Disco: “Fôlego”, Filipe Catto

/ Por: Cleber Facchi 11/11/2011

Filipe Catto
Brazilian/Singer-Songwriter/Alternative
http://www.filipecatto.com.br/

Por: Cleber Facchi

 

Filipe Catto é o típico cantor que rompe com qualquer tipo de pensamento prévio em relação a sua obra logo no primeiro instante em que sua peculiar voz chega aos ouvidos do público. Completamente distante do circulo imutável de músicos que condensam seus trabalhos em cima de uma voz forte, ruidosa e áspera, o artista de Porto Alegre converte seu primeiro registro em estúdio em um cardápio de sons carregados de sutileza, utilizando de sua voz nada óbvia e convincente como um elemento de guia por entre uma soma de canções afogadas em beleza, sinceridade e a mais pura comoção.

Embora seja um sincero produto de seu tempo, dialogando de maneira hábil com a tonalidade folk de artistas caseiros que transformam seu quarto em um verdadeiro estúdio musical, Catto está para muito além da obviedade de músicos que diariamente despontam em todos os cantos do país ou mesmo do planeta. Profundo conhecedor da nossa música e um verdadeiro mestre na hora de explorar todas as possibilidades de uma performance ao vivo, o músico respira fundo e transforma Fôlego, seu primeiro álbum, em uma estreia marcada pela força e a emoção de seus versos.

Entre composições próprias marcadas pela beleza e um bem apurado jogo de sons intimistas, Catto mobiliza como grande acerto de sua obra um catálogo vasto de impactantes versões, faixas que aportam em diferentes temáticas da música brasileira e que transitam por de distintas vertentes musicais. Dividido entre um passado recente e toda uma nova geração de compositores, o artista pinta as 15 faixas de seu debut com uma sucessão de enquadramentos vocálicos bem estruturados, provando ser mais do que um mero “Ney Matogrosso mais jovial” ou qualquer outro tipo de nomenclatura que o afaste de sua originalidade.

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Teatral até seus últimos instantes, o cantor vai aos poucos percorrendo uma extensa e dolorosa coleção de faixas marcadas pela dor, solidão e términos de relacionamentos observados sob distintos pontos de vista. Dos desencontros irônicos de 2 Perdidos (do paulistano Arnaldo Antunes) ao jogo de dicotomias melancólicas de Nescafé (originalmente encontrada no debut dos conterrâneos do Apanhador Só), cada faixa explorada ao longio do trabalho vai para além das vias do óbvio, com o músico se entregando visível e profundamente a cada instante do trabalho.

Gravado e produzido de forma a absorver com exatidão a mesma sensação e beleza encontrada nas apresentações ao vivo do cantor, Fôlego transparece a presença dos produtores Dadi e Paul Ralphes, que lentamente vão pavimentando o caminho para que o artista transforme cada canção em um momento da mais pura entrega. Amargurado, porém longe de banalizar a melancolia, Catto mantém seu espetáculo pessoal conciso até seus últimos instantes, convertendo cada faixa do registro em um momento sempre épico e emocionado.

Talvez a pouca multiplicidade de instrumentos dentro do registro – que concentra seus esforços em uma colagem de esparsas guitarras, teclados e piano – acabe por fim saturando o ouvinte após algumas audições, fazendo com que em diversos pontos do trabalho apenas a voz de Catto seja o único mecanismo de sustento do álbum. Embora ainda falte novidade ao músico – um pouco de material próprio como no EP anterior não faria mal algum ao disco -, o cantor parece ciente do que faz, restando somente ao público decidir se estará ele preparado ou não para todas as adversidades e glórias da vida artística.

Fôlego (2011, Universal)

Nota: 7.0
para quem gosta de: Leo Cavalcanti, Thiago Pethit e Ney Matogrosso
Ouça: Nescafé e Saga

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.