executar do presente álbum. Dessa forma Contradizendo a proposta de fechamento assumida no título do trabalho, em Fade o Yo La Tengo prova (mais uma vez) que está longe de encerrar as atividades e de perder o caráter inventivo, pelo contrário, o grupo está só começando.

 

Yo La Tengo

Fade (2013, Matador)


Nota: 8.0
Para quem gosta de: Pavement, Guided By Voices e Galaxie 500
Ouça: Ohm, Cornelia and Jane e Well You Better

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.