Disco: “Feel Me”, Groundislava

/ Por: Cleber Facchi 04/09/2012

Groundislava
Experimental/Electronic/Beats
https://www.facebook.com/groundislava

Por: Fernanda Blammer

Expressão conhecida de crianças e jovens que vivem no hemisfério-norte, “Ground Is Lava” ou “O Chão é Lava” se refere diretamente a uma brincadeira em que todos precisam sair correndo do chão (“em chamas”) para cima de uma superfície solida e mais resistente. Quem não consegue encontrar esse suposto abrigo acaba “queimado”, perdendo a brincadeira. Dentro desse tom nostálgico e pueril o californiano Jasper Patterson lançou em meados de 2011 o primeiro registro oficial à frente do projeto Groundislava, trabalho que se apoiava nas lembranças instrumentais da década de 1980/90, como sintetizadores e a trilha sonora de alguns videogames, além de toda uma variedade de elementos que convergiam passado e presente em um só registro.

Ainda dentro das mesmas tendências sonoras e conceituais que lhe serviram de base, Patterson mais uma vez regressa aos sons e referências que tanto o inspiram, transformando Feel Me (2012, Friends Of Friends) em uma sequência exata (e aprimorada) do que fora testado no último ano. Situado em algum ponto entre o final dos anos 80 e idos da década seguinte, o produtor encontra mais uma soma de artifícios para estimular o crescimento de um conjunto de novas canções. Visivelmente menos “infantil” do que o trabalho de estreia, com o novo disco o norte-americano se entrega de vez aos experimentos que outrora circundavam a superfície de sua obra, elaborando um álbum que afasta o bom humor e as passagens eletrônicas convencionais para abraçar de vez um som experimental e adulto.

Talvez por conta do que estava em voga durante o período de produção do álbum, em Ground Is Lava (o disco) Patterson dialogava de forma competente com o que corria tanto no Dubstep britânico (e suas variações), como no hip-hop instrumental norte-americano. Em meio a esse encontro de referências – que resultaram em inventivas produções como Pregaming the Rapture, Young Lava e Animal – o produtor conseguiu de alguma forma absorver a essência de cada uma das frentes que tanto influenciavam, estabelecendo um som que mesmo referencial emanava pequenas doses de ineditismo. Ao longo do novo disco, entretanto, vemos uma clara separação das duas vertentes, com o artista se concentrando de forma apurada no que ecoa em solo estadunidense.

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Longe de encarar a mesma esquizofrenia ou os encaixes sombrios que definem a obra de nomes como Clams Casino e outros grandes partidários do gênero, o californiano encontra na cena atual uma tonalidade distinta para os inventos proclamados no decorrer do disco. Logo na abertura do álbum, Cider se junta a uma frente de sintetizadores e referências calcadas na sonoridade 8-Bit para transformar o trabalho em uma versão quase ensolarada do que Holy Other desenvolve ao longo do primeiro (e recente) álbum, Held. Ainda dentro desse tom despojado é possível encontrar em músicas como Cool Party uma espécie de versão mais branda (ainda que entusiasmada) do que costura o trabalho da dupla TNGHT, produtores que provavelmente ficariam satisfeita em se aproveitar das vozes cômicas que passeiam pela canção.

Da mesma forma que no lançamento anterior, em Feel Me o grande destaque da obra está nas parcerias com outros produtores e músicos relacionados ao cenário californiano. Jake Weary, cantor que emprestou os vocais para três composições do último disco, reaparece agora ponderado, assumindo apenas o romantismo da faixa Love Ribbon e deixando para o também conhecido Sholohmo aproveitar os experimentos e todo o clima instável de Bottle Service. Na época apontado como semelhante ao trabalho de Patterson, Will Wiesenfeld (Baths) surge naquela que é uma das melhores músicas do disco, Suicide Mission, estabelecendo uma interessante relação com o colega produtor. Sobra ainda para Clive Tanaka assumir os vocais do synthpop TV Dream e a dupla Houses em Flooded, fechando assim a sequência de boas colaborações que preenchem o álbum.

Ciente das limitações de sua obra, Jasper Patterson expande ao longo do registro um notável relação com a ambient music, favorecendo o crescimento de músicas mais leves e deliciosamente climáticas – quem já está familiarizado com o trabalho de Balam Acab provavelmente vai ficar satisfeito com o disco. Mesmo que sobrem algumas pontas soltas, com o passar da obra o californiano mostra que os acertos e inventos prevalecem, assumindo a condução de um trabalho que para além das bases nostálgicas do primeiro disco revela toda uma diversidade de novas tendências, bastando apenas que você seja capaz de senti-las para que elas se materializem.

Feel Me (2012, Friends Of Friends)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Baths, Shlohmo e Youth Lagoon
Ouça: Suicide Mission, Bottle Service e Love Ribbon

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.