Disco: “Fazendo As Pazes Com O Swing”, Orquestra Imperial

/ Por: Cleber Facchi 07/11/2012

Orquestra Imperial
Brazilian/Samba/Alternative
http://www.orquestraimperial.net/

Por: Cleber Facchi

Orquestra Imperial

Há cinco anos, quando Carnaval Só Ano Que Vem (2007) foi apresentado ao público, o que parecia ser apenas uma brincadeira da nata cultural carioca se concretizou em um registro bem humorado, mas que vinha tocado pela seriedade e o acerto. Com aspecto de “brincadeira séria”, o registro trouxe em um pequeno condensado de faixas um resgate coeso dos antigos bailes de carnaval do Rio de Janeiro, acrescentando elementos das tradicionais noites de gafieira, o clima dos antigos clubes de jazz e até uma fina relação com a música latina, fazendo da já aclamada Orquestra Imperial um dos projetos mais curiosos e divertidos da nova música brasileira. Logo, como toda festa não pode acabar antes dos convidados irem embora, a big band carioca está de volta, Fazendo As Pazes Com o Swing em mais uma seleção de músicas em que ficar parado, se revela um erro de enormes proporções.

Bem menos descompromissado que o leve trabalho anterior, ao alcançar o segundo disco o grupo – formado por nomes como Nina Becker, Thalma de Freitas, Rodrigo Amarante, Moreno Veloso, Wilson Das Neves, Domenico, Kassin, Rubinho Jacobina, entre outros – parece sentir o peso dos dez anos de formação do projeto. Conscientes de todos os limites – alguns já rompidos – no desenrolar do trabalho passado, ao mergulharmos no presente álbum é clara a transformação entre o que define a trajetória da Orquestra hoje e há poucos anos. Livre da formatação dispersa de outrora, com a chegada do novo disco cada faixa parece servir de escada para a canção seguinte, alavancando um trabalho crescente e livre do individualismo sonoro que abastecia boa parte do projeto anterior.

Sem a formação de um caráter de separação – “músicas de Amarante”, “músicas de Thalma”, “músicas de Becker” -, pela primeira vez a banda parece caminhar de fato como um coletivo, alicerçando um projeto em que todos os componentes se revelam como iguais, ou talvez uma única massa pensante – agrupado óbvio de todos os cérebros esquizofrênicos que gerenciam a obra. Marca clara disso está na execução de A Saudade é Que Me Consola, música que une os vocais de Wilson das Neves com Moreno Veloso, as guitarras quase caricatas (com um toque de Kassin), sem contar no corpo de vozes que crescem significativamente ao fundo, se entrelaçando com instrumentação firme da música. Tudo é grandioso, quente e dançante.

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Manipulado do princípio ao fim pela saudade – contraponto ao romantismo malandro do último disco -, Fazendo As Pazes… traz logo na capa do registro uma marca clara desse sentimento. De camisa verde e amarela e maquiagem do Kiss, surge a figura alegre de Nelson Jacobina, ex-integrante do coletivo que faleceu em maio deste ano – o trabalho é um tributo à ele. Entretanto, tal qual o sorriso largo do compositor na imagem que ilustra o disco, a saudade ganha tom de deboche, como se cada membro da banda e principalmente Wilson das Neves, grande destaque do trabalho, encontrassem em antigas histórias e casos de amor as principais engrenagens que tanto movimentam o registro. Surgem assim pérolas como Cair Na Folia, canção que naturalmente se transformaria em um melancólico e sufocante olhar para o passado, mas aqui trabalhada com sorrisos e certo toque de superação.

Sem jamais se entregar aos erros e possíveis redundâncias que naturalmente pudessem azedar um trabalho do gênero, cada faixa encontrada no decorrer do álbum assume um percurso não óbvio, reflexo da frente de novos compositores que habitam o ambiente criativo da Orquestra. Basta a doce Moléculas, um samba com toque de ficção científica situado na abertura do disco para entender do que se trata a proposta do grupo. Banda que costura aglomeradores de partículas e ruídos eletrônicos com samba e “um suquinho de maracujá”, brincando sempre com a leveza e o bom humor das palavras. Até na canção de encerramento o grupo deixa de lado o que poderia ser um fecho épico e conceitual, tudo isso para entregar a acelerada Mocotó em Tijuana – música que assume a lacuna pop de Supermercado Do Amor, do álbum de 2007.

Sem tempo para descanso, Fazendo as Pazes Com o Swing fecha cada música de forma a encaixar na canção seguinte, como se o ouvinte fosse puxado para a pista de dança ao encerramento de cada composição. Ainda que dez anos tenham se passado desde que a banda começou a se apresentar nos palcos cariocas, o bom humor e o empenho que conduz a produção de cada recente canção ainda se mantém o mesmo – talvez de forma até aprimorada e mais espirituosa. Por mais que a Orquestra Imperial ainda seja um projeto paralelo de cada um dos componentes – o que explica a demora entre um trabalho e outro -, a maneira como o disco se revela faz da Big Band o projeto original de cada colaborador, seja ele um grande ou pouco conhecido nome da música nacional. Assim, já que as pazes com o swing foram feitas, só nos resta dançar.

Fazendo as Pazes Com o Swing (2012, Universal)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Zeca Pagodinho, Do Amor e Curumin
Ouça: Cair Na Folia, Enquanto a Gente Namora e A Saudade é Que Me Consola

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.