Disco: “Fantasea”, Azealia Banks

/ Por: Cleber Facchi 16/07/2012

Azealia Banks
Hip-Hop/Rap/Electronic
http://www.azealiabanks.com/

Por: Cleber Facchi

Azealia Banks

Há tempos o hip-hop norte-americano (e até mesmo o nacional) não vivia um período de tamanha ascendência e compreensão do público quanto o atual. Se parte fundamental desse resultado vem da ocupação do gênero em grande parte das redes sociais ou demais espaços virtuais espalhados pela rede, parte principal vem dos próprios rappers e produtores que tem se superado no lançamento de uma série de memoráveis registros. Artistas que apenas em 2012 fizeram nascer uma pluralidade de clássicos como Habits & Contradictions, 1999, R.A.P. Music ou o ainda recente e amplamente elogiado Channel, Orange de Frank Ocean – talvez o maior e mais imponente exemplar do estilo lançado até agora.

Em meio a essa multidão de novas vozes, veteranos da cena que aos poucos são esquecidos e personalidades masculinas em sua quase totalidade, a presença da jovem Azealia Banks como grande representante feminina desse cenário se revela como um ponto essencial ao novo panorama que aos poucos amplia e define suas formas. Depois de mostrar ao público todo o poderio de sua obra com o lançamento do ótimo 1991 EP há pouco menos de um mês, Banks retorna agora para apresentar a primeira mixtape por ela alicerçada. Fantasea, um registro de 19 faixas em que a nova-iorquina mostra que pode ir muito além de um bem sucedido hit, agrupando uma soma colossal de rimas quentes, versos bem humorados e toda uma variedade de acertos que apenas fazem dela a maior representante mulher dentro de um cenário em geral machista e preconceituoso.

Ao mesmo tempo em que Fantasea mantém todas as características de uma mixtape convencional – com todo a proposta de experimento, faixas que não partilham de uma mesma estrutura e composições dotadas de uma produção pouco profissional -, a temática “marítima” do registro garante a ele concisão e proximidade constante entre as faixas. Como se fosse uma “Pequena Sereia urbana”, Banks recria um universo próprio ao longo do disco, transformando recortes cotidianos na principal ferramenta para garantir movimento e conteúdo ao registro, que cresce substancialmente em virtude dessa constante relação entre algumas das faixas.

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Parte do notável sucesso do registro não está nos versos picantes, na ironia das rimas ou no tom agressivo que esculpe algumas das faixas criadas por Banks, mas nas mãos assertivas da frente de produtores que acompanham a jovem rapper. Em Jumanji, por exemplo, o que seria mais uma simples composição, acaba resultando em uma faixa que cresce de forma substancial quando nos deparamos com os beats e os samples de steel drums (montados por Hudson Mohawke e Nick Hook) que acompanham toda a composição. O mesmo acerto se repete em Nathan, onde a tradicional camada eletrônica que acompanha a artista desde hit 212 ganha novo valor e acabamento nas batidas dançantes do produtor Drums of Death.

Mesmo que o caráter não linear (fruto muitas vezes dessa presença diversificada de produtores) costure toda a execução do disco, Fantasea é de forma inegável um grande concentrado de hits e faixas prontas para catapultar ainda mais a já grandiosa carreira de Banks. Por todos os lados do pulsante trabalho explodem composições como Neptune (em parceria com a rapper britânica Shystie), Aquababe e Us (o primeiro grande achado romântico da rapper), faixas que alcançam um surpreendente acerto comercial sem jamais se envaidecer por exageros típicos de faixas do gênero. Sobra até para que Banks aproveitar um dos espaços do disco agradecendo ao público, fãs e parceiros que há tempos a acompanham na vinheta Azealia Skit.

Flutuando entre Nicki Minaj (menos esquizofrênica) e Missy Elliot (mais humorada), Banks garante um registro descompromissado e atrativo na mesma medida. Mesmo acompanhado de pequenos erros, que devem ser aos poucos solucionados até a chegada do primeiro registro oficial da rapper, Fantasea cumpre com suas funções, garantindo maior relevância à carreira de Azealia e um repertório amplo às sempre intensas apresentações da nova-iorquina. A mixtape, como todo registro do gênero funciona como um preparativo, um espaço para que Banks compreenda todos os acertos de sua obra e tenha tempo o suficiente para se livrar dos prováveis erros que ainda a cercam.

Fantasea (2012, Interscope)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Nick Minaj, Iggy Azalea e Santigold
Ouça: Nathan, Neptune e Jumanji

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.