Disco: “Feel It Break”, Austra

/ Por: Cleber Facchi 15/06/2011

Austra
Canadian/Synthpop/Electronic
http://www.myspace.com/austra

Há exatos 10 anos os irmãos Karin e Olof Dreijer entregavam ao mundo o primeiro registro em estúdio de sua pareceria musical, o singelo The Kinfe, disco que levava o nome do mesmo projeto inaugurado pelo casal em 1999 e que desbravava de forma renovada as velhas tendências do synthpop e da música eletrônica. Uma década depois e alguns lançamentos fundamentais para a compreensão do cenário alternativo na primeira metade dos anos 2000, as dissidências da dupla sueca continuam surgindo, sendo o mais recente exemplo dessa leva de “filhos” a estreia dos canadenses do Austra.

Por mais que seja possível delimitar o som do trio Katie Stelmanis, Maya Postepski e  Dorian Wolf como vindo das sombrias tendências da década de 1980, as frequências obscuras e a similaridade dos sintetizadores criam um elo inevitável com os sons do duo sueco, ou seus projetos paralelos, como o Fever Ray. Feel It Break (2011), trabalho que apresenta ao mundo o trio originário de Toronto, Canadá e que conta com o aval do selo Domino Records passa longe dos erros ou do que venha defini-los como uma cópia, entregando doses de originalidade visíveis em meio ao conjunto de referências que constituem o disco.

Os anos destinados por Stelmanis ao estudo de ópera e música clássica acabam se revelando como o elemento que dá suporte a grande parte do trabalho. Carregado de efeitos eletrônicos, ecos e sons sintetizados, a voz da canadense (que mantém paralelamente uma bem resolvida carreira solo) brilha de maneira unânime no desenrolar das 11 faixas do disco, prestando a todo momento pequenas homenagens aos grandes nomes da música Gótica e da New Wave dos anos 80, ou mais especificamente Siouxsie Sioux.

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Além da ligação com o The Knife e uma boa soma de sons oriundos da década de 1980, parte de Feel It Break se encontra com os ritmos e artistas vindos dos anos 90 e do novo século. Do primeiro vem as claras tendências ressaltadas por Björk, que em diversos momentos aparece dentro do disco, principalmente quando este pende para um lado mais experimental. Dos anos 2000 vem a efervescência pop do registro e os ritmos eletrônicos, trazendo alguns ecos do que poderia ser um Crystal Castles mais límpido em certos pontos do álbum.

Se a sonoridade obscura é o que predomina ao longo do disco, pelo menos isto não é motivos para que o trio embarque na produção de faixas melancólicas ou de profunda densidade. A fluidez conceitual do trabalho não inviabiliza a possibilidade dele soar fácil e até mesmo dançante, como The Future, Spellwork e Beat and The Pulse conseguem repassar. Diferente de álbuns como W (2011) do Planningtorock ou Stridulum II (2010) do Zola Jesus, que seguem por uma linha bem similar, a estreia dos canadenses parece se livrar dos excessos ou de possíveis experimentalismos para parecer bem mais acessível e até divertida.

Grande parte da sonoridade menos densa que se desenvolve ao longo do disco vem da presença de Damian Taylor como produtor da pequena obra. O músico e engenheiro de som que já trabalhou ao lado de Björk, The Prodigy, UNKLE e Kassabian conseguiu diluir de forma agradável o que o trio vinha desenvolvendo anteriormente – nota-se clara mudança em relação aos lançamentos pré-Feel It Break – proporcionado uma sonoridade ainda carregada de referências, mas que revela um tom menos complexo e mais jovial. Um prato cheio aos interessados nas tendências do synthpop e sem dúvidas uma das grandes estréias de 2011.

Feel It Break (2011)

Nota: 7.1
Para quem gosta de: The Knife, Katie Stelmanis e Fever Ray
Ouça: Lose It

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.