Disco: “Floating Coffin”, Thee Oh Sees

/ Por: Cleber Facchi 23/04/2013

Thee Oh Sees
Garage Rock/Lo-Fi/Psychedelic
http://www.theeohsees.com/

 


Ainda que determinados grupos rompam com essa lógica, a música californiana parece caracterizada pela atuação criativa de indivíduos, e não de coletivos. Propósito que Ty Segall, Tim Presley (White Fence) e John Dwyer (Thee Oh Sees) vêm desenvolvendo em uma das sequências mais produtivas da história recente do rock norte-americano. Responsáveis por projetos de nítida aproximação, a tríade promove desde o final da década passada uma sucessão de obras que brincam com a psicodelia dentro de uma embalagem que passeia pelo Garage Rock de forma descompromissada e caseira. São registros de pequenas experiências lisérgicas capazes de dançar pela mente insana de cada um de seus representantes.

Mais recente lançamento de Dwyer pelo Thee Oh Sees, Floating Coffin (2013, Castle Face) usa de elementos bastante característicos para exaltar o que há mais de uma década orienta as produções do músico de São Francisco, Califórnia. Canções capazes de trilhar pela sonoridade praiana da década de 1960, encontrar elementos do rock clássico dos anos 1970, as cores da psicodelia, a aceleração do punk, até alcançar o clima raivoso (ainda que bem humorado) do rock de garagem para resultar em uma massa de sons camuflados pelo toque sempre caseiro dos ruídos.

Colagens absorvidas pela capacidade do músico em produzir um som que mesmo referencial, encontra na maturidade pop das letras um rumo distinto. Enquanto Segall, Presley e outros representantes da cena californiana parecem tratar de cada álbum como uma representação dos próprios surtos, exageros psicóticos e pequenas esquizofrenias de forma particular, Dwyer consegue ir além, firmando identidade com o ouvinte. Mesmo que as composições do norte-americano permaneçam dentro de um mesmo cenário de exageros, a maneira como o artista trata disso com melodias de forte proposta vendável e guitarras que brincam com entalhes acessíveis impulsionam o álbum para um novo propósito.

Contradizendo a estética cinza e os sons quase amargos do álbum anterior, Putrifiers II (2012), ao alcançar o novo disco do Thee Oh Sees, Dwyer restabelece a sequência que havia iniciado há dois anos. Sustentado pelas mesmas experiências instrumentais que abasteceram cada espaço de Castlemania e Carrion Crawler/The Dream, ambos registros de 2011, o presente disco traz no uso orquestrados das guitarras um exercício de estimulo para manter o ouvinte atento durante toda a obra. Seja pelo uso de sons mais sérios (Night Crawler) ao uso de canções que brincam com a psicodelia em moldes “convencionais” (Strawberries One & Two), a maquinação das distorções e ruídos flui como a linha guia de todo o trabalho.

Movido pela agressividade, mas sem o desprezo pelo uso coerente das melodias, durante todo o disco é possível se apegar a faixas que ocupam cada espaço dos ouvidos. São composições aos moldes de Toe Cutter/Thumb Buster, que mais parece uma faixa irmã dos inventos de Lonerism (2012) do Tame Impala, ou No Spell, capaz de dar chão aos sons flutuantes e praianos do Real Estate em Days (2011). Sobram flertes com o hardcore em Maze Fancier e até experimentos desenfreados durante a formação de Tunnel Time – efeito que se expande com a curiosa capa do registro.

Esbanjando maturidade do ponto de vista musical dos trabalhos passados, Floating Coffin mantém como ponto de transformação a capacidade de John Dwyer em reproduzir um trabalho cada vez mais próximo do grande público. Claro que essa “abertura” da obra do Thee Oh Sees é encarada com parcimônia, visto que em nenhum momento o músico ultrapassa o ambiente desconcertante que ajudou a desenvolver. Talvez com o novo álbum Dwyer tenha encontrado um caminho mais seguro, tanto para que o ouvinte iniciante possa mergulhar no trabalho da banda, como para o próprio músico, encontrando novas formas de perverter a própria obra.

 

Thee Oh Sees

Floating Coffin (2013, Castle Face)


Nota: 8.2
Para quem gosta de: Ty Segall, White Fence e King Tuff
Ouça: Toe Cutter/Thumb Buster e Night Crawler

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.