Disco: “For Professional Use Only”, AraabMuzik

/ Por: Cleber Facchi 22/02/2013

AraabMuzik
Instrumental Hip-Hop/Electronic/Hip-Hop
http://www.araabmuzikmvp.com/

Por: Cleber Facchi

AraabMuzik

“Você está ouvindo AraabMuzik” anuncia a voz robótica que passeia pelo disco. Dois anos depois de firmar espaço dentro da cena instrumental que toma conta do Hip-Hop atual, a “incerteza” de ouvir um novo álbum do produtor Abraham Orellana é sem dúvidas a garantia de um encontro com as batidas volumosas e o ritmo grandioso que se dissolve com exclusividade no trabalho do artista de Rhode Island. Sem o mesmo compromisso conceitual proposto em Electronic Dream (2011), o produtor norte-americano transforma a mixtape For Professional Use Only (2013, Independente) em um verdadeiro experimento. Duas dezenas de composições recheadas pela mesma intensidade rítmica de outrora, agora acrescidas de uma dose extra de ineditismo e novidade constante.

Espécie de aquecimento para o que o produtor deve finalizar com um novo álbum ainda em 2013 – possivelmente intitulado Electronic Reality -, o presente registro soa como um manual e possível continuidade para aqueles que já conhecem o trabalho de Orellana – proposta quase implícita na capa do álbum. A especificidade da obra, entretanto, não barra a audição de quem pulou o grupo assertivo de faixas que compõem o lançamento passado, pelo contrário, serve como um estímulo e um convite para o universo naturalmente mutável que caracteriza o trabalho do artista. Ainda que se distancie de diversas marcas firmadas no último disco, o produtor transforma cada faixa de FPUO em uma sequência de sons e inventos temperados pela explosão dos ritmos, prova de que mesmo sob nova proposta, a originalidade de Abraham permanece a mesma.

Com o intuito claro de experimentar, ouvir a nova mixtape é como folhear uma sequência de pequenos esboços. Enquanto algumas das composições evidenciam um acabamento suntuoso e detalhes tão ricos quanto o do trabalho passado, outras funcionar sem o mesmo brilho. Muitas das ideias incorporada na execução do atual projeto parecem surgir como sequências adequadas do que foi apresentado há dois anos. Caso de Hammer Dance e da imensa Runway Bass. Já outras como So Good brincam pontualmente com o ineditismo da voz, referência diminuta em Electronic Dream, mas cuidadosamente explorada em boa parte do recente álbum.

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Por se tratar de uma Mixtape, a proposta não comercial e a ausência de linearidade abastecem de maneira natural a construção de cada espaço do disco. Contrariando a concisão dada ao trabalho passado, marca que resultou em uma obra de acabamentos bem definidos e formas instrumentais que se relacionam conceitualmente, cada composição entregue no novo álbum dispõe de uma proposta bastante específica. Enquanto The Prince Is Coming, por exemplo, possibilita uma maior incrementação de batidas no trabalho de Orellana, outras como Turn Tha Tide revelam uma aproximação honesta do artista com o pop – tratamento previamente abordado nos vocais limpos e nas tendências ao dubstep que circulavam em músicas aos moldes de Golden Touch.

Se por um lado a diversidade de percursos instrumentais que caracterizam o presente disco podem afastar novos e despreparados espectadores – com exatas 20 composições é difícil chegar ao fim do álbum sem certo cansaço -, por outro lado uma seleção precisa de algumas músicas do trabalho podem revelar um cenário até mais rico e atrativo do que o trabalhado em Electronic Dream. É o caso de Never Have To Worry, música capaz de manter firme as batidas engenhadas por AraabMuzik, ao mesmo tempo em que a base complexa orienta de forma experimental o futuro do produtor. O mesmo bom desempenho se faz presente em Y.N.R.E e D.R.U.G.S, faixas que diminuem a presença das batidas para investir no uso adequado dos sintetizadores. Talvez a maior surpresa fique por conta de Beauty, um R&B confortável e totalmente imprevisível do ponto de vista do primeiro álbum.

Mesmo que seja impossível prever o que deve orientar os futuros lançamentos de Orellana, ao passear pelo caminho incerto de For Professional Use Only, o produtor deixa escapar uma série de pequenas pistas. De maneira bastante clara, o uso apurado dos vocais parece ser a única garantia do que podemos encontrar em breve, novidade que se bem aplicada pode renovar os sonhos eletrônicos do produtor. Por enquanto, mesmo lidando com um trabalho de acabamento “amador”, AraabMuzik prova que a impecabilidade de sua obra o torna um gigante dentro de um gênero que tem ocupado cada vez mais espaço.

 

AraabMuzik

For Professional Use Only (2013, Independente)


Nota: 7.7
Para quem gosta de: TNGHT, Clams Casino e Rustie
Ouça: Never Have To Worry e Beauty

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.