Disco: “Faith in Strangers”, Andy Stott

/ Por: Cleber Facchi 27/11/2014

Andy Stott
Experimental/Electronic/Techno
https://soundcloud.com/modernlove/

Por: Cleber Facchi

A simples incorporação de vocais e novas estruturas melódicas durante o lançamento de Numb, em setembro de 2012, serviu como alerta para a mudança de direção no trabalho de Andy Stott. Em um intervalo de poucos meses, o produtor britânico havia abandonado a estrutura rústica incorporada em Passed Me By e We Stay Together, ambos de 2011, para mergulhar em um som reconfigurado, leve, princípio para os conceitos que seriam ampliados com a chegada de Luxury Problems, do mesmo ano. Ao apresentar Violence, há poucos meses, Stott – mais uma vez -, parecia anunciar uma nova direção.

Inicialmente branda, a faixa segue com as experiências lançadas no registro anterior, entretanto, basta que Alison Skidmore – colaboradora desde o álbum de 2012 – apareça para que toda a estrutura assinada pelo produtor desmorone. Enquanto regressa ao espaço autoral tecidos nos EPs de 2011, todo um novo jogo de referências confortam a canção, reforçando um palco de pequenas novidades. Ruídos metálicos, vozes sombrias e isolamento. Uma fração dos temas ampliados em essência com Faith in Strangers (2014, Modern Love).

Talvez reflexo de recentes inventos do artista, com o segundo registro oficial, Stott busca se esquivar da produção de um conteúdo homogêneo. Grande parte das experiências ampliadas pelo registro nascem como uma natural extensão do som entregue há poucos meses pelo Millie & Andrea, projeto paralelo dividido com Miles Whittaker, do selo Modern Love. Perceba a maior flexibilidade dos temas em Demage, uma representação do lado “comercial” do britânico.

Como explícito no interior de Science And Industry e demais faixas cortadas pela voz de Skidmore, em Faith in Strangers, pela primeira vez, Andy Stott ressalta a “mensagem” e não apenas o “som”. Mais do que levantar imensos paredões ambientais, como em Luxury Problems, com o presente álbum pequenas desilusões sentimentais são condensada no interior dos versos, completos pela rústica interferência de ruídos eletrônicos que parecem vindos de algum lugar no começo dos anos 1990.

Ao mesmo tempo em que desenvolve “diálogos” breves com o ouvinte, músicas como no Surrender e Missing transportam Stott e o próprio ouvinte para um cenário tomado pelo abstrato. Enquanto a primeira canção disseca a música Techno, preenchendo a lacuna dos sintetizadores com batidas rústicas, típicas dos registros de 2011, a canção de encerramento desconstrói todo o plano atmosférico concebido até Anytime Soon, single apresentado no último ano como parte da coletânea Adult Swim.

Inaugurado pela leveza de Time Away, Faith in Strangers leva tempo até ser absorvido ou mesmo observado em completude pelo ouvinte. Com exceção de How It Was e dá já mencionada canção de abertura, todo o material entregue no decorrer da obra nasce da colagem de fragmentos antigos e recentes do produtor. Blocos de dois ou três atos, como se Andy Stott soldasse todo o material concebido nos últimos meses em uma esfera metálica imensa, suja e de formas ainda indefinidas.

 

Faith in Strangers (2014, Modern Love)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Millie & Andrea, Actress e Tim Hecker
Ouça: Violence, Demage e Faith in Strangers

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.