Disco: “Fallen Empires”, Snow Patrol

/ Por: Cleber Facchi 11/11/2011

Snow Patrol
Scottish/Pop/Britpop
http://www.snowpatrol.com/

 

Por: Cleber Facchi

 

Dentre todas as bandas britânicas que surgiram nos últimos 15 anos e que se apresentam como dissidentes óbvias dos ensinamentos mestrados por Bono Vox e seus parceiros do U2 , os escoceses do Snow Patrol são os que melhor evidenciam o estranho fenômeno que o público exerce sobre o trabalho de determinados artistas. Formada em idos de 1994 na cidade de Dundee, o grupo que apresenta agora seu sexto trabalho em estúdio apenas transparece o quanto a adoração dos fãs muitas vezes serve para ocultar um registro enfadonho, sonolento e distante de qualquer possível acerto.

Quando Songs for Polarbears, primeiro registro do grupo foi apresentado em agosto de 1998, o conjunto de 14 bem exploradas composições presentes no disco transparecia todo o esforço de um projeto iniciante. Era simplesmente visível a mobilização de canções desenvolvidas com afinco (mesmo que limitadas por elementos técnicos) e acima de tudo: um jogo de versos cuidadoso, sincero e trabalhado de maneira espetacular por seus criadores. A força do registro foi tanta que boa parte da crítica não poupou esforços em elogiar o disco. Até mesmo a gigante Pitchfork Media, sempre avessa a trabalhos vindos do Reino Unido acabou cedendo e garantindo uma alta pontuação ao álbum. O público, obviamente, não estava lá.

Entretanto, estranho observar que essa mesma sucessão de acertos que delimitam todo o primeiro álbum do grupo escocês em nenhum momento pode ser identificada em seu novo registro, Fallen Empires. Tomado pela mesma fórmula repetitiva que o grupo engatilhou há cinco anos com a chegada de Eyes Open, o álbum revela um extenso catálogo de sons convencionais e característicos, faixas que surgem como “novas” a cada “novo” lançamento da banda e que cada vez mais ocultam a beleza explorada pelo grupo em seus anos iniciais.

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Provavelmente aos fãs – indivíduos muitas vezes desprovidos de qualquer noção da realidade e que se contentam com todo mínimo ruído propagado por sua intocável banda – boa parte das 14 faixas que caracterizam o recente disco surgirão curiosamente inéditas e encantadoramente renovadas. Contudo, basta um mínimo esforço (não é difícil) para perceber que grande parte do trabalho (algo como 90% dele) se apresenta como a mais pura enrolação e falta de empenho de seus idealizadores, que parecem muito mais interessados em viver dos louros do passado do que proporcionar algo novo em si. O público, obviamente, acha tudo o máximo.

Assim como no registro anterior, A Hundred Million Suns de 2008, o recente álbum concentra a velha sucessão de composições melódicas que há tempos ditam os rumos do grupo. Pianos melancolicamente projetados, guitarras carregadas de efeitos, vocais encaixados de forma a soarem épicos e a bateria com um leve eco que ao ser apresentada ao vivo deve arrancar lágrimas do público. Seguindo essa mesma fórmula do princípio ao fim do disco, a banda vai projetando faixas como Called Out In The Dark, This Isn’t Everything You Are e Berlin, que assim como o novo disco do Coldplay insiste em “inovar” com uma pequena inclusão de elementos eletrônicos. Apenas uma velha desculpa para o grupo dizer “veja, nós mudamos”.

Como se não bastasse ainda a sequência instrumental pouco convincente, em seus versos a banda intensifica ainda mais sua velha companheira: a repetição. Basta observar o primeiro single do disco, Called Out in the Dark, que parece se perder em um looping eterno enquanto a o refrão “We are listening/ We’re back blind/ This is your life, this is you time” é repetido à exaustão. Mas se a repetição é o que tem garantido cada vez mais seguidores ao trabalho do Snow Patrol, então só me resta apelar para a mesma estratégia da banda e repetir: Fallen Empires é uma droga, Fallen Empires é uma droga, Fallen Empires é uma droga, Fallen Empires é uma droga, Fallen Empires é uma droga…

 

Fallen Empires (2011, Fiction/Interscope)

Nota: 1.0
Para quem gosta de: Coldplay, Keane e Travis
Ouça: …

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.