Disco: “Father, Son, Holy Ghost”, Girls

/ Por: Cleber Facchi 18/08/2011

Girls
Indie/Garage Rock/Alternative
http://www.myspace.com/girls

Por: Cleber Facchi

Noites em que eu passo só
Eu gasto correndo, procurando por você…

Procurando por amor
Procurando por amor
Procurando por amor
Procurando por amor…

Por mais que falar de amor seja uma tarefa “fácil” para qualquer provável músico que nos apresente algum single em sua página no MySpace, ou presenteie seu público com algum vídeo no Youtube, poucos, raros e praticamente inexistentes são aqueles capazes de falar de tão corriqueiro sentimento de forma que ele soe complexo, simples e real na mesma medida. São raros aqueles que conseguem falar de amor como ele realmente é, transmitir os momentos de dor e euforia que circundam tal sentimento não como um produto integrante da industria fonográfica, um registro plástico e mercadológico, mas um sentimento de pura complexidade e muitas vezes algo quase inexplicável. Poucos conseguem falar de amor como Christopher Owens.

Logo que as primeiras composições do artista californiano passaram a se destacar em meados de 2009 – a partir da estreia do registro simplesmente denominado Album -, não foram os acordes sujos ou as referências aos sons da surf music que realmente trouxeram destaque ao trabalho dele e do parceiro Chet “JR” White, mas sim seus dolorosos versos que falavam justamente sobre amor, ou sobre a falta de tão importante sentimento. Entretanto, diferente de tantos outros músicos que por aí insistem me desgastar tal temática de forma muitas vezes ingênua e datada, Owens fez de suas composições um retrato cru daquilo que ele próprio via em seus relacionamentos, um tipo de crueza, que por conta de sua real formatação parecia se encaixar de forma precisa na vida de qualquer indivíduo.

Difícil não ouvir os versos sofridos que eram exaltados pelo músico sem se identificar profundamente com os mesmos. Seja por não querer mais “chorar a vida inteira e querer rir um pouco também”, como clamava desesperadamente através da volumosa Hellhole Ratrace, ou mesmo pela maneira como uma antiga amizade foi lentamente se desgastando, algo retratado em Laura. Owens fez com que cada uma de suas composições se encaixassem precisamente em algum doído momento das vidas dos ouvintes. Seja de forma intencional ou involuntária (prefiro a segunda), o artista havia alcançado em suas letras um aspecto constante procurado por uma infinidade de músicos, um caráter de universalidade.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=ze6rg4ixjOI&ob?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=SuoTjYYqe4c?rol=0]

Embora difícil de ser mantido, tal essencial elemento que trouxe sucesso ao trabalho do músico pôde felizmente ser encontrado logo no ano seguinte, quando o EP Broken Dreams Club foi lançado em novembro de 2010, comprovando que a poesia de Owens não se concentraria apenas através de um único registro. Por mais que seus versos não trouxessem a mesma genialidade e o mesmo olhar sobre os sentimentos humanos – principalmente os mais dolorosos -, a beleza e a originalidade ainda estavam lá, entretanto, já era tempo de mudar. Por mais agradável que fosse o delicado disco de seis faixas, a similaridade com o primeiro álbum do Girls o transformava em um trabalho inegavelmente redundante, algo que felizmente é abandonado agora, com a chegada do segundo registro full lenght da dupla californiana.

Uma grande lisergia amorosa, assim é Father, Son, Holy Ghost (2011, True Panther Sounds), novo álbum do Girls e trabalho em que mais uma vez reforça a imagem de Owens como um dos maiores poetas da atual geração da música alternativa. Logo que Vomit, primeiro single do disco foi lançado na segunda metade de julho, qualquer duvida relacionada ao novo trabalho da banda foi posta de lado, afinal, a epopeia sorumbática arquitetada pelo compositor mostrava que não apenas os versos das composição chegavam renovados – com o cantor buscando novas maneiras de apresentar sua visão do amor ao público -, mas a sonoridade que acompanhava tais lamuriosos textos também se evidenciando de maneira distinta e quase irreconhecível.

Se antes as letras das canções se materializavam em algum canto específico do disco, como se a música apenas acompanhasse os versos declamados por Owens, agora há um tipo de encontro entre o som e os versos, como se as dolorosas palavras e sensações que se abrigam no interior do disco fossem lentamente se misturando ao toque das guitarras. Algo bem representado em Vomit, porém melhor compreendido em músicas como Die, em que a banda deixa de lado suas referências aos sons praieiros da década de 1960 e cai de vez na psicodelia bruta dos anos 70. A musicalidade ora crua e agressiva, ora esparsa e despojada arma uma série de terrenos dentro do álbum, permitindo que brotem desde faixas ingênuas e graciosas como How Can I Say I Love You e Love Life (em que a banda flerta com a soul music) até momentos puramente sombrios, como em Forgiveness.

Diferente dos dois trabalhos que o precedem, Father, Son, Holy Ghost é um tipo de registro mais fechado e instrumentalmente distinto em sua condução, não poupando no uso das guitarras, algo que pode ao mesmo tempo afastar, como aproximar o público da banda. A visão dolorosa e sincera de Christopher Owens, entretanto, permanece imutável – um pouco mais pessimista em alguns momentos -, com o compositor desferindo versos ainda mais amargurados que aqueles que lhe trouxeram destaque ao longo do primeiro disco. Sombrio, apaixonante, doloroso e capaz de intrigar o ouvinte em alguns momentos, o álbum é de longe o maior tratado sentimental de 2011.

Father, Son, Holy Ghost  (2011, True Panther Sounds)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Real Estate, Smith Westerns e Beach House
Ouça: Vomit, Die e How Can I Say I Love You

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.