Disco: “Feras Míticas”, Garotas Suecas

/ Por: Cleber Facchi 14/08/2013

Garotas Suecas
Rock/Alternative/Indie
https://garotas-suecas.squarespace.com/

 

Por: Cleber Facchi
Foto: Manoela Miklos

Garotas Suecas

Estou passando por uma uma fase estranha/ Algo novo está preso em minhas entranhas/ E nada que eu fizer vai me deixar nesse lugar”. Os versos que cortam Bucolísmo, uma das 12 novas composições de Feras Míticas, parecem definir com exatidão tudo o que representa a presente fase e as mudanças em torno do Garotas Suecas. De posse do aguardado sucessor de Escaldante Banda, obra que apresentou de forma definitiva o trabalho do grupo em 2010, o quinteto paulistano assume o que parece ser uma fuga do regime de sons festivos e nostálgicos do álbum anterior. Uma busca assumida por maturidade, mas que opta por um caminho menos direto para alcançar esse resultado.

Não se deixe enganar, mesmo que as guitarras tropicais de Manchetes da Solidão, faixa de abertura do álbum, se posicionem de forma a construir uma ponte para o disco anterior, a cada  canção o propósito da banda se apresenta de forma distinta. Dividido entre composições melancólicas, ensaios existencialistas e temáticas de forte apelo intimista, o presente disco cresce como uma completa oposição ao bem sucedido debut, entregando ao público um panorama de descobertas. Trata-se de um disco menos exaltado, a ser ouvido naturalmente com parcimônia, efeito que até amplia a percepção do novo catálogo instrumental do grupo.

Tradicionais elementos do Soul, Funk e a própria relação com o rock da década de 1960 permanecem ativos durante toda a obra. Um esforço de detalhamento constante e que passeia livre pelo trabalho, porém, dentro de um novo significado conceitual. A forte relação com os sons do passado deixa de ser encarada de maneira caricata, manifestação nítida em faixas anteriores, como Banho De Bucha e Tudo Bem. Sem necessariamente se transportar para os anos 1970, o grupo e também o produtor Nick Graham-Smith passam a viver doses aleatórias de referências, mantendo na relação óbvia com o presente um perfume de novidade. Feras Míticas é um exercício criativo de parecer nostálgico, sem necessariamente estar inclinado a isso.

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Desprovido em quase totalidade de faixas dançantes ou talvez mais óbvias, como as que acompanham o grupo desde o começo de carreira, o registro se derrama em doses consideráveis de cuidado e melancolia. O novo enquadramento garante ao grupo a chegada de músicas como Pode Acontecer, morada sorumbática para os vocais de Irina Bertolucci, ou mesmo Eu vou sorrir pra quem é gente boa, canção que praticamente desacelera boa parte dos elementos líricos do disco passado. Quem correr pelo novo álbum em busca de resultado imediato provavelmente irá se decepcionar. O suor se transforma em lágrima, o suíngue flui a passos lentos e a crueza deu lugar ao detalhe.  

Delimitado por um esforço coletivo maior do que em Escaldante Banda, o presente disco cresce de forma significativa não apenas pelos arranjos instrumentais, mas pela presença quase orquestral das vozes. Com cada um dos integrantes assumindo um papel específico no planejamento vocal do álbum, a relação com o Soul e o R&B se intensifica de forma clara, polindo com detalhe músicas como New Country, L.A. Disco e A Nuvem, esta última auxiliada pelas rimas firmes de Lurdez da Luz. Já em Charles Chacal – composição originalmente pensada para o repertório do Titãs na década de 1980, porém censurada pela ditadura -, as vozes surgem como uma espécie de complemento, catapultando o rock sujo da canção e a voz gasta do convidado Paulo Miklos – uma representação do personagem alimentado pela música.

Livre do sintoma de urgência que acompanha o grupo desde os primeiros lançamentos, Feras Míticas força o quinteto paulistano a ir além do básico em uma movimentação constante. O mesmo cardápio de sons tropicais, um exato aproveitamento dos velhos temas, e a mesma instrumentação hábil que guia a banda desde os primórdios, porém, capaz de entregar ao ouvinte algo mais do que canções embebidas pelo groove ou versos de apelo fácil. Crescer tem um significado próprio para o Garotas Suecas, e a julgar pelo resultado do novo álbum, eles estão só começando a entender isso.

 

Feras Míticas

Feras Míticas (2013, Independente)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Autoramas, O Terno e Nevilton
Ouça: Pode Acontecer, Eu vou sorrir pra quem é gente boa e A Nuvem

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.