Disco: “Felicidade Interna Bruta”, Eskimo

/ Por: Cleber Facchi 10/06/2011

Eskimo
Brazilian/Rock/Alternative
http://www.eskimosounds.com/

 

Por: Fernanda Blammer

 

Há muito tempo que no Brasil fazer música pop se transformou em quase questão de deboche. E não é por menos. Em meio a tantos lançamentos e “novidades” são poucos os que conseguem fazer de sua música uma porta de entrada para algo não redundante, que se desvencilhe de composições vazias e que possa expor algo substancialmente aproveitado. É justamente dando esse tipo de consistência às suas composições que a carioca Eskimo surge com seu primeiro álbum de estúdio, Felicidade Interna Bruta (2011), um disco que se entrega à fluidez do rock, mas que sabe como brincar com uma linguagem pop e totalmente acessível.

Inevitável é observar a estreia do grupo carioca sem mencionar a figura de Patrick Laplan como seu grande gestor. Ex-baixista do Los Hermanos – o músico também já trabalhou ao lado de bandas Biquini Cavadão, Blitz, Tom Bloch, Marcelo Yuka e MV Bill – o músico desenvolveu seu primeiro trabalho ao lado da Eskimo ainda em 2006, de onde fez brotar um primeiro EP e traçou boa parte dos rumos a serem explorados nessa grandiosa estreia – grandiosa mesmo são 16 faixas em um total de 70 minutos de duração.

No condensado de sons que delimitam o álbum é possível encontrar um enorme mural de referências e ritmos variados. Inserções de tango tomam formas em Bipolar e A las Mujeres les Queda Mal Torear, isso enquanto toques de surf music e hardcore se apoderam de Forte Apache. Contornos de folk music se revelam em No fundo do mar, também invadida por efeitos e samplers de sons referenciais ao mar. Até música eletrônica e samba se encontram em Harbolita, através de um cruzamento que ressalta os distintos ritmos como irmãos.

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Felicidade Interna Bruta aponta (mesmo que involuntariamente) dois elementos que centralizam sua estrutura: o mar e um sentimento de nostalgia. O primeiro se revela logo na capa e no encarte do trabalho, tomado por imagens de veleiros, barcos e claro, o magnânimo oceano. O mesmo serve de elemento para uma série de composições relacionadas, uma sequência de pequenas odes que se revelam em Homem ao Mar, À Deriva, A Curva e No Fundo do Mar, permitindo que trechos como “Por tudo/ Vamos sempre estar juntos/ E poder ser felizes/ Em qualquer lugar/ Até no fundo do mar” se espalhem feito ondas ao longo do trabalho.

Já o segundo elemento é o que transporta ao álbum um fino toque de melancolia embebida em saudade. As recordações voltadas à infância ou a um passado recente vêm expressas de forma bastante intensa em Forte Apache, Canção Para Os Amigos e Cavalo de Fogo. Por outro lado amores desajustados vindos de findadas relações são entregues em Botões (uma das mais belas do álbum) ou na tragi-cômica Harbolita. É dentro desses momentos de maior abatimento que a já bela instrumentação ganha contornos ainda mais radiantes, como na delicada Dama de Honra, ou na canção de abertura Flango Xadlez.

Se inevitável é ligar Felicidade Interna Bruta à figura de Laplan, inevitável também é não elogiar o trabalho do músico em conduzir com maestria todas as faixas do álbum além de assumir a produção do mesmo. Quem também surge como figura central no disco é o vocalista Cauê Nardi, que vem para substituir o posto até então comandado por Henrique Zumpichiatti. Instrumentalmente conciso o dono de letras aprazíveis, a estreia do Eskimo tem tudo para agradar aos interessados pelo bom e velho pop rock há tempos esquecido em terras tupiniquins.

Felicidade Interna Bruta (2011)

 

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Lafusa, Tom Bloch e Los Hermanos
Ouça: Botões

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.