Disco: “Four”, Bloc Party

/ Por: Cleber Facchi 09/08/2012

Bloc Party
British/Indie Rock/Alternative
http://blocparty.com/

Por: Cleber Facchi

Desvendar o que há de mais íntimo na vida de uma pessoa na maioria dos casos se revela como um erro de proporções incalculáveis. Curioso notar que foi exatamente isso que aconteceu em 2008, quando sob o título de Intimacy o quarteto britânico Bloc Party trouxe à tona o que havia de mais íntimo, experimental e difícil em suas composições. Considerado o mais complexo e instável trabalho da banda (até agora), o disco serviu para marcar a espiral decrescente que o quarteto iria enfrentar no decorrer dos seguintes meses, tendo como ápice uma série de apresentações ruins, incluindo uma confusa passagem pelo Brasil que culminou no fatídico caso do play back no VMB daquele ano.

O péssimo desempenho do grupo praticamente os obrigou a uma pausa. Em constante produção desde meados de 2003, quando a banda foi formada, a pausa serviu para que os integrantes dessem formas a projetos há tempos acumulados ou que simplesmente pudessem descansar. Enquanto o vocalista Kele Okereke investiu em uma insossa carreira solo, o guitarrista Russell Lissack resolveu se aproximar de uma sonoridade mais pop, apresentando em 2010 o primeiro álbum do Pin Me Down (banda em parceria com a cantora inglesa Milena Mepris). Todavia, o fracasso de ambos os projetos fizeram com que o Bloc Party fosse novamente ressuscitado, e é dentro dessa maré pessimista que a banda faz nascer o quarto álbum de estúdio, o aguardado Four.

Diferente dos dois primeiros discos da banda e principalmente do experimental Intimacy, o presente tratado é um registro que valoriza o crescimento constante das guitarras e referências intencionalmente sujas. Logo que a faixa de abertura So He Begins to Lie tem início, a presença ativa da guitarra está lá, servindo de linha guia para a profusão de sons que se estendem até o encerramento do trabalho, com We’re Not Good People. Embora essa tendência já fosse clara no primeiro disco da banda (e principalmente na explosão de sons de Helicopter e Like Eating Glass) os distanciamentos melancólicos (A Weekend in the City) e eletrônicos (Intimacy) nos dois registros seguintes arrastaram a banda para um universo novo. Entretanto, quem espera por novidade terá de esperar por um novo disco ou talvez por uma real transformação na banda.

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Por mais que o novo disco seja um claro regresso ao que fora testado pelo Bloc Party em idos de 2005, muito do que alimenta o álbum está nas referências posteriormente adquiridas pelo quarteto, o que contribui para a formação de um disco estranhamente similar e de quase autoplágio. Em Octopus, primeiro single do disco, vê-se claramente o quanto a banda flutua entre o rock acelerado da estreia e os encaixes eletrônicos do álbum de 2008, preferência que se estende ainda a outras diversas músicas do disco. Em Truth, por exemplo, a métrica eletrônica (que por vezes esbarra na fase solo de Okereke) serve de base para que o pós-punk climático de A Weekend in the City ganhe uma “sobrevida”. A tentativa de soar maior e diferente é naturalmente falha, afinal, em vários momentos a banda parece simplesmente repetir diversos acertos do passado de maneira pouco ou nada convincente.

Em alguma medida, Four lembra muito os primeiros trabalhos do Weezer passado o hiato pós-Pinkerton. A completa falta de direção, a necessidade em se apoiar em todos os possíveis gêneros e a incapacidade de repetir os acertos do passado tornam o trabalho do Bloc Party confuso mesmo aos velhos seguidores do quarteto – e ao que tudo indica até para os próprios integrantes do grupo, como acontece com a banda de Rivers Cuomo. Falta direção aos versos pobres (e desesperados), é falha a participação do produtor Alex Newport, e acima de tudo: falta bom senso ao quarteto. Nada explica a existência de músicas como Coliseum (um blues-rock-farofa que flerta com o Hard Rock) e V.A.L.I.S. (que bem lembra os desajustes pop do Pin Me Down).

Mesmo que a recente obra do Bloc Party até consiga enganar desavisados ou ouvintes que ainda desconhecem a totalidade da discografia do grupo, Four não consegue ocultar seus defeitos ao longo de duas ou mais audições. Longe de ao menos soar como uma tentativa de regressar aos acertos do passado, o novo disco ecoa como uma cópia dolorosa, falha e gananciosa, comprovando mais uma vez que das bandas surgidas no começo do novo século, poucas ainda conseguem manter a boa forma.  Se antes havia esperança de que o grupo pudesse retornar com um possível bom disco, hoje vê-se claramente que isso está muito longe de acontecer, afinal, todo hiato é pouco para o quarteto britânico.

Four (2012, Frenchkiss)

Nota: 4.0
Para quem gosta de: Kele, Pin Me Down e Editors
Ouça: Day Four

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.