Disco: “Foundations of Burden”, Pallbearer

/ Por: Cleber Facchi 28/08/2014

Pallbearer
Metal/Doom Metal/Progressive
http://pallbearerdoom.com/

Por: Cleber Facchi

Em julho, quando entrevistado para a seção Show No Mercy, o baixista Joseph D. Rowland resumiu as extensas faixas de Foundations of Burden como uma interpretação do próprio Pallbearer sobre o pop tradicional. Composições de dez minutos – três vezes a duração de uma música comercial -, ou como ele próprio resumiu em tom jocoso: “a nossa maneira de escrever canções pop”.

Por mais sarcástica que seja a resposta de Rowland, ao finalizar a audição do segundo álbum do quarteto de Little Rock, Arkansas, é justamente essa sonoridade “pop”, tão ironizada pelo instrumentista, que se permanece em eco na cabeça ouvinte. Acessível quando comparado ao som de outros representantes do Doom Metal – antigos ou atuais -, o disco é mais do que uma extensão do material lançado em Sorrow and Extinction, de 2012, mas uma versão refinada e melódica de toda a essência do grupo.

Porção menor dentro de todo esse resultado, é justamente a delicada Ashes a faixa que resume toda a postura da banda com o presente discos. Letra melancólica preenchida por harmonias sutis, arranjos limpos, bateria isolada e confissão. Diferente de outras obras do gênero, sempre atentas à desconstrução das vozes (guturais) e bases (caóticas), há na estrutura que preenche todo o registro uma postura de excelência, como se cada ato, verso ou mínima fração instrumental da obra fosse saboreada pelo grupo.

Naturalmente detalhista, o álbum incorpora a mesma estrutura densa lançada no disco de 2012. De forma a ocupar todos os espaços da obra, as guitarristas Brett Campbell e Devin Holt tecem extensas bases atmosféricas e texturas tomadas pela lisergia – conceito evidente nas melodias arrastadas de Foundations. A diferença em relação ao disco passado está na sutileza dos temas instrumentais, condição expressa nos solos melódicos de cada música (vide Watcher In The Dark), como na voz doce de Campbell, acolhedor não apenas na efemeridade de Ashes, mas em toda a porção descomunal do trabalho.

Ainda que o rótulo de “Doom Metal” defina com naturalidade a sonoridade do álbum, bastam os acordes iniciais de Worlds Apart para perceber o (novo) posicionamento do quarteto. Mais uma vez instalado na década de 1970, o coletivo pela primeira vez deixa de se concentrar apenas na obra do Black Sabbath – principal influência da banda -, encontrando refugio nos experimentos por vezes climáticos do Krautrock, além de esbarrar em referências “menores” da rock psicodélico/progressivo – como o Hawkwind em Space Ritual (1973). De fato, Foundations of Burden sobrevive como uma obra de (re)interpretação, colecionando vocalizações melódicas, temas e até solos característicos que emulam a estética lançada há quatro décadas. Uma postura que em nenhum instante minimiza o esforço autoral do coletivo.

Toda essa pluralidade de referências dissolvida entre as canções faz de Foundations of Burden um trabalho amplo e potencialmente aprazível, capaz até de alcançar o público antes alheio ao cenário proposto pelo quarteto. A mesma postura comercial parece assimilada e compartilhada por Deafheaven, Wolves in the Throne Room e outros coletivos próximos ao grupo de Arkansas. Uma prova de que o caráter “pop” exaltado por Joseph D. Rowland vai realmente além de um comentário sarcásticos, mas a representação honesta de todo um catálogo de obras cada vez menos “restritivas”, mas nem por isso incapazes de provocar a interpretação do público.

Foundations of Burden (2014, Profound Lore)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Lycus, Deafheaven e Wolves in the Throne Room
Ouça: Foundations, Watcher In The Dark e Ashes

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.