Disco: “ƒin”, John Talabot

/ Por: Cleber Facchi 21/03/2012

John Talabot
Electronic/Deep House/Balearic Beat
http://www.facebook.com/pages/John-Talabot/319265671669

Por: Cleber Facchi

Não foi necessário muito esforço para que cedo ou tarde a House Music, tal qual ou próxima da apreciada desde findos da década de 1980 tivesse um retorno real e triunfante dentro do panorama musical. A natureza cíclica da música bem como a constante permanência do estilo nas mais distintas evoluções da cena eletrônica, apenas contribuíram para que uma série de artistas preparassem o terreno para que cedo ou tarde pudessem desembarcar com uma sequência de projetos banhados pelo ineditismo ou pela nostalgia. Se ao longo dos últimos quatro ou cinco anos o sintoma geral foi de preparação, finalmente é chegada a hora de (re)descoberta.

Trabalho que melhor representa essa retomada do que foi abandonado (ou banalizado) há alguns anos é ƒin (2012, Permanent Vacation), registro de estreia do espanhol John Talabot e provavelmente o maior tratado da house music em décadas. Honesto e coerente com suas influências, o álbum mergulha fundo na frente musical estabelecida há duas décadas, ora dialogando com as referências naturais da Balearic, ora explorando uma temática mais confortável e naturalmente ambiental. Dentro dessa tapeçaria musical ampla (mas limitada até certo ponto), o produtor promove de maneira suave a construção de um projeto minucioso, não apenas um olhar para o passado, mas o desenvolvimento de um som próprio e moderno.

Climático em seu estado natural, o composto de 11 faixas passa longe das experiências comerciais que artistas relacionados ao cenário Nu Disco como Azari & III, Tiger & Woods e tantos outros conquistaram nos últimos meses. Mesmo quando recorre ao uso de vocais ao longo do trabalho, Talabot passa longe de refrões fáceis ou encaixes acessíveis às massas, algo explícito logo na construção de Destiny, segunda música do álbum e faixa que traz a contribuição do produtor conterrâneo Pional. Em ƒin o que vale é o todo, a maneira como as faixas dialogam e pouco à pouco dão movimento ao trabalho.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=P-CRre92YEM?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=lCCDpmQrlrY?rol=0]

Mesmo orientado de forma a conversar com um público específico ou reduzido, não há como contestar o quanto o trabalho se abre em alguns momentos, permitindo de maneira cautelosa a entrada de indivíduos talvez distantes dos direcionamentos e caminhos percorridos pelo álbum. Dos sintetizadores suaves que integram a pacata El Oeste, passando por Estiu e o tom lo-fi que muito lembra algum pedaço perdido do recente movimento Chillwave, não são poucos os instantes que Talabot proporciona um resultado de maior integração com o ouvinte. Quase um convite para a pista mística que o produtor desenvolve com o passar das faixas.

A maneira sutil escolhida pelo espanhol para dar substância ao disco por vezes toca a Deep House, não de maneira experimental ou intimamente particular como fez Nicolas Jaar no excêntrico Space Is Only Noise (2011), mas de forma a transformar os detalhes e ruídos das canções em bases para uma construção levemente dançante e hipnótica. Dentro dessa tonalidade leve, não são poucos os instantes que algumas das composições do álbum parecem ter escapado do também memorável Where You Go I Go Too (2008), registro de “estreia” do produtor norueguês Lindstrøm, outro verdadeiro interessado na herança acumulada por veteranos da música house ao longo de décadas passadas.

Assim como Lindstrøm, Talabot parece olhar constantemente para o passado, não de maneira nostálgica ou invejosa, mas como um aprendiz a fim de aprimorar suas técnicas. O resultado desse passeio por outras épocas e a incorporação de elementos típicos do presente acabam se transformando no combustível de faixas como Oro y Sangre e Last Land, músicas que tragam o ouvinte para dentro de um labirinto de loopings mágicos, vozes esparsas e toda um conjunto de sensações que lentamente circundam o espectador. Assim como os sons de animais sampleados na faixa de abertura do disco, Depak Ine, cada faixa do trabalho respira, urra e vive, mesmo que em contornos minimalistas ou brandos.

Fin

Ƒin (2012, Permanent Vacation)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Pional, Lindstrøm e Korallreven
Ouça: Destiny, Oro Y Sangre e Estiu

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/35201249″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.