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Críticas

Sleep ∞ Over

: "Forever "

Ano: 2011

Selo: Hippos in Tanks

Gênero: Dream Pop, Experimental

Para quem gosta de: Pure X e Julianna Barwick

Ouça: Romantic Streams

8.3
8.3

Disco: “Forever”, Sleep ∞ Over

Ano: 2011

Selo: Hippos in Tanks

Gênero: Dream Pop, Experimental

Para quem gosta de: Pure X e Julianna Barwick

Ouça: Romantic Streams

/ Por: Cleber Facchi 10/09/2011

Mesmo abandonada por suas duas companheiras de banda em meados de 2010, Stefanie Franciotti não desanimou e permaneceu confortavelmente instalada em seu universo onírico, perfumado por guitarras cacofônicas e batidas abafadas que ecoavam de tempos em tempos sem uma ordem aparente. Sem abandonar esse mundo de sonhos e emanações instrumentais lânguidas, a musicista através do peculiar nome de Sleep ∞ Over apresenta agora seu primeiro grande tratado musical, Forever (2011, Hippos in Tanks) um registro que mesmo conectado aos grandes representantes do Dream Pop das décadas passadas se concentra em uma fórmula atual e surpreendentemente inspirada.

Contrária ao grande número de artistas que ao longo dos últimos anos vêm tentando acompanhar de forma rigorosa a cartilha instrumental deixada por grandes representantes do dream pop/shoegaze que se lançaram ao final dos anos 80 e princípios da década de 1990 – Galaxie 500, My Bloody Valentine e Cocteau Twins entre as maiores inspirações -,  Franciotti resolveu dar nova cara ao estilo. Embora mantenha as mesmas tapeçarias sonoras, em sua música – ou viagens instrumentais – a norte-americana resolve se cercar de um vasto aparato de elementos eletrônicos e tonalidades Lo-Fi, resultando em algo que, embora não inédito, soa de forma incrivelmente agradável e ambientada de forma hipnótica.

Diferente dos projetos musicais que se ocultam através de excêntricos rótulos como Witch House, chillwave, hypnagogic pop, Glo-Fi, Witchwave ou quaisquer outras categorias que tomaram de assalto a música alternativa – principalmente a norte-americana – nos últimos dois anos, ao ouvirmos a estreia do Sleep ∞ Over encontramos um trabalho parcialmente homogêneo, que mesmo ciente desses novos “estilos” mantém constante sua ligação com o passado. Sujo, etéreo e ainda assim pop em seus limites, o disco parece funcionar como um convite para um mundo imaginário, onde após ultrapassarmos a entrada, torna-se praticamente impossível sair.

Mesmo delineado por uma sonoridade que seria impossível de ser encontrada há 20 anos, Forever repassa a constante sensação de registro perdido, como se fosse uma fita gravada em algum estúdio caseiro ao final dos anos 80 e só agora fosse encontrada. As mais de duas décadas de exposição ao clima instável e diferentes temperaturas é o que parece ter aglutinado densas camadas de poeira e ruídos ao longo da gravação, como se cada vocal distorcido e incompreensível, teclados montados de forma irritante ou qualquer barulho que parece cortar o fluxo das composições funcionasse como uma resposta aos anos de abandono da suposta fita em um ambiente pouco ou nada correto.

A constante aproximação de Franciotti com outros representantes do cenário musical texano – principalmente as parcerias com o trio Pure X – trouxeram inegáveis melhorias para o som e para as composições da cantora. Basta observarmos suas primeiras músicas lançadas ainda em 2010 para termos essa clara noção, faixas que transpiram puro amadorismo perto da condução proposta pelas recentes Romantic Streams, Casual Diamond e Flying Saucers are Real, ambas canções inundadas por uma densidade instrumental ímpar e que apresentam uma cantora madura, que mesmo oculta sob diversas camadas de ruídos e projeções musicais sujas se mantém beirando a genialidade do princípio ao fim.

Solitário, Forever traz Stefanie Franciotti assumindo sozinha toda a instrumentação e a produção do trabalho, o que de certa forma explica a constante sensação de proximidade entre as faixas. Lembrando muito as paisagens musicais apresentadas por Julianna Barwick em seu também etéreo The Magic Place, a estreia do Sleep ∞ Over passa longe de se evidenciar como um trabalho acessível ao grande público – ou mesmo aos alternativos de plantão. Cada faixa do álbum carece de uma audição cuidadosa, para que só assim possamos tirar o máximo proveito de tão delicado trabalho.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.